Linda Barros, escritora e atriz, membro da Academia Poética Brasileira.
Em um mundo tão globalizado e tecnológico, ainda é incomparável (pelo menos para mim) folhear um livro, sentir o cheiro de suas páginas, sejam livros novos ou velhos. É indescritível o que se pode encontrar dentro das páginas – amareladas ou brancas – dos livros. Encantamento talvez seja a palavra mais adequada para descrever a sensação da descoberta de outros mundos, de coisas, de cheiros, de cores, e de características de personagens (fictícios) que só conhecemos através do que nos conta um autor
“Por que a leitura continua sendo a ferramenta básica para a nutrição cerebral humana?” Essa pergunta da Orientadora Ocupacional britânica Dra. Flora Guilhonm, que provavelmente não se tem uma resposta pronta, ou pode haver inúmeras respostas. Partindo dessa premissa, o texto de hoje, indico aos pequenos e grandes devoradores da leitura das páginas (amareladas ou não) de livros que nos impulsionam a conhecer mundos mágicos, irreais e reais, estou falando de literatura infanto/juvenil, esse gênero que muitos ainda confundem como sendo leitura apenas crianças, mas não o verdadeiro leitor, esse, jamais se equivoca em sua busca constante por conhecimentos.
Vou indicar na mais humilde das intenções, mostrar que dentro das páginas que muitos que seriam indicadas só para os pequenos, deixam marcas profundas nos leitores adultos. A seguir, encaminho você leitor, a fazer uma viagem literalmente por as páginas férteis de autores que escrevem como e para crianças. Ei-los:
MEU PÉ DE LARANJA LIMA
Vou começar por esse clássico da literatura brasileira, de José Mauro de Vasconcelos, editado pela primeira vez em 1968, tem como personagem central o pequeno Zezé, menino de imaginação fértil, como toda criança de sua idade (6 anos nesse caso). As emoções vividas no imaginário do pequeno personagem é o pano de fundo da obra. Apesar das mazelas infantis em que vive, como lamentos, alegrias e tristezas, Zezé não se deixa abater, viaja com sua inquieta imaginação.
A obra de Vasconcelos foi tão popular e fez tanto sucesso, que foi adaptada para o teatro, cinema e televisão, e serve como referência para todos os tipos de leitores.
CAZUZA
É o clássico dos clássicos da literatura infanto-juvenil. Publicado em 1938, Viriato Corrêa presenteia o leitor jovem e adulto com essa obra essencial, primordial para todo e qualquer leitor de toda e qualquer idade. Cazuza é aquela que vive em nós, não como escapar, onde descreve todas as histórias de sua/nossa meninice vivida no interior do Maranhão, que mais tarde se muda para o povoado maior e vai para completar seus estudos, lá vive todas as alegrias e desilusões dos primeiros contatos com a escola.
Viriato mostra inúmeras discussões sobre métodos educacionais da época, lembrando que a história se passa no século XIX, descrita com uma linguagem simples e recorrente para qualquer leitor iniciante. Um fato inesquecível em Cazuza é a terrível palmatória. Alguém aqui passou por ela?
UM CONTO PARA DAVI DORMIR
Obra infanto-juvenil da artista plástica Susana Pinheiro, publicada em 2021, conta as peripécias do pequeno Davi, menino “traquino” como diriam os mais velhos. Susana consegue através dos olhos e pernas do pequeno Davi, trazer nossa infância na casa grande da fazenda dos avós, a leitura nos faz sentir todos os sentimentos da niñez no interior onde passávamos férias.
Embalado por recordações e memórias nítidas, apesar de um tempo longínquo, Davi corre por campos e colinas, sobe em árvores, brinca com os bichos da fazenda e só no fim do dia lembra-se de se alimentar. Susana Pinheiro retrata com muita harmonia e carinho todas essas vivências de uma infância cheia de carinho e amor.
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O JABUTI INTERNAUTA
E já que estamos falando em inovações tecnológicas, por que não unir o útil ao agradável? Sim, O jabuti Internauta, de Joaquim Gomes. Obra lançada em 2017 e relançada na 17ª Feira do Livro de São Luís. Obra mexe diretamente com o imaginário dos pequenos (e dos grandes também).
Com a ideia de que “é possível aprender e divertir-se ao mesmo”, já disse o acadêmico José Neres no prefácio. Se a ideia principal é cativar os pequenos leitores (e por que não os grandes também?), Joaquim, traz os bichos como pano de fundo de sua obra, envolvendo diretamente as crianças, que de uma forma ou outra “brincam” juntos os personagens do livro.
EMBALOS INFANTIS
Pois então, vamos de poesia? Gênero completamente diferente e alheio ao mundo encantado dos pequenos leitores. No entanto, por que não inserir poesia no mundinho deles? A obra escolhida é Embalos Infantis, de Joizacawpy Muniz Costa, publicada em 2023.
Joizacawpy entrega aos “miudinhos” versos simples e de fácil entendimento. Aqui, faz-se necessária uma leitura acompanhada de leitor, digamos mais experiente, ou talvez não, pois estamos falando de um dos gêneros mais difíceis no que cerne ao entendimento, até mesmo para o leitor adulto: a poesia. A autora usa a poesia para “brincar” com o imaginário do pequeno leitor, deixando-os livres para ter suas próprias interpretações, apesar de ter o acompanhamento de imagens.
Vivemos na Atenas Brasileira, Cidade dos Azulejos, “Terra das Palmeiras onde canta o sabiá”, a responsabilidade é muito grande ao escolher obras para indicação de leitura, mas quero justificar esse texto dizendo que, há infinitos autores e obras na Cidade do Reggae, a escolha desses é pela temática: todos eles trabalham nossa memória, todas elas nos dar um “insight”, nos levam para nosso mundo particular, nossa infância. E não há lugar mais especial para visitar? Principalmente nessa época em que mais um ano se vai e mais um ano que chega, carregado de esperança por um mundo melhor, um mundo em que ainda possa existir os pequenos, os médios e os grandes leitores.
FELIZ ANO NOVO!!!!!!
@lindabarros_