Redação do Facetubes c/pesquisa no Google
O Brasil perdeu um de seus maiores expoentes do piano: Arthur Moreira Lima faleceu nesta quarta-feira (30), aos 84 anos, em Florianópolis, onde residia com sua família. Lutando contra um câncer no intestino desde o ano passado, o pianista deixa um legado inestimável para a música brasileira e internacional.
Arthur Moreira Lima não foi apenas um pianista virtuoso; foi um desbravador que percorreu os rincões do Brasil levando uma música erudita e popular a plateias diversas. Seu projeto "Um Piano pela Estrada" é emblemático dessa missão: com um piano na carroceria de um caminhão, ele cruzou o país, democratizando o acesso à música e aproximando o público de repertórios que iam de Chopin a Ernesto Nazareth.
Em 1975, Moreira Lima lançou um álbum duplo interpretando peças de Ernesto Nazareth, compositor que, até então, não gozava de grande popularidade. O encontro entre a pianista e a obra de Nazareth não foi apenas ocasional; foi um marco que resgatou e celebrou a sofisticação da música brasileira. Como observou o compositor erudito Ronaldo Miranda, então crítico musical do "Jornal do Brasil".
Formado por mestres como Lúcia Branco—que também ensinou Nelson Freire e Tom Jobim—, Marguerite Long em Paris e Rudolf Kehrer em Moscou, Arthur Moreira Lima tinha todas as credenciais para se tornar um intérprete de referência nos grandes circuitos internacionais. Seus prêmios nos prestigiosos concursos Frédéric Chopin (segundo lugar em 1965) e Tchaikovsky (terceiro lugar em 1970) atestam sua excelência técnica e interpretativa. Entretanto, Moreira Lima optou por um caminho singular, priorizando a conexão com o público brasileiro. Sua permissão permitiu transitar entre o clássico e o popular, sem perder a profundidade artística. Ele acreditava que a música era uma linguagem universal que deveria ser amplamente compartilhada.
Sua relação com o choro é outro capítulo significativo de sua carreira. Ao interpretar e gravar obras de compositores como Pixinguinha e participar como jurado em concursos de choro, Moreira Lima contribuiu para a valorização e difusão desse gênero que é parte fundamental da identidade musical brasileira.
Sua discografia é vasta e inclui gravações de compositores como Chopin, Liszt, Villa-Lobos e o próprio Ernesto Nazareth. Destacam-se também suas colaborações com artistas como Elomar e Ney Matogrosso, que evidenciam sua capacidade de dialogar com diferentes estilos e gerações.
Arthur Moreira Lima deixa um legado que transcende a técnica pianística; ele encarnou o ideal do músico comprometido com a arte e com seu país. Sua passagem pelas estradas do Brasil, levando música a lugares onde ela relatou chegou, é um testemunho de sua visão de que a cultura deve ser acessível a todos.
HOMENAGEM
A vice-presidente nacional da Academia Poética Brasileira, poeta Clevane Pessoa, escreveu:
DespedIDA
Segue em Paz ,
Artur Moreira Lima!
Os Anjos e Santa Cecília,
acompanham - te
Daqui da Terra
Até lá em cima,
para além do esperado
o desconhecido...
Leve sem peso carnal
ascendes:
uma bolha de sabão
irisada e lúdica...
Sim,sei que levavas
muitíssimo sério
tua vocação
Musical...
Sei que partiste
com o coração
a solfejar...
Os pássaros canoros
acompanham tua Ascenção...
Os avoadores
versejam despedidas...
Deixas um "saudadário", aqui na Terra, no Brasil- Natal...
Mas bem sabes que a boa Música
é sempiterna.
Que ninguém morre de fato
quando se é lembrado!...