Nota do editor Mhario Lincoln
A nave Terra, seguindo o destino,
dança bailarina no manto do espaço,
como sonho do espírito. (RR).
Gosto demasiado ler Rogério Rocha. E por que eu gosto de lê-lo? É simples! Os insights de Rocha, geralmente me fazem recordar alguns livros que li e vivenciei (poucos me trazem essa sensação). Por exemplo, neste poema onde ele celebra o Natal com foco na espiritualidade, resgatando (ufa!) a essência do amar, da compaixão e da redenção, fez-me voar até "A Descoberta do Mundo", de Clarice Lispector.
Fui ao "Google" e colhi a informação, primeiro, que era mesmo de Lispector a frase que eu cito abaixo; e, segundo, que integrava uma publicações dela que reunia uma coletânea de crônicas publicadas originalmente no "Jornal do Brasil”, entre 1967 e 1973. Precisava confirmar o que ela escrevera para ratificar o que eu geralmente sinto quando leio Rogério. Então, na mosca. Para ela, o ato de escrever era um movimento existencial profundo, uma espécie de investigação de si mesma e do mundo.
Aí fui atrás do trecho que havia lido em algum lugar. Claro que achei e reproduzo: “(...)Escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível...escrever é estranho a si mesmo(...)”. Muito bom. Mas o que me leva a viajar na complexibilidade da produção lírica de Rogério, é o fato dele entregar-se ao seu silêncio para compor ideias. Isso eu acho extraordinário. Quase uma meditação esperando as famosas Mensagens Akáshicas lhe tomarem, de assalto, os sentidos.
Na verdade, aprendi essa significância da meditação com Thomas Merton, escritor católico do século XX. Monge trapista da Abadia de Gethsemani, Kentucky, poeta, ativista social e estudioso de religiões (olha o Google aí de novo). Ele costumava dizer que o silêncio, muitas vezes associado à momentos sublimes (como o Natal para poucos, como Rogério), "é um convite à introspecção e à conexão com algo maior".
É essa a visão que eu tenho do autor do poema "NA NOITE DO CRISTO", onde ele dialoga com o leitor, a fim de se deixar entender pela importância do Natal, enquanto símbolo puro da natividade; algo assim puro e silencioso. Contudo, profundamente transformador. Mostra um cenário de Paz, recordações e serenidade.
É esse poema que agora eu vou publicar em sua íntegra, logo abaixo. Vem exatamente à propósito da matéria que publiquei ontem, paradoxalmente, sobre a aversão de muitas pessoas ao Natal e às festas de fim de ano, assinada pela competente Flora Guilhonm. “Por que temos aversão às Festas Natalinas e de Fim de Ano?”
(Se quiser ler, ainda está disponível em: https://www.facetubes.com.br/noticia/6007/flora-guilhonm-qpor-que-temos-aversao-as-festas-natalinas-e-de-fim-de-ano-q).
Portanto, caro confrade e amigo, filósofo e poeta Rogério Rocha. Você é e será sempre bem-vindo ao Facetubes. A SUA casa de interação.
Mhario Lincoln é presidente da Academia Poética Brasileira.
O POEMA DE ROGÉRIO ROCHA
NA NOITE DO CRISTO
Na noite do Cristo, suaves serenatas,
como que saídas das estrelas,
derramam em meus ouvidos
a sinfonia da aurora.
No mesmo céu, outro tempo,
constelações cintilam e o vento
arranja uma dança nova,
um grande jogral de afeto.
A nave Terra, seguindo o destino,
dança bailarina no manto do espaço,
como sonho do espírito.
Na lareira do meu coração
há poesia em chamas,
já estou vendo,
e arrepios de emoção
crescendo
em imagens que atravessam
memórias de menino,
com o aroma dos versos
mais doces, dos abraços
de carinho.
A face do meu pai faz vigília
em minha mente,
aflora com força,
reaparece,
caminha comigo entre as lutas
que travo com o mundo,
trazendo o alento
de não me deixar sozinho.
Num presépio de sonhos,
um olhar de luz, minha mãe,
minha tia, meu filho,
a esposa e a família,
são o sentido, são esteios,
são os albergues dessa noite,
forças a preencher a vida.
No real imaginado, o instante
se desenha, e o coração-poeta,
na noite do Cristo, também faz festa