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Por que D. Quixote de La Mancha ainda é uma obra das mais respeitadas no Mundo?

Ao longo dos 420 anos desde a publicação de Dom Quixote de la Mancha, diversos eventos notáveis marcaram a trajetória da obra e de seu autor, Miguel de Cervantes.

Mhario Lincoln
Por: Mhario Lincoln Fonte: D. Quixote/ Facetubes pesquisa.
05/05/2025 às 11h47 Atualizada em 05/05/2025 às 12h03
Por que D. Quixote de La Mancha ainda é uma obra das mais respeitadas no Mundo?
Arte: Ginai/mhl

“Dom Quixote é uma lição de como viver com dignidade, mesmo no fracasso” Mario Vargtas Lhosa.

 

Por: editoria-geral do FT

 

Nota da redação: hoje, dia 5 de maio de 2025, faz 420 anos e 211 dias desde a publicação da primeira parte de Dom Quixote de la Mancha, lançada em 16 de janeiro de 1605.

 

 

Aqui estão dez fatos significativos:

Esses eventos destacam a importância e a influência duradoura de Dom Quixote de la Mancha na literatura e na cultura mundial ao longo de mais de quatro séculos.

 

1605 – Publicação da Primeira Parte de Dom Quixote
Em 16 de janeiro de 1605, Miguel de Cervantes publicou a primeira parte de sua obra-prima, Dom Quixote de la Mancha, em Madri. A obra foi um sucesso imediato e é considerada um marco na literatura ocidental.

1615 – Publicação da Segunda Parte de Dom Quixote
Dez anos após a primeira parte, Cervantes lançou a continuação oficial da história, intitulada Segunda parte del ingenioso caballero Don Quijote de la Mancha.

1614 – Publicação de uma Continuação Apócrifa
Antes da segunda parte oficial, uma continuação não autorizada foi publicada por um autor sob o pseudônimo de Alonso Fernández de Avellaneda. Essa "fanfic" teria motivado Cervantes a concluir sua própria sequência, na qual mata o protagonista para evitar futuras imitações.

1616 – Morte de Miguel de Cervantes
Cervantes faleceu em 22 de abril de 1616, em Madri. Curiosamente, William Shakespeare morreu no dia seguinte, em 23 de abril de 1616, embora em calendários diferentes.

1777-1780 – Edição de Luxo Patrocinada pela Coroa Espanhola
A coroa espanhola patrocinou uma edição revisada em quatro volumes de Dom Quixote, a cargo de Joaquín Ibarra. Iniciada em 1777, concluiu-se em 1780 com uma tiragem inicial de 1.600 exemplares.

2002 – Reconhecimento como Melhor Livro de Todos os Tempos
Em uma pesquisa promovida pelo Instituto Nobel Norueguês, Dom Quixote foi eleito o melhor livro de todos os tempos por 100 grandes escritores de 54 países.

2005 – Comemoração dos 400 Anos de Dom Quixote
O mundo celebrou os 400 anos da publicação da primeira parte de Dom Quixote, com homenagens em várias línguas e países, reforçando seu status como patrimônio universal da literatura.

1997 – Início da Leitura Pública Ininterrupta em Madri
Desde 1997, o Círculo de Bellas Artes de Madri realiza anualmente uma leitura pública ininterrupta de Dom Quixote, com duração de 48 horas, envolvendo diversas pessoas que se revezam na tarefa.

Adaptações para Cinema e Teatro
Dom Quixote inspirou diversas adaptações para o cinema e teatro, incluindo o musical da Broadway O Homem de la Mancha, que no Brasil ganhou adaptação livre com roteiro de Miguel Falabella.

 

Influência na Literatura Mundial
A obra de Cervantes influenciou inúmeros autores e obras ao longo dos séculos, sendo considerada precursora do romance moderno e um modelo de ironia narrativa e crítica social. Na verdade, poucos livros atravessam séculos com tamanha relevância moral, filosófica e literária quanto Dom Quixote de la Mancha. Publicado em 1605 e 1615, nos dois volumes que compõem a saga, o clássico de Miguel de Cervantes Saavedra continua a inspirar leitores com suas lições sobre justiça, liberdade, idealismo e humanidade. A figura do Cavaleiro da Triste Figura, acompanhado de seu fiel escudeiro Sancho Pança, transcende a caricatura do lunático que luta contra moinhos de vento: "representa o espírito humano que insiste em sonhar, mesmo diante da razão fria e dos escárnios do mundo", lembrou o editor Mhario Lincoln ao repassar o tema para a editoria-geral.

 

Críticos e estudiosos reconhecem essa profundidade há séculos. O filósofo espanhol José Ortega y Gasset viu na obra não apenas uma sátira aos romances de cavalaria, mas um tratado profundo sobre o conflito entre o ideal e o real. “Dom Quixote é o mais puro símbolo do homem que precisa dar sentido à vida por meio de um ideal, mesmo que isso o afaste da realidade”, escreveu Ortega y Gasset. Já Harold Bloom, crítico literário americano, considerava Cervantes um dos pilares da literatura ocidental e enxergava Dom Quixote "como o precursor dos grandes personagens ambíguos que viriam depois, como Hamlet e Fausto".

 

É por meio de citações memoráveis que Cervantes imortaliza valores hoje frequentemente esquecidos. Quando o protagonista diz que “a liberdade é um dos mais preciosos dons que os céus deram aos homens”, ele não apenas clama por um ideal pessoal, mas ecoa um anseio coletivo que atravessa regimes, épocas e fronteiras. Em tempos de polarização e perda de empatia, a busca quixotesca por “fazer bem a todos e mal a ninguém” adquire nova urgência.

 

Sancho Pança, por sua vez, não é apenas o contraponto cômico de Dom Quixote, mas também o canal da sabedoria popular e do senso prático. Juntos, os dois representam o equilíbrio necessário entre razão e sonho, ação e contemplação. O diálogo entre eles é rico em reflexões sobre virtude, honra e humildade, como quando o cavaleiro afirma: “a virtude vale por si só o que o sangue não vale”, desafiando as hierarquias sociais e exaltando a moral conquistada pelo mérito.

 

Esses temas não escaparam à análise de pensadores modernos. Milan Kundera, em seu ensaio "A Arte do Romance", argumenta que Cervantes inaugurou uma nova maneira de ver o ser humano, por meio da incerteza e da pluralidade de perspectivas. Para ele, o romance moderno "nasce com Dom Quixote justamente porque nele não há verdades absolutas, apenas o confronto entre pontos de vista".

 

A beleza, a gratidão, a humildade e o sentido da vida são dissecados com delicadeza e ironia por Cervantes, que oferece ao leitor não respostas, mas caminhos de reflexão. A leitura de Dom Quixote exige atenção, mas recompensa com generosidade: cada capítulo é um espelho onde vemos o melhor e o pior de nós mesmos.

 

Mais de quatro séculos depois de sua publicação, Dom Quixote permanece como um livro indispensável, que convida todos — especialmente em tempos de desesperança — a crer que vale a pena lutar por ideais, mesmo quando tudo parece perdido. Afinal, como disse Mario Vargas Llosa, “Dom Quixote é uma lição de como viver com dignidade, mesmo no fracasso”. E talvez seja exatamente essa a sua maior vitória.

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Raimunda Pinheiro de Souza FrazãoHá 5 dias São José de Ribamar Já li várias vezes e espero ter tempo para ler novamente. Ou quem sabe ouvir as 48 horas de leitura na Espanha.
Joizacawpy Há 6 dias São luís Um dos meus livros preferidos, gosto de deixá-lo amostra na minha estante. Uma abordagem profundamente humana que mergulha num processo psicológico denso, onde a razão e o delírio são pontos de reflexão, mas mesmo no aparente delírio as lições de vida são cabíveis, dentro de um aspecto de dignidade humana.Sim, um dos melhores livros do mundo.
Antonio Guimarães de OliveiraHá 7 dias São Luís Depois do livro dos livros, que é a Bíblia, considero o livro mais completo, pata explicar o ser humano. Esse é um livro para os "eternos".
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