Colunista Flora Guilhonm, da Inglaterra, exclusivamente para www.facetubes.com.br
Editoria de Comportamento, Plataforma Nacional do Facetubes
“Imagine andar pela rua e sentir o amor e o calor de cada pessoa que passa. Esta é uma experiência familiar para pessoas com síndrome de Williams (SW), uma doença genética rara que afeta aproximadamente 1 em cada 7,5 mil pessoas. Os afetados, muitas vezes classificados como "autistas", têm um desejo inato de abraçar e fazer amizade com estranhos. Eles são extremamente afetuosos, empáticos e falantes. Eles tratam todos que conhecem como seus novos melhores amigos”. Jasmin Fox-Skelly/BBC.
E o que isso pode gerar para o próprio indivíduo e para os outros? É a pergunta que me fiz ao ler esse trecho da matéria de Jasmim Fox. Será que ser tão amigável tem desvantagens? Eles geralmente têm dificuldade em manter amizades próximas e são propensos ao isolamento e à solidão?
Analisemos, então: muito se tem discutido esta semana aqui em Londres sobre a “Síndrome de Williams”, uma condição genética rara, provocada pela microdeleção de cerca de 26 a 28 genes no braço curto do cromossomo 7, que se manifesta por traços faciais marcantes, predisposição a problemas cardíacos e um perfil cognitivo singular, marcado por habilidades verbais preservadas e desafios visuoespaciais.
Esse conjunto de características converte-se em um todo comportamental único, que exige compreensão e acolhimento desde a primeira infância. No cotidiano, indivíduos com Williams mostram hipersociabilidade – uma empatia intensa e quase inata que os aproxima de quem está ao redor, mas também os expõe a riscos, devido à confiança excessiva em estranhos. A sensibilidade auditiva, por sua vez, pode desencadear crises de ansiedade em ambientes ruidosos, criando barreiras à participação plena em atividades escolares e comunitárias.
Para minimizar esses impactos sem recorrer a medicamentos, especialistas têm apostado em intervenções comportamentais e sensoriais altamente individualizadas. Programas de intervenção precoce combinam fisioterapia, terapia ocupacional e fonoaudiologia num roteiro estruturado, que emprega agendas visuais e histórias sociais para oferecer previsibilidade ao dia a dia da criança.
O treinamento de habilidades sociais, adaptado à singularidade de cada paciente, ajuda no reconhecimento de sinais não verbais e na construção de limites interpessoais. Estudos iniciais mostram avanços na autonomia e na assertividade de jovens com Williams quando submetidos a sessões regulares de Social Skills Training.
A terapia cognitivo-comportamental, estruturada em módulos que ensinam técnicas de enfrentamento gradual de medos, tem apresentado redução significativa de sintomas ansiosos em adultos. Ferramentas virtuais de CBT, em especial, permitem exercícios de exposição adaptados ao ritmo de cada participante.
Em crianças, a combinação de exposição gradual a estímulos temidos com atividades lúdicas – conhecida como play-humor exposure therapy – tem colaborado para o desenvolvimento de autorregulação emocional, reforçando que o humor pode ser um poderoso aliado na superação de ansiedades específicas.
A música, tão valorizada por pessoas com Williams, desempenha papel central em programas de musicoterapia. “Music is my favourite way of thinking,” (A música é minha maneira favorita de pensar), relata um jovem participante, revelando como canções e instrumentos servem de combustível para ganhos motores, cognitivos e emocionais.
Integrar essas abordagens a um suporte familiar e escolar sólido é fundamental para que cada pessoa com Síndrome de Williams desenvolva confiança, maximize suas potencialidades e construa uma trajetória de independência. Ao combinar rigor científico e sensibilidade humana, a sociedade dá novos passos na valorização da neurodiversidade.
Aviso importante
Todas as informações apresentadas neste artigo têm caráter estritamente informativo e, em nenhuma circunstância, podem substituir a avaliação, o diagnóstico ou o tratamento oferecido por um profissional de saúde qualificado. Sempre consulte um médico ou especialista antes de adotar qualquer procedimento ou terapia.