O MAESTRO – UM 'CONSERTO' A CADA ESQUINA
Edomir Martins de Oliveira
Hoje, quem o vê em carro “Mercedes”, último modelo, começa a admirá-lo por mais essa vitória em sua vida de médico.
Apesar dessa conquista, vem-lhe à mente com muita frequência os dois fuscas que possuíra. E então começa a recordar desde o seu casamento.
Viajara para sua lua de mel, em um fusca que adquirira de segunda mão, e que apesar do revendedor lhe dizer que ele era o segundo comprador daquele veículo, deu-lhe muito trabalho durante a viagem.
Como estava o casal em lua de mel, tudo foi diversão e eles achavam muita graça pelos incidentes acontecidos. Tudo era encarado como diversão chegando mesmo a afirmarem que os fatos seriam lembrados durante toda a vida e sempre seriam esses fatos encarados como divertidas lembranças.
Mas chegara a hora de encarar o diuturno da vida. Voltaram para São Luiz, ao final da lua de mel e então começaram a pensar em fazer a vida a dois. Ele cansara de viver de emprego de favor político que seu pai sempre arranjara. Decidira que iria ser médico e seria bem-sucedido. Na infância sempre sonhara em ver-se em sala de cirurgia, a dizer a uma equipe que o assistia: bisturi, gaze, esparadrapo, tampão e tudo que precisava para o trabalho cirúrgico.
Começou então a frequentar um cursinho para fazer o vestibular para medicina. Já chegava de emprego de favor. Prestado os exames foi aprovado. Por enquanto ficaria desfrutando do emprego político que vinha exercendo. Vendeu o fusca pois seria uma despesa a menos. Compraria um carro que lhe desse menos despesa e fosse um pouco menos velho.
Ganhando pouco, agindo com toda a prudência para não faltar o básico para sustentação do lar, compraria novo fusca usado, que com todos os defeitos, que apresentasse, ainda lhe daria condições de acompanhá-lo até o final do curso.
Logo apareceram os primeiros defeitos. Sempre que abastecia o veículo com combustível, tinha que completar o óleo do motor, pois havia um vazamento que não pudera arrumar porque era caro, e ele não podia fugir do seu orçamento com a manutenção regular do carro.
O fusca era ainda daqueles antigos que os vidros baixavam ou subiam manualmente. Ainda guardava na mente um incidente ocorrido quando um motociclista, que vinha prazerosamente em seu passeio matinal e ele saia de um plantão médico, aproximou-se do seu carro e lhe falara alguma coisa gesticulando muito, que ele teve que abaixar o vidro do carro para ouvir o cidadão. Ele procurava onde fora parar a maçaneta da porta que não encontrara, pois caíra e quando finalmente achou e conseguiu abaixar o vidro, foi para escutar um palavrão, onde o condutor dizia que o carro estava freado em cima do seu pé. Felizmente fora na ponta da bota do cidadão, sem maiores consequências.
A dificuldade foi o motor do carro pegar novamente, pois fora freado bruscamente, amedrontado que o proprietário estava vendo alguém com gestos de zangado, descido da moto que estava parado no sinal, ao seu lado.
Embreagem, também precisava ser controlada no tempo da marcha, pois no pedal, não atendia. Precisava de reparo urgente que ele não pudera fazer. Ao suspender o tapete do carro foi surpreendido com um defeito que ainda não tivera visto.
O chão do carro estava com um buraco e só assim descobriu porque, quando passava em uma poça de água, sentia respingar alguma coisa nos seus pés.
Quando o motor era desligado noite, para pegar novamente pela manhã, era na base da manivela, pois a bateria precisava ser mudada e ainda não tivera dinheiro para fazer a troca. Mas, era um carro que com todos esses problemas, vinha atendendo suas necessidades de estudante de medicina. Por esses problemas todos era chamado de “maestro” pois a cada momento havia um defeito novo. Só que esse maestro era um que regia “conserto” com “a letra s”. Em cada esquina apresentava um defeito.
Mas algo ruim mesmo ainda estava a caminho. O veículo, de há muito vinha dando sinais de que os freios não estavam bons. Até que um belo dia eles faltaram em cima de um sinal e ele embora apelasse para o freio de mão, ainda assim não freou a tempo. Resultados furou um sinal vermelho e veio a desagradável multa como resultado.
E um belo dia em que recebeu a visita de um irmão consanguíneo veio o episódio do fim do fusca. Quando estacionava o carro tinha sempre o cuidado de deixar estacionado com a marcha primeira engatada. Nesse dia com a euforia da chegada do irmão, estacionara esquecendo de deixar a marcha engatada e o resultado foi triste. Ele e o irmão ainda foram para a frente do carro tentando segurá-lo a força dos seus músculos. Não houve como detê-lo. Foi de encontro a um muro derrubando-o integralmente, e o carro ficou em tal estado que teve que ser vendido como sucata.
Eram esses dois fuscas que lhe voltavam à mente sem- pre. O primeiro que acompanhou a lua de mel,
que ainda pode ser vendido apesar dos transtornos, e este segundo, seguindo o mesmo destino, até ao final do curso de medicina. Deles não se esqueceria jamais.
Terminada a residência médica, passara a ser estudioso, não mais estudante. Era um profissional no exercício de atividades médicas que logo aproveitou a oportunidade que lhe apareceu para contratação dos seus serviços profissionais. Fora contratado para prestar serviços médicos, por um prefeito e se deslocara para o interior do Estado. Passado o primeiro ano, resolveu vir para capital. Estabeleceu-se e teve muito sucesso.
Agora teve condições de comprar um Mercedes, carro de luxo, mas, constantemente estava a lembrar dos dois fuscas que possuíra. Saudosas lembranças!!!!