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INSPIRAÇÃO/EXPIRAÇÃO (E...fez-se poesia!). Resenha de Mhario Lincoln

Livro: de Luís Augusto Guterres Filho, novo livro de poesias, “Os 7 Sentidos”.

Mhario Lincoln
Por: Mhario Lincoln Fonte: Mhario Lincoln/Luis Augusto Guterres Filho
09/02/2025 às 19h02 Atualizada em 09/02/2025 às 19h14
INSPIRAÇÃO/EXPIRAÇÃO (E...fez-se poesia!). Resenha de Mhario Lincoln
MHL segura o “Os 7 Sentidos” e o poeta Luis Augusto Guterres Filho, o livro “A Bula dos Sete Pecados”.

 

*Mhario Lincoln

Pierre Bordieu, aplaudido sociólogo francês, falecido há 22 anos, em uma de suas últimas aparições públicas, disse que o Sistema Educacional do Estado cometia grandes erros porque “não ensinava o aluno a pensar”, mas reproduzir conhecimento, “com a finalidade dos governos perpetuarem seus domínios”. E replicava: “cada um reproduz suas práticas, segundo o capital cultural aprendido”. 

É exatamente com base nisso que ouso comparar este trabalho hercúleo de Luís Augusto Guterres Filho, neste novo livro de poesias, “Os 7 Sentidos”, com o que replicou Bordieu, aproveitando as palavras do poeta Guterres, em recente entrevista que a mim concedeu:
” (…)não só o talento. Mas a poesia para ser construída necessita de inspiração e expiração(…)”. 

Isto é, o mesmo que inspiração, suor e lágrimas. “Todos precisam aprender a ir buscar conhecimento para pensar melhor”, diz, ainda, Bordieur. E é o que Augusto Guterres vem fazendo ao longo dos anos, mostrando-se um poeta sábio e culto, resultado de muito estudo, conhecimento, experiência, vivência e talento. Tal fato, revigorou suas inspirações, transformando-as em sentimentos reais (ou fictícios), plurais ou singulares, conscientes e originais, explícitas em sua renovada arcádia poética. 
Então, vamos aos exemplos: 

Vide: “Haikai Autofágico: Devorar a mim por inteiro,/ Sentir teu gosto alcoviteiro,/ Beber meu sêmen com teu sabor./ Tudo isto é amor ou dissabor?” 


Esse texto poético modernista, acima, não retrata somente a '‘inspiração’' de Guterres. Os versos, “in hermenêutica”, vão de encontro ao normal parnasiano. E lembra, na história de 1922, as produções da Semana de Arte Moderna. Uma prova inconteste da capacidade cultural do autor interagindo com a criação haikaiana.


Em outras ocasiões, o autor se debulha em conhecimentos específicos:

“Tudo passa veloz como a vida de uma libélula,/ aproveita o viver, transforma as horas desertas em oásis”. 

Nestes, referência direta ao epíteto histórico, “carpe diem quam minimum credula postero”, extraída de uma das Odes, de Horácio. Leitura, muita leitura. Só inspiração nunca levaria a isso!


Desta forma, este novo livro de Poesias e HaiKais intitulado “Os 7 Sentidos” é um marco indelével na história do poeta e advogado Luís Augusto Guterres Filho. Aliás, tão marcante, que ele acrescentou outros sentidos às suas inspiro-expirações, suores e estudos, indo além do que Aristóteles elencou sobre os cinco sentidos, até hoje estudados: visão, audição, tato, olfato e paladar.


Augusto foi mais longe e incluiu a “Percepção Visual Poética”, que faz o cérebro processar e interpretar impulsos visuais, por meio de comparações, com experiências e interpretações, podendo levar (ou não) às ilusões aédicas. Essa inclusão está claríssima nestes versos com belo efeito narrativo:


“Odeio a minha visão, ela nunca permitiu que eu visse
quem realmente és, não enxergou tua alma, e, jamais,
te fixou em minhas retinas.
Da mesma forma renego meu olfato, que desapercebeu
os teus medos, ou meu paladar por não ficar insensível
ao teu gosto, sôfrego ao degustar.
Abomino meu tato, sempre impulsivo na busca da
tua pele e os meus ouvidos, obedientes à tua voz,
deixando-me sem te fazer calar.
Apenas confio em meu instinto,
este, sim, capaz de racionar”.

Em um segundo momento, para caracterizar um sétimo sentido, Luís Augusto  incluiu o “Sistema Somatossensorial”, ou seja, o insight resultante da ativação de receptores neurais, espalhados por toda a pele, folículos capilares e outros, que, por um simples toque mágico, as sensações se revelam poesia forte e abundante:


“Teu fluido cervical é a minha seiva matinal/ Meu alimento é teu liquido menstrual, / Teu corpo é minha eterna sevícia / O sexo que nos une é mesmo que vicia”.

Isso faz do poeta sábio e culto, um ser animado diferente do humano comum. Sim e isso é real. Basta notar a fluência de um “eu lírico” falando por si só, dentro dos poemas, abaixo:


“Quando nada mais restar além corpo inerte/ e esteja bem longe a imagem outrora imberbe,/ o baú de lembranças será, apenas, um móvel usado/ vendido por lágrimas invisíveis de choro desabusado”.

Ou:


 “Qual o epitáfio em meu túmulo?/ Aqui repousa uma criatura, que viveu só paixões/ Foi louco e insolente sem medo e sem razões?/ Escrevam, apenas, ‘não rasquem meus poemas’ ”! (…).


Ou, ainda: 


 “Amor Concreto/ Um dia ela foi embora/ e levou um pedaço do meu coração”. 


São gritos latentes, que esse “eu personificado”, exuma da poética febril do autor.
Aí, eu volto a Aristóteles, na construção da poesia. Ele ensinou: “(…) o que constitui a poesia não é a escrita (o logos) de versos, mas a construção (o mythos) de uma estrutura poética de ação”.

Exatamente isso o que este “Os 7 Sentidos” nos impulsiona a ler e nos leva a acreditar que desde o primeiro, “As 7 Estações”, Augusto evoluiu em sua forma mais concreta, exercendo seu direito de criação de forma mais didática, acrescida de vivência e de amadurecimento pertinente ao status quo lírico.


A sua poesia também é mágica. Augusto brinca com as sensações e sentimentos, ora, até pueris e delicadas: 
“Pequenas estrelinhas nascidas justo no meu entardecer./ Libélulas de asas de mel, abelhinhas de sorrisos coloridos/ Renascimento de emoções adormecidas, transfiguração de renovado amor paternal”. 
Portanto, caro poeta Luís Augusto, finco-me, como estaca, neste solo fértil onde é fácil encontrar frutos maduros de sementes plantadas, antanho, de forma a agricultar sentimentos acoplados às árvores da vida e morte, do amor e dor, do carinho e decepção, contudo, com a ideia básica de que em todo o canteiro de poemas neste livro, no fundo, contém mensagens otimistas do bom viver lírico.


Como sugere o título deste Prefácio, (Inspiração/Expiração), fica aqui meu Ode a um dos mais bonitos poemas que li em seu livro e que, a partir de agora, será meu Norte:


“Quando fico sem inspiração fito o arco-íris quadriculado,
ou observo as abelhas azuis, sorvendo seiva dos vulcões.

Serve de expiração o galope dos unicórnios domesticados,
a música desafinada dos grilos afônicos e extintos.
 
Busco poesia no balé dos pirilampos cegos,
ou no estertor dos golfinhos voadores,
Mas, tudo isso não me inspira, só me transpira para a solidão”.

Simplesmente, magnífico!


*Mhario Lincoln é presidente da Academia Poética Brasileira

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JaimeHá 1 mês BSB/DFParabens ao nobre PRESIDENTE e a sua magnífica fonte. Vocês nos brindam, com essa publicação, de alto valor cultural. A cultura agradece por mais essa rica obra publicada.
Socorro Guterres Há 1 mês Natal/ RNInspiração/Expiração...e a arte da linguagem poética ????????
ANTONIO GUIMARÃES DE OLIVEIRA Há 1 mês São LuísLuís Augusto Guterres, escritor de fino trato. Lavras magníficas. O presidente da APB, em uma magnífica análise consegue mostrar todas tratativas do escritor. Parabenizo ambos!
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