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Luis Augusto Cassas & Erasmo Dias

Luis Augusto Cassas é convidado da Plataforma Nacional do Facetubes

Mhario Lincoln
Por: Mhario Lincoln Fonte: Luis Augusto Cassas
31/12/2024 às 19h34 Atualizada em 01/01/2025 às 11h12
Luis Augusto Cassas & Erasmo Dias
Poeta Luis Augusto Cassas (Divulgação).

ERASMO DIAS, O BRUXO DOS APICUNS
& LUIS AUGUSTO CASSAS, O POETA QUE,
TRADUZIU-LHE O PERFIL ICONOCLASTA,
NO POEMA "UM CORPO QUE CAI”.
PRESENTE DE 2025 PARA NOSSO LEITOR.


Erasmo Dias foi um tipo raro na virginiana ilha, lírica e crítica, de São Luis do Maranhão. Novelista ( Maria Arcângela), ensaista ( Páginas de Crítica), autor de caso raro de ineditismo e editismo ( Rapsódia de Muitas Teresas, presumido existencialismo amoroso) que muitos leram e outros sequer creditaram-lhe a existência,  Erasmo, todavia, brilhou como o maior pontífice de língua afiada, por sua capacidade de arregimentar gerações e gerações, de escritores,em processo, por sua liderança, brilho e sedução, não lhe bastassem os dons de tribuno e jornalista de raro escol.

 

Arranchado na casa dos Apicuns, onde todos passaram, por lá, também circulou o poeta Luis Augusto Cassas, em plena juventude, aluno do  Liceu  Maranhense, embrenhado para saborear a sabedoria  de Erasmo e beber de sua cachaça e cicuta. Com mais de trinta livros de poemas publicados, Cassas guardou na memória, o espírito libertário, alcoolatra e destemido de Erasmo, transfigurado no poema UM CORPO QUE CAI,  perfil celebratório e rico de exéquias de sua conclusão terrena e que está em seu terceiro livro” Rosebud”.


Recordando Erasmo Dias pela poesia de Luis Augusto Cassas. Um pouco do rico  abismo das revelações literárias  ludovicenses. Me sigam. Salve, 2025.

 


POEMA EMBALADO P/  JOSÉ ERASMO FONTOURA ESTEVES DIAS


                                                Luis Augusto Cassas

 (1º Movimento da Rede)

 descansa nessa rede de linho branco
de são bento que mãos santificadas
pela pobreza trançaram com amor & suor
enquanto o último bando de guarás incendeia
o céu & sangra o voo das garças

descansa ouvindo a 2ª sinfonia dos gatos 
vira-latas nos telhados a ópera bufa dos grilos
nos quintais os conselhos do companheiro wladimir ilitch que sussurra algumas palavras em teu ouvido esquerdo

descansa os reis magos da noite já depositaram em oferenda cachaça de santo antônio dos Lopes
mandubés do mearim & incenso pra expulsar
os espíritos inferiores que rondam a tua casa
e aporrinham o teu sono

descansa fernando já chamou o barbeiro do pompeu a manicure dos apicuns & mandamos confeccionar
no mário um terno de tropical inglês 
para assistires condignamente 
às exéquias dos azulejos 


descansa não vai faltar papel no mundo
& apesar da crise de celulose os escritores
só morrerão quando o último cupim roer 
a última letra dos livros & ainda assim a memória roerá o derradeiro cupim

 (2º Movimento da Rede)


repousa teus familiares passam bem: teresa estuda letras modernas com o prof. fred williams na universidade da Califórnia & mariarcângela desmanchou o casamento com um engº da alumar e se amigou com o cantador do boi da Madre-de-deus

 repousa os teus irmãos judeus serão vingados pelos maîtres dos restaurantes franceses que servirão aos algozes um cardápio à base de carne de porco à moda yom kippur com vinho tinto extraído dos campos de concentração

repousa a humanidade continua a morrer
pela boca o amor morre pela boca a boca (planta carnívora) continua a mastigar chineses russos e americanos com mau hálito dispensa a tua pasta de dentes

repousa os direitos autorais de tua solidão serão depositados no banco de pasárgada pagaremos a conta de água e luz & converteremos os vales do quitandeiro em convite pro réveillon de todos os mendigos da cidade (até a tua lua burguesa servirá de sobremesa) 

repousa a última gaveta do móvel de jacarandá
se fechou dispenso as lamparinas?
já estão aí o oficial de registro civil a passista do quinto e o garçom do hotel central com a última taça de xerez mando-os entrar?

 (3º e Último Movimento da Rede)


descansa (repousa) 
oh tutankamon sem maldição 


em Paz.

 

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Raimundo FonteneleHá 3 semanas Barra do Corda Maranhão Caro Mhario: Oportuna, nessa semana erasmodiana, a participação do Cassas que era também um dos frequentadores d’A República dos Apicuns (título de meu último livro, à venda) com um excelente poema que capta um dos aspectos da personalidade do Erasmo: rede, repouso, descanso, no sentido grego da coisa. Bon vivant.
Zeilf HonnerHá 3 semanas ChicagoSir. Cassas. An American poet whose poetry combines "dreamy imagery, strong social criticism, and irony" (the basis of this serious poem) is Allen Ginsberg. Just read “Howl” (1956), in which he mixes visionary references and blunt criticisms of society in a language that is sometimes acidic, sometimes mystical. I refer to that poem.
Zé Manoel XimenesHá 3 semanas Campina Grande-PB"descansa nessa rede de linho branco de são bento que mãos santificadas pela pobreza trançaram com amor & suor enquanto o último bando de guarás incendeia o céu & sangra o voo das garças". Oi Luiz Augusto. Sou de São Bento, ao lado de Pinheiro dos Sarneys. E posso dizer que que as mãos que traçam essas redes com fios da tradição, são realmente santificadas. Parabéns pela bela poesia. Moro hoje em Campina Grande.
Raimundo Barros TrabuzziHá 3 semanas Rio de Janeiro (Posto 06)Os "movimentos da rede" são imprescindíveis para a compreensão dos versos, poeta. Isso só sai da cabeça de quem é o melhor.
Mãe Rita. Amei o poema, sem nem conhecer a figura.Há 3 semanas Teresópolis - RJQuerido Cassas, "...repousa os direitos autorais". Esse trecho dialoga com a tensão entre sonho e realidade (Netunovs.Saturno) e com a Lua que simboliza as emoções mais pessoais sendo “posta à mesa” para o coletivo. É um chamado para refletir sobre onde estamos depositando nossa energia (ou nossos “direitos autorais de solidão”), e como podemos transcender barreiras sociais por meio da empatia e do imaginário – típicos processos netunianos – ainda que com um pé na concretude das obrigações.
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