*Editoria do Facetubes
Em 1994, a cantora Alcione, ícone da nossa música e sambista consagrada, foi entrevistada no programa "Batacotô", da TV Brasil para expressar uma visão tão poderosa quanto suas canções. Em uma declaração forte e envolvente, ela destacou a importância fundamental da música negra na formação cultural mundial e em especial no folclore brasileiro, questionando com impacto: "Como é que ia ser o Brasil sem escola de samba? Como é que ia ser o Brasil sem um tambor de crioula?" Suas palavras ecoaram para além das fronteiras da televisão e até hoje ressoam, reafirmando a influência inegável e indispensável da cultura afrodescendente no cenário musical global.
Alcione enfatizou que a música negra é a força vibrante que impulsiona muitas das mais queridas manifestações culturais do Brasil. “Sem a contribuição negra, o som que ouvimos e amamos hoje simplesmente não existiria da mesma forma”, disse a artista, acrescentando que esse legado é motivo de profundo orgulho para toda a comunidade.
Essa influência transborda as fronteiras brasileiras, alcançando a cultura mundial, que, segundo a cantora, seria radicalmente diferente sem as contribuições afrodescendentes. Como ela destacou no programa, "a presença e a musicalidade dos negros trazem um sabor" inigualável que faz da música um reflexo vívido da alma e da resistência de seu povo.
Ao longo de sua carreira, Alcione sempre ressaltou que o samba e outras manifestações como o maracatu, o tambor de crioula e o coco são fontes de identidade e resistência do povo negro brasileiro. Esses estilos não apenas moldaram a cultura nacional, mas inspiraram artistas ao redor do mundo.
O Brasil, com suas raízes musicais afrodescendentes, conquistou um espaço irreversível no cenário artístico internacional. As palavras de Alcione, de 30 anos atrás, ainda são urgentes e provocadoras, convocando a sociedade a reconhecer a força cultural negra que impulsiona o país.
Essa perspectiva é compartilhada por outros grandes nomes da música negra internacional. O cantor e compositor americano Stevie Wonder, em entrevista ao The Guardian em 2012, também havia afirmado: "A música negra sempre foi o coração e a alma das minhas canções, e sem ela, não seríamos a sociedade que somos hoje".
Assim como Alcione, Wonder confirma que a música negra não é apenas uma, mas um elo transformador. Da mesma forma, Quincy Jones, produtor e arranjador que trabalhou com lendas como Michael Jackson, destacou em entrevista à Rolling Stone que a música negra é “a espinha dorsal de quase tudo que se ouve nas paradas hoje”. Jones enfatizou que o ritmo, a melodia e a harmonia presentes na música negra foram essenciais para o nascimento do jazz, do blues e do rock.
Alcione também fez questão de lembrar no "Batacotô" a importância de grandes nomes da música negra americana, como Aretha Franklin e Mahalia Jackson, cujas vozes atravessaram gerações. Ela não estava sozinha em sua admiração. Em um depoimento emocionado ao The New York Times em 2018, o trompetista Wynton Marsalis comentou: “Aretha é o reflexo de nossa ancestralidade, de tudo o que sofremos e conquistamos. Ela personifica a luta e a beleza de sermos quem somos.”
A relevância, portanto, desse legado está presente em cada estilo musical que a cultura brasileira absorve e transforma, seja no samba, no afoxé ou no maracatu. Alcione trouxe ao centro do debate uma questão essencial. Como seria o Brasil sem o legado de sua população negra? Para ela, a resposta é clara: o Brasil perderia uma parte inestimável de sua identidade, de sua essência. E, mais do que isso, o mundo perderia sua vitalidade.
Assim, as palavras de Alcione se misturam ao legado de uma geração de artistas negros que transformaram a música global e o fizeram com um senso de missão e orgulho. “Se não houvesse os negros, a música no mundo não existia”, afirmou Alcione, marcando um ponto definitivo. E, ao ouvir suas palavras, entendemos que esta influência não é apenas histórica, mas viva, pulsante e essencial para a cultura, tanto no Brasil quanto além de suas fronteiras.
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