Raimundo Fontenele
O ano era 1967. Eu havia chegado para minha segunda temporada em São Luís, a primeira durou só um ano, o de 1962, como aluno no Seminário de Santos Antônio.
Voltava, então, sob as bênçãos do Padre Manoel e a proteção do Deputado Luís Rocha, para uma segunda estadia que se estendeu de janeiro de 1967 a junho de 1976.
Fomos avisados, acho que em março de sessenta e sete, eu e a Socorro, irmã de d. Terezinha Rocha, esposa do deputado, que fôssemos dia tal à Secretaria de Educação para fazermos um teste para preenchimento de vagas de emprego.
JuLembro que o teste foi apenas de português e datilografia, do qual me saí muito bem e em seguida me vi nomeado como Assistente Administrativo da Secretaria Estadual de Educação, o ato assinado e referendado pelas altas autoridades de José Sarney e José Maria Cabral Marques.
Para um caboclinho de 19 anos, como na música de Belchior, também sem parentes importantes e vindo do interior, aquele papel com a assinatura do Governador representava para mim uma grande conquista e uma enorme façanha.
Eu tinha que me tornar alguém na vida, um nome pelo menos com honra haveria de carregar, uma vez que ao ser aconselhado pelo padre reitor a deixar o Seminário (uma forma de expulsão mais branda), uma de minhas tias vaticinara que “esse aí não vai ser nada na vida”.
Pois ali estava eu subindo o primeiro degrau, que me colocava diretamente no terceiro andar do Edifício BEM onde funcionava a Secretaria de Educação. E como um desses caras que dizem que tem estrela fui designado pra trabalhar na Assessoria de Planejamento que funcionava ao lado do Gabinete do Dr. Cabral Marques e também muito próxima do Departamento de Cultura, naquela época comandado por quem? quem? quem? Justamente pela grande figura que desejo homenagear no centenário de seu nascimento, festejado nesse ano de 2024, Dr. Domingos Vieira Filho.
Uma das formas de se constatar o quanto a questão cultural, e a própria Cultura em si, foram relegadas ao abandono pelos nossos governantes é você tentar, por exemplo, saber quem foi Domingos Vieira Filho.
Olhem só o que encontrei no Google:
“Domingos Vieira Filho nasceu em São Luís do Maranhão, a 25 de setembro de 1924 e faleceu em 11 de setembro de 1981. Jornalista, estudioso de assuntos africanos e folclorista. Pertenceu ao Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, Diretório Regional de Geografia (Conselheiro Técnico), Comissão Nacional de Folclore (seção regional). Catedrático da Faculdade de Filosofia de São Luís do Maranhão. Na Academia Maranhense de Letras ocupou a Cadeira nº 16, fundada por Correia de Araújo, cujo patrono é Raimundo Correia”. Só isso. Apenas isso. Nem os livros que ele publicou são citados.
Num site de vendas há referência aos seus livros Breve História das Ruas e Praças de São Luís, A linguagem popular do Maranhão, Folclore do Maranhão, Catulo Gonçalves Dias e Coelho Neto (em parceria com Ribamar Carvalho e Ruben Almeida).
Nos poucos anos que convivi com ele, vi o Dr. Domingos como um homem devotado exclusivamente aos livros, à cultura, lendo, pesquisando, escrevendo, ensinando, formando e informando.
Merece a reedição urgente de todos os seus livros, que levem seu nome e seu trabalho para os estudantes das nossas escolas e universidades.
A memória e a inteligência são os únicos retratos vivos de um povo, são o seu legado mais rico que pode ser transmitido de geração para geração. Isto se os responsáveis pela gestão da cultura e da educação não forem omissos e incompetentes ou, o pior, incapazes de fazerem algo que não seja por si e para si mesmos.
Honremos o centenário do Dr. Domingos Vieira Filho que dá nome a centro educacionais e a escolas, e ao Centro de Criatividade e Cultura Popular, esse, pode se dizer, cria do poeta Valdelino Cécio que o dirigiu por alguns anos. Mas que deve estar também jogado às traças e ao infortúnio como todas as nossas instituições culturais se encontram nos últimos anos.
Raimundo Fontenele
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