Andréa Motta
Affonso Romano de Sant’Anna amigo de longa data, nos deixou numa terça-feira de carnaval data festiva onde celebra-se a liberdade. Escolheu esta data como se a sua partida fosse mais um capítulo de sua ferrenha luta pela liberdade. Ilustre intelectual harmonizava a palavra com a ação. Dono de uma produção sólida e diversificada preocupava-se com a cultura e com os caminhos do nosso País. Destacou-se como teórico, ensaísta, poeta, cronista, professor, administrador cultural e jornalista.
Mas sua trajetória não foi feita apenas de caminhos floridos. Affonso nasceu em Belo Horizonte, mas passou sua infância e grande parte de sua juventude na cidade de Juiz de Fora. Menino pobre de família de protestantes desde muito jovem labutou pela sobrevivência, chegou a vender balas em cinemas e na escola para custear seus estudos. Sua criação o direcionava para ser pastor, no entanto a literatura e o jornalismo o tomaram por inteiro, muito cedo. Ferrenho defensor da liberdade lutou contra a opressão da Ditadura Militar, sua arma: A literatura.
Nas décadas de 1950 e 1960 participou de movimentos de vanguarda poética. Em 1961 diplomou-se em Letras Neolatinas, na então Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da UMG. Em 1965 lecionou na Califórnia e em 1968 participou do Programa Internacional de Escritores da Universidade de Iowa. Em 1969 doutorou-se pela Universidade Federal de Minas Gerais e, um ano depois, montou um curso de pós-graduação em literatura brasileira na PUC do Rio de Janeiro. Foi Diretor do Departamento de Letras e Artes da PUC-RJ, de 1973 a 1976, realizando então a "Expoesia", série de encontros nacionais de literatura. Ministrou cursos na Alemanha, Estados Unidos, Dinamarca, Portugal e França. Durante os anos de 1990-1996 foi presidente da Fundação Biblioteca Nacional, onde desenvolveu grandes ações de incentivo à leitura, como o Sistema Nacional de Bibliotecas. Autor de mais de 60 obras Literárias entre elas, Que País é Este? (1980 - que lhe rendeu o Prêmio Jabuti de literatura). Como jornalista trabalhou nos principais jornais e revistas do país: Jornal do Brasil, Senhor, Veja, Isto É, O Estado de São Paulo, O Globo e Revista Manchete. Lançou a revista “Poesia Sempre?” de circulação internacional, tendo organizado números especiais sobre a América Latina, Portugal, Espanha, Itália, França, Alemanha.
Possuidor de ímpar carisma e singular personalidade, doce e bem-humorado sobre quem muito mais poderia ser dito e contado, mas sua partida calou-me.
Affonso encantou-se para livremente abraçar mais uma vez sua musa Marina, na eternidade.
4.03.25