Por Mhario Lincoln, poeta e jornalista
Conheci a esposa do nosso querido Coronel Carlos Furtado, presidente da AMCLAM, há pouco tempo. Mas, com o passar da convivência notei toda a importância que Fabiane Furtado tem no contexto. Dentro e fora da AMCLAM, como uma das peças básicas para a boa administração literária daquele sodalício.
O Coronel Furtado, por sua vez, me enviou a primeira Antologia da Casa, onde Fabiane deixou sua contribuição. Li e reli, antes de pedir que me enviassem uma poesia dela para que eu pudesse resenhar e incluí-la neste livro. Eis que agora estou diante de “A Chama da Vida”, poema que me fez imediatamente ser transportado até antigas vozes filosóficas do século XV — como Marsílio Ficino, que exaltava a centelha divina, presente em cada alma.
É um poema aparentemente simples, mas cheio de cultura, leitura e reforço lírico, somente encontrado em muitas leituras para aperfeiçoar o dom que Deus lhe propiciou. Foi o que senti, lendo esse poema-luz, cheio de essência, ao se referir ao milagre do vir e existir, nutrido pela Fé e sustentado pela força da família.
O que senti foi a consciência de um legado que se perpetua para além das fronteiras do tempo. É como se, naquele instante, Fabiane se tornasse a guarda de um fio invisível fazendo do passado e do futuro, um elo que dá continuidade à essência da vida.
Desta forma, ao ser partícipe do milagre do nascimento, a poeta, membro da AMCLAM, percebe que participa de algo que transcende sua individualidade por assistir à conversão do amor em matéria, da poesia que se faz carne e da incorporação de um sonho que agora respira e chora em seus braços.
Há ali uma chama primeira, uma fusão entre o divino e o humano, um convite à contemplação de si mesma sob uma ótica renovada. O coração materno pulsa, então, com outro compasso, sentindo que cada batida ecoa um poema que percorre gerações.
Nesse ato sagrado de dar à luz, a mulher se vê vinculada à condição de coautora do futuro, e o que floresce em seu peito é a certeza de que, naquele filho, vive o testemunho da eternidade.
A chegada de um primogênito, cantada e decantada em versos, se converte, então, em epifania, na simbiose entre o riso e o pranto, desponta a música da vida, como se cada batida do coração fosse instrumento divino para celebrar a dádiva de ser mãe.
Fabiane, em sua poesia, conduz-nos para o instante em que o primeiro choro de um filho se transforma em cântico de gratidão. A família — seja física, seja aquela que construímos em espírito — enlaça-nos em fios invisíveis de ternura e unidade.
Há, deveras, em “A Chama da Vida” um sopro de eternidade: o recém-chegado traz consigo o presságio de conquistas futuras, a promessa de um mundo melhor. Nesse enredo, Deus surge como artífice bondoso que insufla alento em cada alma. A cada verso, o poema se verte em louvor e reverência à vida — ínfima e imensa ao mesmo tempo —, convidando o leitor a compartilhar do júbilo que transporta no seio familiar.
Há, sim, repito, algo de perpétuo no pulsar de um coração recém-nascido, algo que reacende a confiança na humanidade.
Destarte, que sigamos, pois, de mãos unidas, com o olhar iluminado pela chama excepcional do amor, sustentando a promessa de vida e graça que cada criança traz em seu primeiro chorinho.
O POEMA
Chama da Vida
Fabiane Furtado
Uma chama acesa, um brilho intenso,
A vida, um presente, um dom do universo.
No teu nascer, filho, uma nova canção,
Um hino à vida, um eterno verão.
Minutos preciosos, um novo amanhecer,
Teu primeiro choro, um sussurro a dizer:
Que a vida é um milagre, um presente divino,
Por te ter em meus braços, meu querido menino.
Gratidão invade o meu ser,
Por este milagre, por poder te ver.
Em teus olhos, um mar de emoção,
A vida, um sonho, uma canção.
Em teu futuro, um mundo a conquistar,
Sonhos a realizar, um coração a amar.
Com cada passo, uma nova canção,
A vida, um presente, uma bênção.