*Mhario Lincoln
Numa, então, chocante critica social à realidade social do Brasil na década de 1940 - pasmem - 1940, o poeta Manoel Bandeira escreveu uma das páginas mais sombrias da humanidade: "o Bicho".
Trecho:
"Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus,
era um homem".
Passaram-se algumas décadas. E o "bando" de Humanos na mais baixa linha da pobreza alcançou números estrondoso no país.
Em pleno século XXI (2021) o "Brasil de Fato" publicou um estudo mostrando 36,7% da população brasileira nessa faixa de vida.
Ou seja se na época, em 2021, a população era 214,3 milhões, então, em cálculo básico, a população abaixo da linha da pobreza é de 41.973.100. Lá atrás , Bandeira nunca imaginaria que aquele flagrante se tornaria pontual.
Análise do texto e do poema "O Bicho" de Manuel Bandeira:
Manuel Bandeira, no seu poema "O Bicho", retrata de forma crua e impactante a desumanização provocada pela pobreza extrema. Ao descrever um homem revirando o lixo em busca de comida, o poeta utiliza a metáfora do "bicho" para evidenciar como a miséria pode reduzir o ser humano a condições sub-humanas. A essência da mensagem reside na denúncia das desigualdades sociais e na crítica à indiferença da sociedade diante da fome e da miséria que assolam parte significativa da população.
A poesia, nesse contexto, torna-se uma ferramenta poderosa de denúncia e conscientização. Bandeira não só expressassa uma realidade individual, mas dava voz a milhões de pessoas que vivem em condições semelhantes. Mesmo com o passar das décadas, o problema da pobreza permanece alarmante, como demonstrado pelos dados de 2021, onde 36,7% da população brasileira vive abaixo da linha de pobreza, totalizando aproximadamente 41.973.100 pessoas.
A ARTE COMO VEÍCULO DE ALERTA!
Diversos poetas e pensadores reconhecem a importância da arte como instrumento de transformação social. Bertolt Brecht (poeta e draamaturgo) acreditava que a função da arte era provocar a reflexão e estimular a mudança. Em seu ensaio "Pequeno Organon para o Teatro", Brecht afirma: "A arte não é um espelho para refletir o mundo, mas um martelo para forjá-lo" (Brecht, 1949). Essa visão reflete a ideia de que a poesia pode e deve abordar questões sociais, presentes como agente de denúncia e acontecimentos de transformações.
O filósofo francês Jean-Paul Sartre também abordou a responsabilidade do escritor diante das injustiças sociais. Em "O Que É a Literatura?" (1948), Sartre argumenta que "o escritor é, em sua época, a consciência infeliz, seu papel é o de reflexão as tensões e contradições de seu tempo" (Sartre, 1948). Essa perspectiva reforça a importância de obras como “O Bicho”, que expõe realidades muitas vezes ignoradas ou negligenciadas pela sociedade.
Apesar dos clamores poéticos e das denúncias artísticas, a persistência da pobreza destaca a necessidade de ações concretas e eficazes para combater as desigualdades. A arte cumpre seu papel ao trazer essas questões, mas cabe à sociedade como um todo, incluindo governos e instituições, promovendo mudanças que possam alterar esse cenário.
*Mhario Lincoln é presidente da Academia Poética Brasileira.
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Referências:
Brecht, B. (1949). Pequeno Organon para o Teatro . In Escritos sobre Teatro . Suhrkamp Verlag.
Sartre, J.-P. (1948). O que é a literatura? Gallimard.
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