(Autoria: Dra. Flora Guilhon/Tradução livre: jornalista Mhario LIncoln)
Ainda existem homens admiráveis e incomparáveis em nossa época, e esta grandeza não brota de mero acaso ou privilégio, mas sim de um processo de evolução em múltiplos aspectos. Em uma recente palestra que assisti em uma universidade importante, aqui em Londres, acompanhei o raciocínio de que desde a antiguidade, pensadores e filósofos atentaram para esses passos graduais que conduzem o ser humano a tornar-se mais consciente, responsável e livre. Com base no que ouvi e depois pesquisei, abaixo, tento reproduzir, pois, quatro pilares essenciais que sustentam essa evolução: espiritualidade, conhecimento humano, desenvolvimento humano e autorresponsabilidade. Somente a partir dessa estrutura sólida é que o indivíduo se fortalece para superar as condicionantes contratadas do ambiente que, por vezes, o molde de maneira disfuncional em relação aos valores e à verdade exata sobre a vida.
1- Espiritualidade
O primeiro pilar, a espiritualidade, não se restringe a ritos ou dogmas religiosos: diz respeito à busca de significado mais profundo para a existência. A conexão com algo transcendente — seja na fé, na natureza ou na própria interioridade — oferece um senso de propósito que impulsiona o homem a transcender suas limitações. O psiquiatra Carl Gustav Jung, pioneiro em abordagem e espiritualidade, afirmava que “o encontro de duas personalidades é como o contato de duas substâncias químicas: se há alguma ocorrência, ambas se transformam”. Esse toque sutil entre a alma de cada um e a esfera do sagrado abre caminhos para a expansão da consciência.
2. Conhecimento Humano
Em segundo lugar, o conhecimento humano é a âncora da razão e o alicerce de toda grande civilização. Da filosofia pré-socrática à ciência moderna, o homem se empenha em compreender o mundo, sondando o que está além do óbvio. Platão já enfatizava, em sua obra “A República”, que o caminho para a verdade requer sair da caverna das ilusões e buscar a luz do saber. Na mesma toada, a prática clínica da psiquiatria ilustra que compreender a psique humana exige não apenas uma observação empírica, mas também a capacidade de questionar, de discernir e de se abrir à complexidade do outro. O conhecimento não deve ser estanque; ao contrário, deve florescer em múltiplas dimensões, dialogando com espiritualidade e ética.
3. Desenvolvimento Humano
O desenvolvimento humano envolve crescimento integral: físico, emocional e intelectual. Em termos históricos, filósofos como Aristóteles já distinguiram que a verdadeira virtude (areté - termo que, mesmo sendo frequentemente traduzido como “virtude”, sua real significação remete à ideia de “excelência”), surge da prática constante de boas ações. No âmbito da saúde mental, o desenvolvimento é definido por etapas que bloqueiam o equilíbrio e a integração entre afetividade e cognição. Da infância à maturidade, o homem aprende, desaprende e reaprende, num processo contínuo de reformulação de si mesmo. Como bem pontuado o psiquiatra Viktor Frankl “o homem não está em busca de prazer, mas sim de sentido”. Desse modo, a plenitude vem de uma construção genuína de valores e da coragem de enfrentar crises existenciais.
4. Autorresponsabilidade
Por fim, a autorresponsabilidade (a parte que mais me toca e que mais tento repassar às pessoas que comigo tratam), é o vértice que coroa os demais pilares, pois confere eventualmente às escolhas e consolida a liberdade pessoal. “Torna-te quem tu és”, escreveu Friedrich Nietzsche, propondo que cada indivíduo assumisse a responsabilidade sobre sua própria existência. Esse chamado ao autoconhecimento e a ação lúcida que ressoa tanto na filosofia, quanto na poesia, pois somente quando o ser humano se responsabiliza por seus atos e consequências, consegue imprimir no mundo as marcas de sua unicidade.
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Por outro lado, a poesia e o sentido de ser. isto é, entendendo o conteúdo do texto com a histórica frase de Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena quando a alma não é pequena”.
Nas letras portuguesas, há um eco sutil que integra o saber filosófico ao lirismo poético. Fernando Pessoa, em sua obra “Mensagem”, brinda o leitor com o verso:
“Tudo vale a pena quando a alma não é pequena”. Ora, essa máxima sugere que o esforço em cultivar a própria grandeza de espírito ilumina cada meta a ser alcançada. Não se trata de mero otimismo, mas de um caminho de superação que, muitas vezes, encontra na psiquiatria e na psicoterapia um suporte para reordenar conflitos, ressignificar traumas e buscar novos horizontes de realização pessoal.
Desta forma, a trajetória histórica e filosófica do Ser Humano mostra que, ao se aliciar em espiritualidade, conhecimento humano, desenvolvimento humano e autorresponsabilidade, vai superar as barreiras que, porventura, o aprisionam num ambiente disfuncional. O brilho de valores mais elevados e a busca pela verdade sobre a vida revelam que, apesar de todas as adversidades, ainda existem Homens admiráveis e incomparáveis. Tais figuras são fruto de uma evolução consciente e integral, que une a sabedoria ancestral à ciência contemporânea, a sensibilidade poética ao rigor filosófico, e a maturidade psíquica ao compromisso ético de produção de transformações positivas no mundo.
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Referências
(Crédito do texto: Dra. Flora Guilhon. Tradução livre: Mhario Lincoln).
JUNG, CG Memórias, Sonhos, Reflexões . Nova Iorque: Pantheon Books, 1963.
PLATÃO. Uma República . Tradução de Maria Helena da Rocha Pereira. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1974 (Referência geral à Alegoria da Caverna, Livro VII).
FRANKL, V. Em busca de sentido . São Paulo: Quadrante, 1989.
NIETZSCHE, F. A Gaia Ciência . Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2001, §270.
PESSOA, F. Mensagem . Lisboa: Ática, 1934.