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Brasil Geração Mimiógrafo

Por que o Brasil poético fala tão pouco da espetacular Ana Cristina César?

Ana C. se destacou com sua voz poética singular, que mesclava introspecção, lirismo e uma certa dose de ironia, na época cliherizada de “geração do mimiógrafo”

16/10/2024 às 09h42 Atualizada em 16/10/2024 às 10h28
Por: Mhario Lincoln Fonte: Redação do Facetubes
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INTROSPECÇÃO POÉTICA/RÁPUIDOS EXCERTOS DA LATÊNCIA DE ANA 'C'

Redação do Facetubes

Ana Cristina Cruz Cesar foi uma destacada poetisa, crítica literária, professora e tradutora brasileira, mais conhecida como Ana Cristina Cesar ou simplesmente Ana C. Sua obra e sua persona são consideradas emblemáticas da chamada 'geração mimeógrafo', um movimento literário que emergiu na década de 1970 e se caracterizou pela produção e distribuição de poesia de forma alternativa, fora dos circuitos editoriais tradicionais. Esse movimento, também conhecido como "poesia marginal", congregou jovens poetas que buscavam uma expressão mais autêntica, livre das amarras comerciais e institucionais, resultando em uma poesia mais direta, coloquial e experimental.

Ana C. se destacou por sua voz poética singular, que mesclava introspecção, lirismo e uma certa dose de ironia. Sua obra, embora não vasta, é intensa e marcada por uma forte carga emocional, explorando temas como amor, solidão, identidade e a própria natureza da escrita. Além de sua poesia, Ana Cristina Cesar também deixou contribuições significativas como crítica literária e tradutora, enriquecendo o diálogo cultural entre o Brasil e o mundo.

Críticas sobre o trabalho poético de Ana Cristina Cesar:

  1. Nélida Piñon, renomada escritora brasileira, expressou admiração pelo trabalho de Ana Cristina Cesar, destacando a profundidade e a originalidade de sua poesia. Piñon ressaltou que Ana C. tinha uma "voz poética autêntica e inovadora", capaz de capturar as nuances da experiência humana com sensibilidade e inteligência. A escritora enfatizou que a obra de Ana Cristina Cesar permanece relevante e inspiradora, servindo como um importante referencial para as novas gerações de poetas brasileiros. A obra de Ana Cristina Cesar foi elogiada por sua capacidade de articular de forma poética as inquietações e dilemas da vida contemporânea. Os críticos destacaram a habilidade da poetisa em explorar a complexidade das relações humanas e a busca por identidade em seus textos, utilizando uma linguagem que mistura o cotidiano com o lirismo. Sua poesia é vista como um reflexo de sua própria vida, marcada por uma intensidade e uma honestidade emocional que tocam profundamente os leitores.

Essa crítica, ex-cathedra, ressalta a importância de Ana Cristina Cesar não apenas como uma voz marcante da 'geração mimeógrafo', mas também como uma poetisa cuja obra continua a influenciar e a inspirar a literatura brasileira contemporânea.

 

EXCERTOS:

"O último adeus I"

"Os navios fazem figuras no ar / escapam as cores - os faunos. / Os corpos dos bombeiros bailam / no brilho dos meus pés. / Do cais mordo / impaciente / a mão imersa / nos faróis."
 

casablanca
Te acalma, minha loucura!
Veste galochas nos teus cílios tontos e habitados!
Este som de serra de afiar as facas
não chegará nem perto do teu canteiro de taquicardias…
Estas molas a gemer no quarto ao lado
Roberto Carlos a gemer nas curvas da Bahia
O cheiro inebriante dos cabelos na fila em frente no cinema…
As chaminés espumam pros meus olhos
As hélices do adeus despertam pros meus olhos
Os tamancos e os sinos me acordam depressa na madrugada
feita de binóculos de gávea 
e chuveirinhos de bidê que escuto rígida nos lençóis de pano


– Ana Cristina Cesar, em “Poética”. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.

 

a teus pés

Olho muito tempo o corpo de um poema
Olho muito tempo o corpo de um poema
até perder de vista o que não seja corpo
e sentir separado dentre os dentes
um filete de sangue
nas gengivas.


– Ana Cristina Cesar, “A Teus Pés (1982). 

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Raimundo FonteneleHá 2 meses Barra do Corda Maranhão Por que não falam de Ana e sua poesia? Primeiro por ser mulher. Segundo porque a maioria dos nossos críticos e articulistas são homens. Simples? Tem mais: era uma inadaptada, fora da lei e da ordem de um sistema social, político e cultural mediúnico que diz bem o que é o Brasil e seus macunaímas. Se foi, segundo sua concepção de vida e de mundo, em boa hora. “Chega!”, deve ter pensado/dito antes de atirar-se no vazio.
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZHá 8 meses Escolha um EstadoLima (2003) afirma que no vácuo do borbotão que fez brotar o Antroponáutico, surge o LABORARTE – Laboratório de Expressões Artísticas; 11 de outubro de 1972, pessoas envolvidas com dança, música, teatro, literatura e artes plásticas o criaram no sobrado de numero 42 da Rua Jansen Müller, onde está até hoje. Entre os inquilinos, Cesar Teixeira, Tácito Borralho, Josias Sobrinho, Saci Teleleu, Murilo Santos, Sergio Habibe, Regina Telles, Nelson brito, Aldo Leite, e muitos outros.
Kewysson Lopez, poeta e crítico.Há 8 meses Cidade do México/de (Imperatriz-MA).Para quem conhece a obra de Luis Augusto Cassas vai entender porque a construção desse poeta é uma gestação: Olho muito tempo o corpo de um poema Olho muito tempo o corpo de um poema até perder de vista o que não seja corpo e sentir separado dentre os dentes um filete de sangue nas gengivas. (Este é o jeito de fazer poesia séria. Não acredito em que não pense, apague, refaça, deixa pra lá, pega no outro dia, uma construção poética. Parabéns, Ana. Parabéns Cassas).
Lucianna BarbosaHá 8 meses Teresina PIAcho que essa poesia lembra Salgado Maranhão.
Jurandi Pedrosa BelchiorHá 8 meses São Paulo, poeta da esquina.Essa me ganhou: Te acalma, minha loucura! Veste galochas nos teus cílios tontos e habitados! Simplesmente uma metáfora de incrível bom gosto e melancolia.
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