NE: o poeta Marcio Gleide é dono de uma das personalidades mais fortes entre os poetas paranaenses da atualidade, que eu tenho vivência. Mesmo sendo de alma humilde. Isso me traduz responsabilidade, autênticidade e coragem para pensar e compartilhar suas ideias, sem o intuito de ganhar aplausos ou forçar reconhecimento público. Essas virtudes, em contrapartida, literalmente atraem mais admiradores, mais leitores e mais fãs incondicionais ao redor de seu universo pacífico. Vejam os números: no último trabalho publicado aqui no Facetubes, o poema de Gleide obteve 782 acessos, o que confirma minha tese sobre essa extraordinária alma do bem desse grande confrade. (MHL).
Como sempre, fico bastante feliz quando as confreiras e confrades enviam suas obras para publicação no Facetubes. Por exemplo, impossível não resenhar esse poema; mais entranhas perpendiculares da indivisível maneira de prospectar o entorno lírico, de Marcio Gleide, APB/Cadeira 56, patroneada por Olinto Simões: trata-se do poema "Surras da Vida". No fundo, explora o conceito de transformação pessoal através das dificuldades, usando as "surras" como uma metáfora para os desafios e adversidades que moldam o caráter humano.
A narrativa é forte, sensível, quase uma catarse. Porém, celebra o sofrimento e as provas como elementos fundamentais para o crescimento, tanto físico quanto emocional e espiritual. Esse tema remete a uma visão filosófica clássica, onde o sofrimento é visto como um instrumento essencial para o autodescobrimento e a construção da virtude.
Por isso, chamo para a mesma mesa alguns representantes do estoicismo (minha corrente preferida da filosofia), especialmente no que diz respeito à acessibilidade das dificuldades da vida como um caminho para a sabedoria e a fortaleza moral. Através das “surras”, os indivíduos são forjados em algo maior – gigantes, heróis, homens de grande determinação. Essa visão de transformação pelo sofrimento ecológico, através do pensamento de Sêneca, aliás, defende que a adversidade é uma oportunidade para praticar a virtude, especialmente a resiliência e a força interior.
Outro aspecto interessante é a gratidão expressa no poema, apesar das dificuldades, uma atitude que também pode estar relacionada ao pensamento de Michel de Montaigne no final do século XV. Montaigne refletiu sobre a capacidade humana de crescer com as provas e se aprimorar moralmente ao abraçar as experiências, mesmo as mais duras, com uma perspectiva de autoconhecimento.
Destarte, o poema "Surras da Vida" do meu querido confrade Marcio Gleide revela uma visão estoica do mundo, onde o sofrimento não é apenas "sofrimento", mas algo necessário para o crescimento pessoal e espiritual. As "surras" que a vida oferece, como descritas por Gleide, são vistas como oportunidades de superação e aprendizagem, formando uma visão otimista e grata em relação à experiência humana.
Leia, abaixo, a íntegra do poema:
SURRAS DA VIDA
As surras que transformam meninos em gigantes.
Que surras levou Bruce Lee?
Que fez brotar sua essência mitológia.
Que surras levou o valente Zumbi?
Com a morte anunciada, mas a quis... Livre!
Que surras fez crescer tanta determinação no torneiro,
Nordestino pobre, barbudo e sem um dedo que virou presidente.
Surras
Surras que a vida me deu,ainda da, graças a Deus.
Que surras levou meu irmão Marlon?
Que tornou-se o homem da casa com 14 anos catando sucatas,
Arrastando seu carro de rodas de ferro e caixa de geladeira.
Depois um dos melhores vendedores de sua empresa.
Surras
Que surras levou meu Shifu?
Que lhe trouxe tanta clareza da vida que nos molda,
Como são moldados os rochedos.
Com a violência dos golpes das ondas.
Surras
Que nos fez sofrer.
Que nos ensinou a força.
Que nos fez agir e reagir.
Que nos fez chorar e sorrir.
Surras
Surras que levamos em vida.
Que nos faz odiar...que nos faz amar!
Que nos faz respeitar, se abraçar, se unir.
Grato a Deus!
Por este dom que me deu.
De escrever pensando no bem.
E relembrar de verdadeiros e bons amigos.
J.Max,R. Mendes,Neneu,Barone,Piqueno,Dil,Pisca,Professor e tantos...e tantos!
Jaz Gutão, Gordinho e tantos... e tantos!
E tantos com quem já muito sorri.
Marcio Gleide Nunes Dos Santos
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