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Mhario Lincoln
Por: Mhario Lincoln Fonte: Mhario Lincoln
04/04/2025 às 13h03 Atualizada em 07/04/2025 às 11h25
Matéria publicada com destaque no maior jornal virtual do Nordeste brasileiro: AGORA/SANTA INÊS
arte: MHL/GINAi

 

@Mhario Lincoln

Nas últimas décadas, com o avanço do empoderamento feminino e mudanças nos padrões sociais, muitos homens passaram a valorizar mais a própria aparência. Procedimentos estéticos antes associados quase exclusivamente às mulheres, como cirurgias plásticas e tratamentos de beleza, viraram parte da rotina masculina. Dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica mostram que a participação de homens em cirurgias estéticas subiu de apenas 5% para cerca de 30% em cinco anos.

Em 2019, por exemplo, de 650 mil cirurgias plásticas realizadas no Brasil, 104 mil foram em pacientes do sexo masculino. Em 2024 esses procedimentos devem ter duplicados. Vale dizer que esse aumento reflete uma maior pressão para que os homens se cuidem mais.

 

Não por acaso, procedimentos como a harmonização facial, antes vistos com estranhamento para homens, hoje são tendência em consultórios dermatológicos e clínicas de cirurgia plástica. “Vivemos uma democratização da vaidade”, resume a dermatologista carioca Marília Duarte, apontando que hoje eles frequentam salões de beleza para fazer limpeza de pele, cuidar dos cabelos e até depilação corporal, práticas outrora consideradas “coisas de mulher”. 

 

Essa mudança de comportamento indica que o antigo estereótipo do homem bruto, desleixado (e sem) aparência, cede espaço a uma nova mentalidade. Homens heterossexuais ou não, se sentem mais confortáveis em demonstrar também vaidade. A busca pelo corpo em forma e bem cuidado deixou de ser tabu masculino. E quem provocou isso foram as mulheres, cada vez mais empoderadas e conscientes de si mesmas.

 

Como apontou o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, nas teses de "modernidade líquida", até mesmo os papéis tradicionais de gênero se tornaram fluidos, e homens e mulheres especialmente nos países desenvolvidos agora são “inteira e verdadeiramente livres” para se reinventarem – a ponto de a “agenda da libertação estar praticamente esgotada”. 

 

Em outras palavras, com as mulheres conquistando mais autonomia, sobra aos homens a liberdade (e o desafio) de redefinir a própria identidade, inclusive no espelho.

 

Por essa razão, várias foram as adaptações visíveis, como nos hábitos de lazer e consumo de mídia. Conteúdos antes marcados como “femininos”, como novelas, programas de variedades, revistas de moda e até certos gêneros literários, ganharam de vez a atenção masculina.

 

Hoje não é incomum ver homens comentando o último capítulo da novela de horários nobres ou seguindo ou tendências de moda nas redes sociais.

 

Outro detalhe interessante: com a explosão das redes sociais os homens começaram a seguir "influencers" de beleza, culinária e decoração – temas tradicionalmente vinculados ao universo feminino – aprendendo e apreciando esses conteúdo.

 

Essa mudança indica maior abertura para que gostos não sejam limitados pelo gênero. “Os homens jovens de hoje fazem parte de uma geração criada já dentro da cultura pop e da diversidade”, explica a pesquisadora brasileira Mirian Goldenberg, autora do livro "Homem não chora, mulher não ri". Segundo ela, há um processo de atravessamento de fronteiras: “O futebol e a ação ainda interessam, mas eles também choram em filmes românticos e comentam 'reality shows', porque esses produtos culturais deixaram de ter dono”. Em resumo, na era do empoderamento feminino, consumir produtos culturais “de mulher” não fere a masculinidade – pelo contrário, pode até ampliá-la, tornando os homens mais informados e sensíveis às vivências femininas.

 

Há de se notar que as transformações impulsionadas pela igualdade de gênero também se manifestam dentro do lar. Cresce o contingente de homens que dividem as tarefas domésticas e o cuidado com os filhos de forma equitativa com suas parceiras. Cozinhar, limpar a casa, trocar fraldas ou levar as crianças à escola são, cada vez mais, responsabilidades compartilhadas. No Brasil, levantamentos do IBGE indicam um tímido, mas constante aumento na participação masculina nos afazeres do lar. Tanto que, desde 2019, mais de 78% dos homens ouvidos, declararam realizar tarefas domésticas; em 2022 esse índice subiu para 79,2%.

 

Todavia, há de se dizer que ainda existem muitas desigualdades, desrespeitos com mulheres e atos de violência.

Em tempo: curiosamente, a ideia de que homens e mulheres devem ter oportunidades e deveres equivalentes não é uma invenção moderna – remontando, em certa medida, à filosofia da Antiguidade. Os pensadores estoicos, há cerca de dois mil anos, já defendiam uma espécie de igualdade fundamental entre os sexos no que diz respeito à capacidade intelectual e moral. Musônio Rufo, filósofo estoico do século I, argumentava que as mulheres deveriam receber a mesma educação filosófica que os homens, pois teriam recebido dos deuses “o mesmo poder de raciocínio” e possuíam igual predisposição para a virtude.

 

Em suma, para Musônio e outros estoicos, a excelência moral independe do gênero – homens e mulheres partilham da mesma racionalidade e, portanto, dos mesmos deveres éticos. Segundo a análise dos pesquisadores contemporâneos Emily McGill-Rutherford e Scott Aikin, os antigos estoicos consideravam as mulheres tão capazes de razão quanto os homens e cidadãs de igual valor na “cosmópole” (a comunidade universal). Esse pensamento de Musônio era para se dizer "uau", porque os estoicos viviam numa sociedade que ainda negava autonomia plena às mulheres em muitos aspectos. Mesmo assim, o legado filosófico estoico plantou sementes de igualdade ao enfatizar a dimensão comum humana – a capacidade de viver conforme a razão e a virtude –, eles fornecem uma perspectiva filosófica útil para pensar as relações de gênero hoje.

 

Enfim, falar sobre as transformações nos papéis de gênero não devem passar despercebidas por estudiosos, tanto no Brasil quanto no exterior. O tema da “nova masculinidade” – ou das masculinidades contemporâneas – tornou-se campo fértil de pesquisas e debates acadêmicos.

 

A antropóloga brasileira Mirian Goldenberg, por exemplo, investiga há anos os comportamentos de homens e mulheres no Brasil urbano. Em suas obras e entrevistas, ela aponta que os homens vivem hoje uma espécie de paradoxo: estão mais livres das amarras do machismo tradicional, porém muitas vezes ainda perdidos na definição do que se espera deles.

 

Já o escritor e ativista João Silvério Trevisan, autor do livro "Seis balas num buraco só: a crise do masculino", argumenta que a masculinidade hegemônica entrou em crise porque o modelo do “macho provedor e invulnerável” tornou-se insustentável numa sociedade que clama por igualdade.

 

Trevisan observa que muitos homens sentem insegurança e até angústia em meio a esse turbilhão de mudanças – mas ressalta que essa crise pode ser positiva, ao forçar uma reconstrução mais saudável do ser homem.

 

Do lado estrangeiro, dois nomes se destacam na análise da masculinidade contemporânea. Michael Kimmel, sociólogo norte-americano, que dedicou boa parte de sua carreira a entender como os homens reagem ao feminismo e às mudanças sociais.

 

Em livros como Angry White Men e Guyland, Kimmel descreve tanto os homens que resistem às mudanças – frequentemente por sentirem ameaçados privilégios antes tidos como naturais – quanto os homens que abraçam o feminismo e percebem que a igualdade de gênero também os liberta. 

 

Outro nome influente é o da socióloga australiana Raewyn Connell, pioneira nos estudos sobre masculinidades. Connell cunhou o termo “masculinidade hegemônica” para descrever o padrão cultural de macho dominante, homofóbico e emocionalmente duro que prevaleceu no século XX.

 

Em suas pesquisas, ela mostra como esse modelo vem sendo contestado e pluralizado: hoje falamos em “masculinidades” no plural, reconhecendo múltiplas maneiras de ser homem – do pai carinhoso ao profissional sensível, do homem gay ao heterossexual e metrossexual, todas igualmente válidas. Connell defende que essa diversificação é um passo essencial para desmontar o patriarcado. Isto é, quando o ideal único de masculinidade perde força, dilui-se também o poder estruturante do machismo.

 

Já outros estudiosos brasileiros adotam uma visão mais otimista. O psicólogo e pesquisador Gustavo Venturi, coautor de pesquisas nacionais sobre homens e masculinidade, afirma que há um lento, porém, consistente avanço geracional: os homens mais jovens tendem a ser menos machistas que seus pais, demonstrando mais abertura à igualdade nas relações. “As transformações estão em curso e são irreversíveis”, diz Venturi, notando que conceitos como paternidade ativa, respeito ao ‘não’ feminino e divisão de tarefas ganham espaço no imaginário masculino atual.

 

Mhario LIncoln.

Então, o Machismo acabou? É o fim de uma era? É isso? Diante de tantos indícios de mudança – do homem vaidoso ao pai participativo, do jovem que assiste novela à difusão de ideais igualitários – surge a pergunta: a maioria dos homens realmente deixou de ser machista?

 

Vale deixar seu importante comentário abaixo. Venha compartilhar suas ideias comigo. Fico feliz por isso. Sejam bem-vindos.

 

*Mhario Lincoln é editor-sênior da Plataforma Nacional do Facetubes (www.facetubes.com.br).

 

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Fontes: VALOR.GLOBO.COM/NOTICIASDATV.UOL.COM.BR/ OGLOBO.GLOBO.COM/ IRMAOSESTOICOS.COM/ ARMONTE.WORDPRESS.COM/ GAZETADOPOVO.COM.BR/ THEGUARDIAN.COM/ THEGUARDIAN.COM/ CLAUDIA.ABRIL.COM.BR

 

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JaimeHá 2 semanas BSB/DFPreclaro nobre PRESIDENTE, tudo que é publicado, nessa magnífica página do FACETUBES, são informações importantíssimas. Agora parabenizo o senhor, por esse valioso artigo acima. Tema atualíssimo!!! PARABÉNS, Aplausos de pé e com direito a bis!!!
Alfredo SosaHá 2 semanas Caruaru PEEssa é a realidade. Só que há séculos o homem participa das atividades domésticas. E ninguém divulga porque ainda se tem vergonha.
Socorro Guterres Há 2 semanas Natal/ RNÉ muito bom constatar que estereótipos estão sendo substituídos pela participação parceira homem/mulher no cotidiano familiar.
Pedro Sampaio Há 2 semanas Fortaleza Ce Sendo eu de uma terra onde infelizmente ainda existe ainda muita incidência de machismo em índices alarmantes seria muito bom que os que tem o comportamento contido na letra de Xote dos Cabeludos de Zé Clementino e Luiz Gonzaga pudesse ler com a alma desarmada essa matéria pra de uma vez por todas deixar cair por terra o pensamento arcaico e entender que o mundo mudou e a questão do comportamento de gêneros mulheres quebraram grilhões e mundo fitness cremes espelhos botox alcançaram a macharada
Judith BittencourtHá 2 semanas Whats AppCompartilhar emoções, tarefas, enfim o que se faz presente no dia-dia das pessoas, amigas que se amam, eis o que as faz complementares, próximas, recíprocas pelo afeto.
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