Raimundo Fontenele
Estava também entrando na alma da cidade, conhecendo lugares inesquecíveis e vivendo coisas inenarráveis, como, por exemplo, no Bairro Santa Felicidade com sua gastronomia italiana, o frango xadrez, a polenta, seu delicioso vinho, e também no centro da cidade com seus pontos turísticos.
Passeio Público: “Além de mais antigo, o Passeio Público é o parque mais central de Curitiba, com implantação e equipamentos em torno do verde de diversas espécies nativas e exóticas. O espaço, de destacada beleza, une tradição e modernidade, harmonicamente.
Chegou a ser conhecido como Jardim Botânico e foi também o primeiro zoológico da cidade. Desde 1982 abriga os pequenos animais que permaneceram, quando os recintos da maioria das espécies foram transferidos para o Zoológico Municipal de Curitiba, bem mais amplo.
Os portões da sua entrada principal, pela Carlos Cavalcanti, são originais e históricos, inspirados no portão do Cemitério de Cães de Paris, que é exemplo universal de amor e respeito aos animais” (Google).
O Passeio Público tem uma área de 69.285 m2, e está localizado na confluência das ruas Carlos Cavalcanti, Avenida João Gualberto e Rua Presidente Faria.
Foi implantado em 1886, o seu acesso é gratuito, e a sua fauna e flora compreendem respectivamente: sabiá, tico-tico, canário-da-terra, coleirinha, chupim, pica-pau, sanhaço, pombo, joão-de-barro e garça branca; carvalho, cipreste, paineira, jacarandá, plátano, ipê-amarelo, canela e eucalipto.
O Largo da Ordem fica localizado na confluência das ruas São Francisco, Rua Mateus Leme, Largo da Ordem, Rua Claudino dos Santos e Rua Martin Afonso.
“É o coração do Centro Histórico de Curitiba, regado de belíssima arquitetura colonial, datadas dos séculos XVIII e XIX, que hoje abriga museus, galerias de arte, restaurantes, bares e comércio no geral.
Como principais pontos temos: a Igreja da Ordem, o Museu Paranaense, a Igreja do Rosário, a Casa Romário Martins, a Igreja Presbiteriana, as Ruínas de São Francisco, a Sociedade Garibaldi, o Memorial da Cidade de Curitiba, o Museu de Arte Sacra, o Relógio das Flores e a Fonte da Memória (mais conhecida como cavalo babão).
É aqui que aos domingos, das 9h às 14h, acontece a famoso Feirinha do Largo, com vasta opção de artesanato, antiguidades, vestuário, comida, arte, etc. Se você é turista e quer comprar lembrancinhas para seus amigos e parentes, a feirinha é uma ótima opção.
O Largo da Ordem é conhecido pela sua riqueza e diversidade cultural. Acolhe todos os tipos de pessoas e tribos, expõe arte e cultura em todos seus cantos. Sem sombra de dúvida, o cantinho histórico mais charmoso da cidade” (Google).
“A Boca Maldita é o coração de Curitiba. Ali, bem no final da XV com a Praça Osório, assistimos a eventos esportivos, participamos de atividades políticas ou simplesmente consumimos em algum dos inúmeros comércios da região. Berço das comemorações e frustrações dos torcedores que acompanham a copa do mundo de futebol, em sua calçada há placas com as escalações de todos os times campeões mundiais da seleção brasileira.
De acordo com a pesquisadora Amanda Mendes, ‘a Boca Maldita foi uma confraria organizada por um grupo de homens que se reuniam na antiga Avenida João Pessoa, atual Avenida Luiz Xavier, no centro de Curitiba, para conversar e trocar ideias a respeito do desenvolvimento da cidade e do cenário político nacional’.
No dia 13 de dezembro de 1956 esse grupo decidiu realizar um jantar de confraternização no Grande Hotel Moderno (fechado em 1975), e a partir desta data tornou-se uma sociedade civil registrada como “Sociedade Civil de Direito Privado”. Todos os anos, na mesma data, realizou-se esse jantar com todos os autoproclamados “Cavalheiros da Boca Maldita”.
O nome Boca Maldita, por sua vez, tem a ver com os assuntos frequentes entre o grupo de homens que se instalaram nos bares e cafés do final da XV de novembro. Em entrevista de 1994, o ex-presidente da confraria, Anfrísio Siqueira, resume a história: “quando resolvemos dar um nome para a nossa confraria, o Adherbal Fortes de Sá observou que as mulheres evitavam passar naquele trecho da Boca Maldita, onde havia muitos homens e alguns mexiam com elas. ‘Nós somos malditos’, disse o Adherbal, porque as moças não passavam por lá. Aí o nome pegou, virou Boca Maldita” (Google).
Passeio Público, Largo da Ordem e Boca Maldita eram os grandes ícones turísticos da Curitiba desses anos 70 quando lá vivi. De lá pra cá outros pontos e locais surgiram, embelezando e enriquecendo histórica e culturalmente esta cidade que é um exemplo de administração pública, pioneira e inovadora em muitos ítens a favor de seus habitantes. Grande exemplo, sem dúvida, foi o prefeito Jaime Lerner, que deveria servir de modelo a todos os gestores do dinheiro público.
Um dos novos monumentos à cultura é, com certeza, o teatro Opera de Arame.
“Ópera de Arame é um teatro brasileiro, localizado na cidade de Curitiba, capital do estado do Paraná. Seu nome deriva do estilo construtivo, feito de tubos de aço e estruturas metálicas, coberto com placas transparentes de policarbonato, lembrando a fragilidade de uma construção em arame.
De forma circular, a edificação é quase toda cercada por um lago artificial, de maneira que o acesso ao auditório é feito por uma passarela sobre as águas. O projeto é do arquiteto Domingos Bongestabs, professor do departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFPR e o mesmo autor do projeto da Unilivre. As estruturas metálicas tubulares, totalizando 360 toneladas de aço, e os 2.400 bancos de tela de arame foram fornecidas pela Brafer Construções Metálicas, empresa de Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba.
Foi montada em apenas 75 dias e inaugurada em 18 de março de 1992. Passou por uma reforma para manutenção e melhorias na segurança, concluída em meados de 2006.
Na década de 1990, o teatro do Ópera de Arame serviu de palco para o show musical Noite de Gala, da Rede CNT, apresentado por Clodovil Hernandes.
O auditório tinha capacidade física para 2,1 mil espectadores, mas após a reforma de 2006, limitou-se a entrada para um máximo de mil pessoas (a capacidade total é de 1.572 espectadores), visando a preservação da estrutura.
Nas proximidades da ópera está a Pedreira Paulo Leminski, aberta em 1990. Juntos, formam o Parque das Pedreiras” (Google).
Então, continuo com este meu esforço de poeta para descrever, com a força de minhas paixões, as paisagens vividas e as ruas percorridas.
De dia, às vezes, no calor do sol e do trabalho constante e, outras vezes, de noite, encharcado de frio e álcool, perdido na madrugada da cidade industrial ou nos inferninhos ao longo da Avenida Kennedy, onde fui assaltado com revólver na nuca e tudo numa fria noite de setembro de 1978.
Naquela noite eu estava a fim de curtir algo diferente. Nem pensei nas consequências. Tudo arrumado, relógio de pulso, cordão de ouro no pescoço, bem perfumado, saí e na rua parei um táxi e já sentado falei:
— Meu irmão, me leva aí numa dessas boates, mas não quero coisa nem muito cara, nem muito esculhambada. Uma coisa média…
Ele zarpou comigo que não conhecia praticamente nada da cidade e me deixou numa rua atrás da Avenida Kennedy. Paguei, saltei e logo fui atraído pela fumaça e cheiro de uns churrasquinhos ou espetinhos que vinham de um trailer ali perto.
Cheguei junto ao balcão e pedi um espetinho e uma cerveja. Num lugar estranho, sem conhecer ninguém, logo parou ao meu lado um sujeito alto, magro, pele escura e puxou conversa comigo.
Dei atenção para o malandro e iniciamos uma conversa. Santa ingenuidade a minha. Disse que era nortista, do Maranhão e ele falou que era paulista, mas estava ali em Curitiba já há alguns anos.
Pedi mais uma cerveja enquanto degustava o espetinho, lhe ofereci também um copo de cerveja e ficamos batendo um papo até que ele perguntou se eu não queria fumar um cigarrinho do capeta, ou seja, maconha.
Acho que era por volta de umas oito horas da noite, paguei a conta e ele:
— Vamos descer um pouco essa rua, aqui dá muita bobeira…
Fomos andando, observei ainda umas duas casas com as conhecidas luzinhas vermelhas, e logo em seguida não vi mais casas, só um trilho de trem e aí o sujeito, num movimento brusco, rápido, encostou um cano de revólver na minha nuca e comandou o espetáculo.
— Anda, cara, vai, não te fresqueia que tu leva chumbo.
Passamos sobre o trilho e logo a seguir vi uma poça dágua, apesar do quase escuro, e pensei, “vou pular aqui e correr”, mas o pilantra deve ter lido meu pensamento, pois quando pulei já dei de cara com ele que pulou antes de mim e deu um pontapé jogando-me no chão.
No que levantei vi que estava ferrado e ele foi mandando eu entregar tudo, carteira com dinheiro, relógio, cordão de ouro e apontando aquele treizotão pra minha cara.
— Agora tira a roupa toda, até a cueca.
Eu tentava argumentar, para ele não fazer aquilo comigo, já havia lhe dado toda a grana… Que eu era pai de família, e quanto mais eu falava mais o negrão ficava invocado e me ameaçava.
— Porra, pára de falar, caceta… Tira logo essa roupa senão eu te meto uma bala nas fuça.
Enquanto me despia, peça após peça, nenhum de nós parava de falar. Eu, pedindo, implorando que não me matasse, me deixasse ir embora, tinha família, tinha um emprego, filho. A cada coisa que eu dizia, ele ficava mais bravo, dizendo:
— Ah, é? Pois eu não tenho nada, porra. Tu tá de boa e eu na merda…
Despido diante de outro homem, ajoelhado, você sabe que não é nada. Não há orgulho, vaidade, dignidade, nem o amor próprio permanece.
O negrão espumando, os olhos vermelhos de fúria e drogas, guardou o revólver, recolheu minha roupa, tentou calçar minhas botinas que não lhe serviam, achou no chão uma pedra quase do tamanho de uma bola de futebol. Ordenou que eu deitasse de bruços, olhos fechados, qualquer movimento que eu fizesse esmagaria minha cabeça com aquela pedra, ele disse.
Deitado de bruços, os olhos fechados, respirei longa e fundamente por alguns segundos tornados um século, uma eternidade.
Não ouvia nenhum barulho, nenhum ruído, então abri os olhos e, ao levantar a cabeça, vi o bandido se afastando, com minha roupa debaixo do braço, e em seguida correu, desaparecendo no quase breu daquela noite que jamais esqueço.
Eu fiquei ali em estado de choque, paralisado e “pelado, pelado com a mão no bolso”, cobri as partes íntimas com as botinas e na outra mão eu segurava o chaveiro, únicos pertences que o safado não levara.
Olhando em volta vi as luzes e ouvi o barulho do movimento de carros, peguei uma ruela que me levou até a Avenida Presidente Kennedy, perto de onde havia um depósito e venda de gás de cozinha.
Parei ali e comecei a fazer sinais para os carros que passavam, pedindo socorro, mas, naquela situação constrangedora em que eu me encontrava, será que alguma alma caridosa ia parar e me tirar daquele sufoco?
(CONTINUA NA PRÓXIMA QUINTA-FEIRA)