Por Mhario Lincoln*
O poema “Amor correspondido”, da poeta Maria Zelia Cerqueira Lima, nossa amada Zelinha, é simplesmente emotivo e diferenciado por demonstrar tanto amor sincero, em meio a tantas prolixidades envolvidas num Planeta cheio de ódio e guerras.
Isso me chamou a atenção porque a poesia de Zelinha exalta a chama de um amor que vence as barreiras do tempo e da distância. E mais: esse irreversível amor pelo companheiro-amigo-marido, descrito como - maridão, paixão e vida — é a própria luz que resgata a alma em meio às sombras diárias. Prova é cada verso que eu li e consegui entender a força desse afeto, que transborda nas pequenas e grandes situações do cotidiano, revelando um sentimento de plenitude que só o amor genuíno pode conceder.
Esse 'amor incondicional' de Zelinha (tenho-lhe imensa admiração por tudo que escreve e também, por trazer ao mundo, sua filha Silvânia Tamer, simplesmente uma das mulheres mais incríveis que conheci até agora), traduz algo muito parecido com as ideias centrais do romantismo na poesia brasileira: o enaltecimento da sensibilidade, do coração que ama, sofre e se alegra. Poetas românticos como Gonçalves Dias, também escreveram sobre a intensidade dos afetos, porém com um detalhe: nem todos os amores foram correspondidos ou livres. Mas, o culto à pessoa amada, a idealização do outro e o ardor sincero que move as ações remetem, isso sim, às raízes desse movimento literário, no qual a força emocional se sobrepunha às convenções sociais.
Zelinha, em seus versos, por sua exclusiva vez, sugere que o amor verdadeiro não só existe como se revela na capacidade de sonhar junto, rir junto e suportar as dores de cada dia, ancorados na certeza de um abraço reconfortante. O desejo de “sol, água e vento” ao lado do ser amado, bem como a confissão de “não saber como dizer” o que sente, reforça a dimensão quase infantil, terna e espontânea desse bem-querer, sempre jovial e, sobretudo, realista.
Há, nessa voz poética, aquela cumplicidade que transcende o habitual e insere o outro em todos os pensamentos — “de dia e de noite” — como fiel companheiro de jornada. Em paralelo, há quem duvide se o amor verdadeiro se concretiza além dos romances e filmes, e a própria Zelinha parece nos responder que sim, basta estar atento ao cotidiano. Ela reitera que tal amor está presente em gestos simples (o querer morder o “narizinho”), ao mesmo tempo em que se agiganta na promessa de um afeto inquebrantável.
Essa perspectiva encontra eco na experiência de mulheres-poetas que viveram intensamente a chama do amor partilhado. Um exemplo notável é Elizabeth Barrett Browning, autora de "Sonnets from the Portuguese". Em poemas como “Sonnet 43” (“How do I love thee? Let me count the ways”/ ‘Como eu te amo? Deixe-me contar as maneiras’), Browning expressa a devoção a seu esposo, o poeta Robert Browning, numa comunhão tão sincera que se tornou símbolo literário do amor correspondido e duradouro.
Desse modo, o texto de Maria Zelia (Zelinha) remete a uma tradição secular que atravessa continentes e séculos, lembrando-nos de que o verdadeiro amor não se limita a idealizações fantasiosas. Ele se solidifica quando há reciprocidade de afetos, partilha de vivências e reconhecimento mútuo das fragilidades.
É o amparo nas noites difíceis, o aconchego nas manhãs frias, o riso compartilhado nas tardes leves. Como no romantismo brasileiro ou na poesia de Elizabeth Barrett Browning, esse amor se nutre de verdade, paixão e de um cuidado permanente — sublimando a existência em algo mais do que apenas a soma de dois seres. É a união de almas que se querem bem, que se amparam e se reconhecem nos pequenos e belos instantes do dia a dia.
Assim, em “Amor correspondido”, Zelinha não apenas celebra seu companheiro e o quanto ele lhe é caro; ela também demonstra que, mesmo nos momentos de tristeza ou incerteza, há um clarão constante, uma presença que ilumina e aquece o coração. É justamente nessa cumplicidade, nessa fidelidade de gestos e pensamentos, que mora a essência do que chamamos de amor verdadeiro.
Eu, simplesmente, arquivei no coração esse poema e vou recitá-lo a todas as pessoas a quem dedico meu coração, com sinceridade. Obrigado poeta Maria Zelia Cerqueira Lima.
Mhario Lincoln é presidente da Academia Poética Brasileira.
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O POEMA
Amor correspondido
Maria Zelia Cerqueira Lima
Oh! grande astral, silencio e meditação
E uma paz muito grande invade o coração
Os meus olhos te seguem pelo espaço infinito
Ficando comigo o eco do teu último grito
Essas folhas secas caídas no chão
São versos que escrevo a você meu maridão
Quando tudo é tristeza treva e escuridão
Só você meu amor é um verdadeiro clarão
O amor correspondido é de beleza sem igual
Pois nunca envelhece, é sempre jovial
Eu quero sol, água e vento
Também quero você no meu pensamento
quero correr, cantar, saltar,
E depois de tudo nos teus braços me jogar
Eu quero, eu quero, eu quero e não sei como dizer,
Eu quero, eu quero, eu quero teu narizinho morder
Ribeiro meu amor, minha vida, minha paixão
Adoro você de todo meu coração
Gosto muito de você, a sua ausência é um tormento,
De dia e de noite não sais do meu pensamento;
Quero viver para te amar,
Morrendo te perdoar.