ERASMO DIAS, O BRUXO DOS APICUNS
& LUIS AUGUSTO CASSAS, O POETA QUE,
TRADUZIU-LHE O PERFIL ICONOCLASTA,
NO POEMA "UM CORPO QUE CAI”.
PRESENTE DE 2025 PARA NOSSO LEITOR.
Erasmo Dias foi um tipo raro na virginiana ilha, lírica e crítica, de São Luis do Maranhão. Novelista ( Maria Arcângela), ensaista ( Páginas de Crítica), autor de caso raro de ineditismo e editismo ( Rapsódia de Muitas Teresas, presumido existencialismo amoroso) que muitos leram e outros sequer creditaram-lhe a existência, Erasmo, todavia, brilhou como o maior pontífice de língua afiada, por sua capacidade de arregimentar gerações e gerações, de escritores,em processo, por sua liderança, brilho e sedução, não lhe bastassem os dons de tribuno e jornalista de raro escol.
Arranchado na casa dos Apicuns, onde todos passaram, por lá, também circulou o poeta Luis Augusto Cassas, em plena juventude, aluno do Liceu Maranhense, embrenhado para saborear a sabedoria de Erasmo e beber de sua cachaça e cicuta. Com mais de trinta livros de poemas publicados, Cassas guardou na memória, o espírito libertário, alcoolatra e destemido de Erasmo, transfigurado no poema UM CORPO QUE CAI, perfil celebratório e rico de exéquias de sua conclusão terrena e que está em seu terceiro livro” Rosebud”.
Recordando Erasmo Dias pela poesia de Luis Augusto Cassas. Um pouco do rico abismo das revelações literárias ludovicenses. Me sigam. Salve, 2025.
POEMA EMBALADO P/ JOSÉ ERASMO FONTOURA ESTEVES DIAS
Luis Augusto Cassas
(1º Movimento da Rede)
descansa nessa rede de linho branco
de são bento que mãos santificadas
pela pobreza trançaram com amor & suor
enquanto o último bando de guarás incendeia
o céu & sangra o voo das garças
descansa ouvindo a 2ª sinfonia dos gatos
vira-latas nos telhados a ópera bufa dos grilos
nos quintais os conselhos do companheiro wladimir ilitch que sussurra algumas palavras em teu ouvido esquerdo
descansa os reis magos da noite já depositaram em oferenda cachaça de santo antônio dos Lopes
mandubés do mearim & incenso pra expulsar
os espíritos inferiores que rondam a tua casa
e aporrinham o teu sono
descansa fernando já chamou o barbeiro do pompeu a manicure dos apicuns & mandamos confeccionar
no mário um terno de tropical inglês
para assistires condignamente
às exéquias dos azulejos
descansa não vai faltar papel no mundo
& apesar da crise de celulose os escritores
só morrerão quando o último cupim roer
a última letra dos livros & ainda assim a memória roerá o derradeiro cupim
(2º Movimento da Rede)
repousa teus familiares passam bem: teresa estuda letras modernas com o prof. fred williams na universidade da Califórnia & mariarcângela desmanchou o casamento com um engº da alumar e se amigou com o cantador do boi da Madre-de-deus
repousa os teus irmãos judeus serão vingados pelos maîtres dos restaurantes franceses que servirão aos algozes um cardápio à base de carne de porco à moda yom kippur com vinho tinto extraído dos campos de concentração
repousa a humanidade continua a morrer
pela boca o amor morre pela boca a boca (planta carnívora) continua a mastigar chineses russos e americanos com mau hálito dispensa a tua pasta de dentes
repousa os direitos autorais de tua solidão serão depositados no banco de pasárgada pagaremos a conta de água e luz & converteremos os vales do quitandeiro em convite pro réveillon de todos os mendigos da cidade (até a tua lua burguesa servirá de sobremesa)
repousa a última gaveta do móvel de jacarandá
se fechou dispenso as lamparinas?
já estão aí o oficial de registro civil a passista do quinto e o garçom do hotel central com a última taça de xerez mando-os entrar?
(3º e Último Movimento da Rede)
descansa (repousa)
oh tutankamon sem maldição
em Paz.