Sábado, 05 de Outubro de 2024
11°

Chuviscos

Curitiba, PR

Mundo Discurssões Sociais

Plataformas digitais de música: uma faca de dois gumes? Há muito que se discutir sobre isso

O jornalista Mhario Lincoln, músico e compositor, mostra um excerto da entrevista de Ivan Lins, um dos maiores nomes da MPB, em entrevista a Marcelo Tas, sobre esse assunto. (Vídeo anexo).

21/09/2024 às 10h47 Atualizada em 21/09/2024 às 21h25
Por: Mhario Lincoln Fonte: Redação do Facetubes
Compartilhe:
Arte: MHL
Arte: MHL


A crescente predominância das plataformas de streaming de música tem imposto desafios significativos aos músicos profissionais. Ivan Lins, renomado artista brasileiro, chamou atenção para uma realidade angustiante em entrevista recente, concedida a um dos grandes apresentadores de TV, Marcelo Tas, no programa PROVOCA, da TV Cultura, em 30/04/2024. 


Disse ele: "para ganhar 1 real, minha música precisaria ser reproduzida cerca de 20 mil vezes nas plataformas de streaming". Essa estatística por si só ilustra a disparidade entre o lucro gerado para as plataformas e o retorno financeiro obtido pelos músicos. Vamos explorar as desvantagens dessa situação e quem realmente se beneficia.


A equipe de pesquisas de dados da redação do Facetubes (www.facetubes.com.br), caiu em campo para analisar e realisar cada ponto que diz respeito a essas estatísticas pertinentes à  economia (ou não) do Streaming. Afinal, quem Lucra?


O modelo de negócios das plataformas de streaming, como Spotify, Apple Music e Deezer, é baseado em uma assinatura mensal ou na monetização por meio de anúncios. A receita gerada é então dividida entre a plataforma, gravadoras e artistas, mas a proporção destinada aos músicos é incrivelmente pequena. De acordo com um relatório da Music Business Worldwide (2020), o Spotify paga uma média de US$ 0,003 a US$ 0,005 por stream. Isso significa que, para um artista receber 1 dólar, suas músicas precisam ser reproduzidas cerca de 250 a 300 vezes. No entanto, após a distribuição entre gravadoras, produtores e outros intermediários, o músico individualmente acaba com uma fatia ainda menor.


A análise de críticos como David Turner, especialista na economia da música digital, destaca que o modelo de streaming favorece, sobretudo, as grandes gravadoras, que negociam contratos mais vantajosos e detêm os direitos de distribuição da maioria dos artistas. Como Turner observa, "as plataformas lucram ao acumular imensos catálogos, mas os artistas individuais, especialmente aqueles fora do círculo das grandes estrelas, enfrentam uma batalha constante para obter compensações justas" .

 

A Desvantagem para Músicos de Médio Sucesso
Para músicos de médio sucesso, essa realidade pode ser devastadora. Muitos artistas dependem do streaming como uma das poucas formas de divulgação acessível, especialmente em um cenário pós-pandemia, onde os shows ao vivo, que eram uma fonte considerável de renda, tornaram-se menos viáveis. No entanto, o streaming requer uma quantidade imensa de reproduções para que se possa viver apenas da música.
Essa situação cria uma pressão adicional para que os músicos não só criem boas músicas, mas também invistam pesadamente em marketing digital, na tentativa de aumentar o número de streams. Essas plataformas possuem algoritmos que promovem faixas baseadas em sua popularidade, o que significa que músicos que não conseguem obter um grande número inicial de views, podem ficar presos em um ciclo onde sua música nunca atinge o público desejado.

 

Estatísticas e Dados Reais
Uma pesquisa realizada pela CISAC (Confederação Internacional das Sociedades de Autores e Compositores) em 2022 revelou que apenas 12% dos artistas registrados nesse tipo de divulgação conseguem viver exclusivamente de sua música. Isso mostra que, apesar do alcance global oferecido pelas plataformas, a maioria dos artistas ainda enfrenta barreiras econômicas significativas.
Além disso, um estudo de 2019 da Rolling Stone constatou que os principais 1% dos artistas geram cerca de 90% de toda a receita das plataformas de streaming. Isso significa que há uma concentração enorme de lucros entre artistas extremamente populares, enquanto músicos de médio porte e independentes lutam para ganhar visibilidade.

 

O Papel das Gravadoras
Embora as plataformas sejam o foco principal das críticas, as gravadoras também desempenham um papel importante nesse cenário. Grandes gravadoras têm poder de negociação sobre as plataformas e muitas vezes acabam garantindo uma parte maior dos lucros para si. Como resultado, o músico que assina com uma gravadora muitas vezes recebe apenas uma pequena parcela do que sua música gera nessas postagens. Músicos independentes, por outro lado, têm a liberdade de manter uma porcentagem maior, mas sem o suporte financeiro e de marketing das gravadoras, eles podem encontrar dificuldades em alcançar uma base de fãs significativa.
A crítica de Thom Yorke, líder da banda Radiohead, é contundente nesse sentido. Yorke disse em uma entrevista à revista The Guardian que "o Spotify é apenas a última tentativa desesperada das velhas gravadoras de controlar o streaming" (*) . Ele argumenta que as gravadoras estão se aproveitando da transição para o digital para aumentar seus lucros enquanto continuam a explorar os artistas.


(*) A entrevista de Thom Yorke está no The Guardian. Ele criticou o Spotify, chamando-o de "deu ao The Guardian. Ele criticou o Spotify, chamando-o de "a última tentativa desesperada das velhas gravadoras de controlar o streaming". Essa entrevista foi amplamente discutida na mídia, incluindo fontes como a BBC e a NME.

 

Qual é a Solução?
Para que os músicos de médio sucesso possam prosperar em um ambiente digital, há a necessidade urgente de uma reformulação das políticas de compensação das plataformas de streaming. Uma abordagem sugerida por alguns críticos é o modelo de pagamento por usuário (user-centric payment system), no qual os artistas seriam pagos com base no que cada usuário escuta, em vez de um modelo de pool agregado onde toda a receita é dividida entre todos os artistas de maneira desigual. Isso reduziria a disparidade entre os grandes artistas e os músicos independentes, distribuindo melhor a receita baseada na real audiência de cada músico.


Esta realidade exige uma mobilização não só dos próprios músicos, mas também dos consumidores, que podem apoiar mais diretamente seus artistas favoritos comprando suas músicas, assistindo a shows ao vivo ou adquirindo merchandising, formas que geram uma receita mais justa. O modelo atual, como apontou Ivan Lins, é desproporcional e deixa a pergunta: até quando o músico ficará com a menor parte do lucro?


Abaixo, veja o comentário do músico e editor sênior da Plataforma do Facetubes, jornalista Mhario Lincoln, sobre o assunto:

* O conteúdo de cada comentário é de responsabilidade de quem realizá-lo. Nos reservamos ao direito de reprovar ou eliminar comentários em desacordo com o propósito do site ou que contenham palavras ofensivas.
500 caracteres restantes.
Comentar
Alcina Maria Silva AzevedoedoHá 3 semanas Campinas SPÉ um absurdo e triste ouvir isso. A cada dia o artista se decepciona mais e mais, com o retorno financeiro do seu trabalho. Viver da boa arte são poucos! Tem que se alicersar em uma outra profissão e, fazer da arte um robby. Vamos portanto enfatizar a boa música e valorizar os seus criadores, divulgar, antes que o mundo acabe e, percamos a alegria de podermos ouvir e cantar boas músicas.
Pedro Sampaio Há 3 semanas Fortaleza Ce Avançam tecnologias dando esperanças de que quem produz e faz acontecer o universo da música e que se possa vislumbrar melhores chances. E de repente o que vemos é o massacre geral e de repente o que parecia impossível a gente passa a ver as dificuldades colocando na vala comum até mesmo que alcançou status de medalhão no cenário como Ivan Lins que se destacava também na condição de compositor produtor editor e detentor, salvo engano de selo de gravadora. Imagine o pobre PEQUENO no cenário atual
JulHá 3 semanas LeardiniIncrível Mhario. A pirataria continua. (Jul Leardini)
Armando Gonçalves (Capilé)Há 3 semanas Brasília Distrito FederalUm dos artigos de grande bom senso que já li sobre isso Mhario Lincoln. Parabéns ao Facetubes por essa coragem de tocar nessa ferida.
Marcinha Lopez Ex-BichoHá 3 semanas São Luís MaMuito boa as colocações. Eu gostaria de saber a opinião de Wellington Reis sobre essa assunto, teu parceiro, Mhario.
Mostrar mais comentários
Mostrar mais comentários
Ele1 - Criar site de notícias