Editoria de Arte e Cultura c/Mhario Lincoln
Desejo, provocação e liberdade em tempos imperiais — conheça a história da mulher que desafiou o próprio irmão, Napoleão Bonaparte.
(A foto Venus Victrix pushkin, foi disponibilizada sob licenças da Creative Commons. / Artista: Antonio Canova (1757 – 1822) foi um artista neoclássico italiano e um dos escultores mais célebres. Regularmente respeitado como o mais proeminente dos artistas neoclássicos, a sua obra foi motivada pelo Barroco e pelo Renascimento clássico, mas manteve uma distância estratégica do melodramático do anterior e da fria artificialidade deste último).
Pauline Bonaparte protagonizou alguns dos maiores escândalos do Império Napoleônico. Um dos mais célebres foi seu polêmico retrato esculpido por Antonio Canova, em que posou seminua como a deusa Vênus Victrix. A obra, embora artisticamente celebrada, causou indignação entre aristocratas e religiosos. Quando questionada sobre a nudez, Pauline respondeu com ironia: "Ah, mas havia um incêndio na sala", insinuando desprezo pelas convenções sociais.
Além disso, durante seu casamento com o príncipe Camillo Borghese, Pauline foi cercada por rumores de infidelidade. Um suposto caso com o célebre violinista Niccolò Paganini intensificou os escândalos. Napoleão, visivelmente incomodado com as atitudes da irmã, chegou a se recusar a reconhecê-la como princesa, revelando o abalo que sua conduta causava até dentro da própria família imperial.
Pauline Bonaparte, a irmã mais nova de Napoleão, foi uma figura que os salões imperiais não conseguiram domar. que os salões imperiais não conseguiram domar. Dona de uma beleza lendária, imortalizada inclusive em uma estátua seminu esculpida por Canova, ela cultivava escândalos com a mesma naturalidade com que usava vestidos de seda. Desde a infância, quando ainda vivia em Ajaccio, na Córsega, Pauline chamava atenção por sua atitude destemida. Aos dez anos, já era cercada por rumores que cresceriam em proporção com sua fama e independência.
Aos 17, casou-se com o general Charles Leclerc, enviado por Napoleão para conter a revolta em São Domingos. Acompanhou o marido à colônia caribenha, mas sua permanência foi marcada por desconfortos e rumores de infidelidade. Viúva aos 20, após a morte do general Charles Leclerc em 1802, Pauline Bonaparte retornou à França e mergulhou em um estilo de vida marcado por prazer, luxo e transgressão. Esse período tem sido objeto de análise por estudiosos, sugerindo uma conexão entre suas experiências traumáticas em Saint-Domingue e sua entrega a um hedonismo deliberado. O historiador Michael Broers descreve essa fase como uma "descida à decadência mórbida", destacando o comportamento autocentrado e provocador que passou a exibir com mais intensidade.
A biografia "Pauline Bonaparte: Venus of Empire", de Flora Fraser, traça um retrato rico dessa etapa da vida de Pauline, explorando seus múltiplos relacionamentos, seu estilo de vida extravagante e sua fidelidade constante a Napoleão. Já o artigo "How Pauline Bonaparte Lived for Pleasure", de Shannon Selin, revela que ela não apenas se envolvia com figuras da aristocracia e intelectuais, mas que cultivava a busca pelo prazer como modo de vida. Pauline chegou a posar seminua para o escultor Antonio Canova, em um gesto ousado que chocou a sociedade de sua época, mas que simbolizava sua autonomia e desprezo pelas convenções.
Pauline não era apenas um rosto bonito. Suas atitudes frequentemente desafiavam a moral e os códigos de conduta femininos da corte napoleônica. Mesmo quando se casou com o príncipe Camillo Borghese, em uma tentativa de acomodação política arquitetada por Napoleão, ela não abandonou sua postura hedonista. Era vista frequentemente sozinha, montando cavalos, promovendo festas ou viajando por conta própria, algo impensável para mulheres de sua posição na época.
Embora tenha contraído várias doenças venéreas, jamais cedeu à autopiedade. Manteve sua vivacidade até o fim da vida, cercada por luxo, mas também por uma aura de mistério e provocação. Pauline nunca escreveu memórias, mas viveu como se cada ato fosse um manifesto não declarado sobre o direito da mulher à liberdade e ao prazer.
Hoje, sua história ressurge não apenas como anedota das cortes imperiais, mas como símbolo das tensões entre gênero, poder e autonomia. Pauline Bonaparte ousou ser ela mesma em uma época que não permitia isso. E por isso, permanece fascinante.