Amor Incondicional
*Mhario Lincoln
Comecei a observar Cristiane Lago, enquanto poeta, a partir das matérias e insights que nossa amiga comum, Silvânia Tamer, me mandava pelo WhatsApp. Logo percebi a sensibilidade lírica, a singeleza de seus versos, algo bem difícil de escrever hoje em dia, diante dessa explosão de coisas publicações, na ânsia de chegar ao grande público digital.
Com Cristiane, no entretanto, pude notar sua responsabilidade em costurar o texto lírico, com base exclusivamente na essência do que estava sentindo exatamente naquela hora em que escrevia. Isso me levou imediatamente a pedir licença para Mário Quintana e citar, dele, algo que me tocou muito na época em que li. Diz o seguinte, esse lampejo de sensibilidade:
“Pai: a mão que sustenta
e o sorriso que encoraja.”
Nessa síntese poética, revela-se a essência de um verdadeiro pai: presença firme, porto seguro, amparo constante. Um homem que é rocha e ternura ao mesmo tempo, orientando e acalentando, erguendo muros de proteção ao redor de quem ama.
Foi assim que Cristiane Lago, em sua singeleza, conseguiu retratar o pai como anjo e companheiro eterno nos versos que acabo de ler. Em sua poesia, respira-se a saudade, mas também a gratidão. De forma delicada, ela relembra com muito carinho a inesquecível imagem dele e me fez compreender a grandiosidade de um amor paterno que a morte, nem o tempo, farão esvair:
“Um dia ele se foi.
Sua presença é forte.
Sua imagem, constante".
Nesses versos, cada palavra carrega o peso das memórias e a leveza da admiração. É quase como um retrato emoldurado pela saudade, com pinceladas de amor e respeito incondicionais. Cristiane, assim, celebra o pai que partiu, mas que permanece vivo na lembrança — presença que, mesmo em ausência física, continua a guiar, a sustentar e a encorajar.
Sobre um pai com tantas virtudes — correto, honesto, amigo, companheiro — não há definição que baste. Todo pai carrega em si um universo de significados e exemplos.
Porém, são as pequenas atitudes que o transformam em herói silencioso. Se Mário Quintana viu no pai “a mão que sustenta e o sorriso que encorajado”, Cristiane Lago completou o retrato ao pintá-lo como “um anjo que me espera”, confirmando o caráter divino que habita na paternidade.
Assim, por estes versos, entendo que um bom pai - e eu sou pai e tenho uma filha e uma neta - antes de tudo, tem que amar a essência delas, compreendê-las em seu conteúdo, ajudá-las na busca por seus sonhos (logicamente, só delas), como se fosse, antes de pai, um companheiro-amigo.
A Bíblia, em Lucas 15:20, fala não só em perdão. Mas em "amor condicional", isto é não apenas oferecer perdão ao filho, mas também incentivos e ajudá-los a "reencontrar seus sonhos e seus caminhos, como um verdadeiro amigo e companheiro de jornada".
É isso que Cristiane desenha em seus versos porque seu pai foi, em vida, um homem bom, que expressou esse amor incondicional. Torna-se explícita nessa lírica cristiniana a ideia de que, mesmo depois de partir, o pai lhe permanece — tal qual um anjo — ao seu lado.
E se a saudade chega, sem problemas porque a saudade também acalanta, faz lembrar todos os anos onde foram compartilhados inúmeros momentos da vida de ambos, fortalecendo esse amor incondicional, entre pai e filha.
Profundamente emocionado,
Mhario Lincoln
Presidente da Academia Poética Brasileira.
O POEMA
Anjo
(In memoriam de Neuton Coelho dos Santos, exemplo de vida).
Cristiane Lago
Um dia ele se foi.
Sua presença é forte.
Sua imagem, constante.
Um homem,
um anjo,
meu pai.
Por que só agora vejo?
Podia ter mais de ti.
Podia ser mais pra ti.
Agora, resta uma dor forte,
cortante.
Viveu muito.
Vivi pouco pra ele.
Sinto saudades.
Prefiro pensar que tive:
um amigo presente,
um companheiro brilhante,
um exemplo emocionante,
uma força.
Agora, um anjo,
que me espera.