
O Prêmio Nobel de Literatura deste ano foi concedido à escritora sul-coreana Han Kang "pela sua intensa prosa poética que confronta traumas históricos e expõe a fragilidade da vida humana", segundo o comitê do prêmio. A autora, amplamente reconhecida por sua habilidade de explorar a interseção entre violência, sofrimento e a busca por identidade, construiu uma obra literária que transcende as fronteiras culturais e nacionais, permitindo que suas histórias profundamente enraizadas no contexto coreano encontrem ressonância universal.
Han Kang se destacou no cenário internacional principalmente com seu romance A Vegetariana (2007), uma obra que retrata uma mulher que decide parar de comer carne, desencadeando uma série de consequências na vida de sua família e revelando camadas de opressão, abuso e resistência psicológica. O livro é marcado por uma narrativa fragmentada, dividida em três partes, cada uma explorando diferentes perspectivas, desde o marido insensível até a irmã mais empática. A crítica literária frequentemente elogia a prosa poética de Han Kang, sua habilidade de capturar a tensão entre o corpo e a mente, e de transformar pequenas decisões pessoais em metáforas poderosas para a desintegração do sujeito em face das pressões sociais.
Em particular, A Vegetariana tem sido alvo de análises críticas devido à sua abordagem sobre o corpo feminino como um campo de batalha. Segundo a crítica literária britânica Alexandra Alter, a obra de Han Kang desafia as expectativas convencionais da sociedade coreana sobre as mulheres, utilizando o vegetarianismo da protagonista como um símbolo de resistência silenciosa contra o patriarcado e a violência estrutural. A obra, apesar de não ser explícita em seus temas feministas, toca em questões fundamentais sobre a autonomia feminina e o controle social sobre o corpo da mulher.
Outro romance da autora, Atos Humanos (2014), também mereceu grande reconhecimento. Nele, Han Kang revisita os horrores do Massacre de Gwangju, um dos momentos mais traumáticos da história moderna da Coreia do Sul, quando forças militares reprimiram brutalmente manifestações pró-democracia em 1980. Através de uma narrativa visceral e fragmentada, que alterna entre diferentes pontos de vista, a autora expõe o impacto profundo da violência estatal e a dor coletiva de um povo em luto. A crítica apontou que a obra possui uma "prosa devastadora", com uma narrativa que insiste em não deixar o leitor se distanciar do sofrimento dos personagens.
Han Kang receberá, além de uma gratificação em dinheiro, uma medalha e um diploma, em uma cerimônia com a presença do rei sueco, Carlos XVI Gustavo. A autora se junta a um grupo seleto de escritoras que foram agraciadas com o Nobel de Literatura. Na história, apenas 17 mulheres foram laureadas com a honraria, o que torna sua vitória ainda mais significativa em termos de representatividade feminina na literatura mundial.
Críticos internacionais têm elogiado Han Kang não apenas por sua capacidade de confrontar traumas históricos, mas também pela sutileza com que explora a fragilidade da vida humana, a vulnerabilidade do corpo e as dores do silêncio. Sua obra deixa uma marca duradoura na literatura contemporânea, ampliando as discussões sobre memória, identidade e resistência em um mundo marcado pela violência.
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