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Vitória de Fernanda Torres no “Globo de Ouro” contrasta com a triste crise comercial do cinema brasileiro

Há quem afirme que o prêmio diz mais respeito aos atores, diretores e produtores do que, realmente, ao Cinema Brasileiro, há muito, jogado às moscas.

Mhario Lincoln
Por: Mhario Lincoln Fonte: Editoria do Facetubes/GINAI
07/01/2025 às 08h39 Atualizada em 07/01/2025 às 21h39
Vitória de Fernanda Torres no “Globo de Ouro” contrasta com a triste crise comercial do cinema brasileiro
(Divulgação)


 Momento em que Viola Davis anuncia Fernanda Torres como VENCEDORA do #GoldenGlobes de Melhor Atriz.

 

Editoria do Facetubes c/GINAI* 

A atriz Fernanda Torres entrou para a história ao se tornar a primeira brasileira a receber o Globo de Ouro na categoria de Melhor Atriz em Filme de Drama. Ao interpretar Eunice Paiva em “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, que concorreu ao Globo de Ouro na categoria Melhor Filme em Língua Estrangeira. Fernanda Torres conquistou apoio ao redor do mundo. O jornal The New York Times e a revista Variety apostaram que Torres seria premiada.

A vitória histórica de Fernanda Torres no "Globo de Ouro" como Melhor Atriz em Filme de Drama pelo longa “Ainda Estou Aqui”, dirigido por Walter Salles, apesar de marcar um momento singular na história do cinema brasileiro, infelizmente, não apaga o quase (irreversível) histórico do desprestígio das artes cinematográficas no país, onde milhares de salas de cinema nacionais, raramente exibem filmes brasileiros, dando vasão para quaisquer tipos de produções americanas - e só americanas, com raríssimas exceções, italianas e de outros países que produzem um bom filme. 

O que a grande crítica tem afirmado é que esse reconhecimento internacional reflete tão somente o talento individual da atriz, do diretor e dos autores; e não, da capacidade do cinema nacional há anos jogado às moscas, apesar dos milhares de esforços de amantes da arte, no sentido de relocar o país ao período de ouro, entre 1940 e 1950, quando surgiram grandes estúdios como a Atlântida Cinematográfica e a Cinelândia, que produziram comédias populares conhecidas como chanchadas, onde filmes como "O Cangaceiro" (1953), o primeiro filme brasileiro a ganhar o festival de Cannes, "Destino em Apuros" (1954), o primeiro filme brasileiro a cores, "Terra em Transe" (1967), um dos maiores clássicos do Cinema Novo, dirigido por Glauber Rocha, além de "Central do Brasil", último grande sucesso, (1988),  que inseriu o cinema nacional no circuito mundial. 

 

O Cenário do Cinema Brasileiro


A cinematografia brasileira enfrenta desafios históricos que limitam sua expansão e alcance, tanto no mercado interno quanto externo. A predominância do cinema americano nas salas de exibição do país é um dos fatores cruciais. Segundo dados da Ancine (Agência Nacional do Cinema), mais de 80% das salas de cinema no Brasil exibem prioritariamente produções hollywoodianas. Essa hegemonia se deve a acordos comerciais entre distribuidores internacionais e redes de cinema, que priorizam lançamentos com grande apelo comercial e campanhas de marketing robustas. Em contrapartida, produções nacionais encontram dificuldade em garantir espaço nas principais redes de exibição.

O Brasil possui talentos inquestionáveis tanto na atuação quanto na direção, como evidenciado pela atuação de Fernanda Torres, mas a falta de apoio institucional afeta diretamente a produção e distribuição de filmes. Nos últimos anos, a redução nos orçamentos para fundos culturais e a paralisação de editais, como o Fundo Setorial do Audiovisual, comprometeram o lançamento de novas obras. 

Especialistas como a cineasta Anna Muylaert, em entrevista ao jornal O Globo, destacam que “o desmonte das políticas públicas no setor cultural prejudica a formação de novas gerações de cineastas e dificulta a consolidação de uma identidade nacional no cinema”.

 

Por que o Cinema Brasileiro Enfrenta Barreiras?


A invasão secular do cinema estrangeiro está relacionada a uma história de dependência econômica e cultural. Desde o período pós-guerra, os Estados Unidos consolidaram sua indústria cinematográfica como uma ferramenta de soft power. Filmes americanos passaram a dominar os mercados globais, incluindo o Brasil, promovendo seus valores culturais e políticos. Paralelamente, a ausência de uma política de proteção e incentivo ao cinema nacional perpetuou a disparidade.

Outro fator crítico é a distribuição. A maior parte das distribuidoras que atuam no Brasil está vinculada a conglomerados internacionais, que priorizam suas próprias produções. Assim, mesmo filmes brasileiros premiados em festivais internacionais têm dificuldade de encontrar espaço para exibição e divulgação adequadas no próprio país.

 

Soluções para o Cinema Nacional


Para que o cinema brasileiro possa ascender no cenário nacional e internacional, são necessárias políticas consistentes de apoio e investimento. Isso inclui:

Incentivos Fiscais e Editais: Reforçar editais públicos e linhas de financiamento para a produção audiovisual.

Políticas de Cota de Tela: Implementar cotas para exibição de filmes nacionais nas redes de cinema, garantindo espaço para produções locais.

Educação Audiovisual: Promover a educação em cinema nas escolas, formando novas audiências que valorizem a produção nacional.

Distribuição Independente: Criar redes alternativas de distribuição e plataformas digitais dedicadas ao cinema nacional.


O Reconhecimento Internacional e o Globo de Ouro


Antes de Fernanda Torres, a última vez que o cinema brasileiro ganhou destaque no Globo de Ouro foi em 2003, com a indicação de “Cidade de Deus”, dirigido por Fernando Meirelles, na categoria de Melhor Filme Estrangeiro. Embora tenha sido aclamado pela crítica internacional, o filme não levou o prêmio, mas abriu portas para o reconhecimento global da produção cinematográfica brasileira.

O feito de Fernanda Torres é um lembrete poderoso do potencial do cinema nacional. Em um país com profissionais tão talentosos, como Fernanda e tantos outros, é essencial que haja um esforço conjunto entre governo, indústria e sociedade para superar os desafios estruturais e garantir que histórias brasileiras continuem a ser contadas e reconhecidas no mundo todo.

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JaimeHá 1 dia Brasília/DFPresidente sua publicação show. A sua diversidade cultural dispensa comentários.
Joema CarvalhoHá 1 semana CuritibaExcelente abordagem Mhario! Os EUA utilizam o controle da cultura como estratégia de domínio. Concordo com a falta de política e de educação que estimule a cultura cinematográfica nacional. Espero que este prêmio, da Fernanda Torres, movimente esta arte no País.
Reinaldo SantosHá 2 semanas Curitiba-PRParabéns Mhario. Excelente análise, todavia, infelizmente, irão buscar capitalizar a conquista do filme como uma conquista do cinema brasileiro
Joizacawpy Há 2 semanas São luís Infelizmente a falta de investimento, a arte deixada para segundo plano como algo sem importância afeta nossas produções nacionais. Concorrer com a indústria cinematográfica americana é um desafio, porém acredito que sim, nosso cenário de produções de filmes brasileiros pode alcançar patamares maior e essa premiação vem consolidar o nosso potencial. E como diz o compositor, "a gente não quer só comida, a gente quer comida diversão e arte..."
alcina maria silva azevedoHá 2 semanas Campinas -SPFernandinha, transpira talento natural pelos poros da sua pele e interpretação maravilhosa É uma artista que não usa de artifícios para chamar atdnção, ela é natural e maravilhosa! Um orgulho para o Brasil.
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