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IMORTAL (APB) PAULO RODRIGUES ENTREVISTA MARIA SOUSA

COORDENADORA DE LÍNGUA PORTUGUESA DE ALTO ALEGRE DO PINDARÉ-MA

Mhario Lincoln
Por: Mhario Lincoln Fonte: Paulo Rodrigues/Maria Sousa
15/03/2025 às 08h27 Atualizada em 15/03/2025 às 09h00
IMORTAL (APB) PAULO RODRIGUES ENTREVISTA MARIA SOUSA
Convidados: Maria Sousa e Paulo Rodrigues

Paulo Rodrigues, autor nacional premiado

▪ Membro da Academia Caxiense de Letras.
* Presidente Regional da APB, no Vale do Pindaré. (Alto Alegre do Pindaré, Bela Vista do Maranhão, Bom Jardim, Igarapé do Meio, Monção, Pindaré-Mirim, Pio XII, Santa Inês, Santa Luzia, Satubinha, São João do Caru e Tufilândia).

 

Maria Sousa é natural de Cocal dos Alves - Piauí.  É graduada em Licenciatura Plena em Letras Língua e Literatura Portuguesa e Francesa pela Universidade Federal do Piauí (UFPI). Mestre em Estudos de Linguagem pela Universidade Federal do Piauí (UFPI) e especialista em Gestão e Supervisão Escolar pela Faculdade de Educação do Piauí.  Trabalhou como professora do ensino fundamental no Instituto Dom Barreto em Teresina -PI, uma das maiores referências em educação do país. Desde 2016 trabalha como professora do quadro efetivo no estado do Maranhão. Atua também como coordenadora pedagógica de Língua Portuguesa, com atuação nos anos 6º, 7º, 8º e 9º, desde 2019, no município de Alto Alegre do Pindaré.

 

1 Paulo Rodrigues – Maria Sousa, o Darcy Ribeiro afirmou: “a maior invenção humana é a escola pública”.  Ele acrescentava dizendo que a escola realiza o improvável. Você concorda?


Maria Sousa – Sim. Eu sou fruto da escola pública. E ela, ao exercer o seu papel fundamental de democratização do conhecimento, promoveu uma transformação em minha vida e continua transformando a vida de inúmeros estudantes que, assim como eu, são advindos de um contexto de grande vulnerabilidade social. Vejo a escola pública como uma “luz no fim do túnel”, especialmente para aqueles que enfrentam realidades desafiadoras. Ao possibilitar o rompimento de ciclos de pobreza, a redução da desigualdade e a formação cidadãos críticos e preparados para a vida, a escola pública, de fato, realiza o improvável. 


2 Paulo Rodrigues – Quais são as características dos bons professores de língua portuguesa?


Maria Sousa – Considerando que um dos nossos grandes desafios é desenvolver a proficiência leitora e que a escola é a principal responsável por inserir o sujeito no universo das palavras, acredito que o bom professor de língua portuguesa precisa ter, antes de qualquer outra qualidade exigida para esse profissional, amor pela leitura, principalmente pela leitura do texto literário. Quando defendo a importância do amor pela leitura, quero dizer que se deve analisar não apenas as habilidades técnicas necessárias para o trabalho com a leitura, mas também o envolvimento pessoal do docente com essa prática social. 
Nesse sentido, concordo com as palavras da escritora Ana Maria Machado, quando diz ser muito difícil ensinar a se apaixonar pela leitura se o professor também não é. Observo, com grande frequência, no contexto educacional em que atuo, os impactos positivos dos professores leitores na vida dos estudantes. Acrescento, ainda, que essa qualidade não deveria se restringir aos professores de língua materna. Um ambiente repleto de professores leitores, independente do componente curricular com que trabalham, é um ambiente inspirador e fértil para a formação de sujeitos leitores. 


3 Paulo Rodrigues – É importante trabalhar a formação do leitor, na escola pública? 
Maria Sousa – Mais do que importante, é um dever. Creio que nem todos os educadores sabem, mas desde 2022, com vigência da Lei Nº 14.407, que alterou a Lei de Diretrizes e Bases (LDB), de 1996, passou a ser obrigatória a formação de leitores pela escola. A partir de então, o artigo 22 da LDB, que fala dos princípios da educação básica, recebeu um parágrafo único estabelecendo que são “objetivos precípuos da educação básica a alfabetização plena e a formação de leitores” como requisitos essenciais para o alcance da cidadania. Essa lei veio para reforçar que a leitura é uma necessidade universal que precisa ser satisfeita, principalmente no contexto brasileiro, o qual apresenta dados alarmantes no que tange à queda do percentual de leitores nos últimos anos. No entanto, cabe evidenciar que apenas a existência da lei não garantirá a solução do problema. É necessário que sejam criadas condições para que ela seja, de fato, efetivada. 


4 Paulo Rodrigues – As novas tecnologias atrapalham ou ajudam na formação do leitor?

Maria Sousa – Esta é uma pergunta ainda difícil para eu responder. Admito que estou em fase de construção da minha opinião a respeito do tema. Contudo, posso adiantar o que penso, hoje, com base na minha vivência enquanto docente e nos estudos sobre a temática. 
É indiscutível que as novas tecnologias facilitam o acesso a inúmeras e diversificadas obras e a disseminação do hábito e de novas estratégias de leitura. Por outro lado, não raras vezes, essa leitura acontece de modo superficial e fragmentado, o que compromete significativamente a qualidade dessa prática. Isso nos leva àquele velho questionamento da quantidade versus a qualidade.  
Embora haja esses questionamentos, creio que o caminho não seja a polarização. Podemos e devemos utilizar as novas tecnologias como aliadas no trabalho com a leitura, mas é preciso entendermos que isso vai exigir do docente uma atualização constante em termos de formação para que essa leitura se efetive com qualidade e, assim, atinja os propósitos pretendidos. 


5 Paulo Rodrigues – Vocês vão desenvolver alguns projetos interessantes na área de língua portuguesa em Alto Alegre do Pindaré. Fale um pouco sobre eles.
Maria Sousa – Destaco quatro projetos voltados para a leitura e a escrita: um Festival Literário, dois Concursos de Poesia (um municipal e um estadual) e um Ciclo de Palestras sobre o trabalho com a leitura do texto literário contemporâneo. Devo enfatizar que esses projetos, advindos da iniciativa do nosso atual secretário de educação a partir de diálogos com a coordenação de Língua Portuguesa, têm um papel fundamental na luta pela ampliação da capacidade de leitura e da escrita criativa entre os estudantes. Além disso, busca dar visibilidade aos talentos que circulam nas escolas do nosso município. Aliás, esses talentos são muitos. A edição do nosso Festival Literário do ano passado comprovou essa afirmação. 
As palestras sobre a leitura do texto literário contemporâneo, além de inúmeras outras vantagens, proporcionará o contato dos estudantes com os escritores desta quadra histórica, o que, sem dúvidas, estimulará a formação de habilidades de leitura. 
Esses eventos, portanto, reforçam o compromisso de Alto Alegre do Pindaré com o incentivo à arte e à educação, abrindo espaço para que vozes literárias, tanto de experientes poetas quanto de jovens talentos, sejam ouvidas, valorizadas e celebradas.

 
6 Paulo Rodrigues – Como foi a experiência com o Festival Literário? A literatura realmente atravessa o coração dos estudantes? 
Maria Sousa –. Levando em consideração o curto tempo que tivemos para prepará-lo, posso afirmar que o Festival Literário de Alto Alegre do Pindaré, em 2024, superou as nossas expectativas. Devo destacar que houve um esforço conjunto, uma mobilização das escolas e das demais coordenações que compõem a SEMED para que o nosso evento fosse um sucesso. E foi. O principal nós atingimos: o coração dos nossos estudantes. Mais do que isso: atravessamos o coração de grande parte do público presente. Foram poucos os que não se emocionaram com as poesias autorais declamadas. Testemunhamos a revelação de dores, angústias e até de denúncia social, temas que a poesia tem o poder único de dar voz, isto é, àquilo que muitas vezes escapa às limitações da linguagem comum. 
As transformações promovidas a partir daquele festival foram consideráveis. Lembro-me de que, logo após a finalização do festival, duas autoridades políticas que estavam presentes entraram em contato com a organização do evento a fim de conseguir o contato da família de uma das finalistas do concurso de poesia, a qual, por meio da expressividade do seu poema sugeriu o pertencimento a uma realidade social de grande vulnerabilidade. Essas autoridades não apenas salientaram a emoção promovida pela declamação, mas manifestaram o interesse em prestar auxílio financeiro à família da estudante, caso fosse necessário. 
Destaco, ademais, o poder do texto poético no resgate da autoconfiança. Relatos posteriores da professora de uma das finalistas do citado concurso revelaram que, antes do nosso evento, havia uma notável ausência de autoconfiança por parte dessa estudante, o que, certamente, mudaria a partir da sua classificação entre as três finalistas.  Eu poderia citar vários outros exemplos que reforçam a importância do nosso Festival, mas finalizo minhas palavras dizendo que os nossos estudantes estão ansiosos para a próxima edição. Creio que isso diz muito.  


7 Paulo Rodrigues – Altemar Lima, secretário de educação, afirmou na Jornada Pedagógica que Alto Alegre do Pindaré será o município do Maranhão com melhor IDEB em 2025. O que a secretaria está fazendo para alcançar essa meta?
Maria Sousa – Todos os nossos esforços estão voltados para o alcance dessa meta. Esses esforços envolvem a melhoria da qualidade do ensino, por meio de formação continuada com maior frequência; visitas de acompanhamento pedagógico de modo mais intensivo; elaboração e aquisição de material de apoio para o trabalho com as habilidades a ser aferidas na avaliação; monitoramento do desempenho escolar e  fortalecimento da gestão escolar, por meio da gestão participativa, da melhoria da infraestrutura e da ampliação do tempo escolar para o trabalho com a recomposição de aprendizagem. Considerando que o IDEB envolve em seu cálculo os dados do Censo Escolar, temos ações específicas para a melhoria das taxas de aprovação e para a redução dos índices de abandono.  Não podemos deixar de considerar a relevância dos projetos voltados para a leitura enfatizados acima, uma vez que eles impactam diretamente o desempenho dos alunos em língua portuguesa, interpretação de texto e raciocínio lógico, habilidades fundamentais para as avaliações educacionais como a do SAEB.

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Paulo Rodrigues Há 1 mês Santa Inês Maria Sousa é uma coordenadora muito capacitada. Tem feito um trabalho exemplar no município de Alto Alegre do Pindaré. Um abraço, meu Presidente Mhario Lincoln.
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