Joiza Costa, colaboradora do facetubes, a convite da Academia Poética Brasileira.
Neste ano em que comemora-se o bicentenário de Maria Firmina dos Reis, disponho-me a trazer minhas observações em comentários a respeito da genialidade de Maria Firmina no romance Úrsula. Uma narrativa de qualidade esmerada, composta por uma sabedoria de contexto e excelente uso da palavra.
A narrativa de Firmina é absolutamente detalhada rica em aspectos físicos, emocionais e psicológicos, remetendo o leitor a um mergulho profundo em uma história que retrata tempos remotos que infelizmente revelam dor, sofrimento e roubo da dignidade humana.
Quero ressaltar a poética contida na prosa de Firmina, logo no início do romance encontro um desfraldar poético magnifico e vasto habitando o solo da prosa de forma espetacular, revelando a associação entre inteligência e sensibilidade contidas em tão excelente escritora.
“São vastos e belos os nossos campos; porque inundados pelas torrentes do inverno semelham os oceanos em bonançosa calma – branco lençol de espuma, que não lhe ergue marulhadas ondas, nem braço irado, ameaçado insano quebrar os limites que lhe marcou a onipotente mão do rei da criação".
Esse aspecto poético prosaico se estende durante toda a narrativa enriquecendo a escrita de forma substancial e eloquente, exigindo do leitor atenção e semelhante sensibilidade para perceber não só os aspectos narrativos que são riquíssimos, como também o aspecto poético que está inerentemente presente na prosa. Ela proseia poetizando em vários trechos da obra. Toda a narrativa de Maria Firmina dos Reis se faz de detalhes. “Nesta ocasião, a lua era perpendicular ao topo da cruz, e a noite derramava sobre ela seu choro algente e triste”. Foram esses detalhes de riqueza narrativa que com certeza levaram a sua literatura a um patamar de excelência que só os grandes escritores possuem.
A poética magnífica contida na narrativa de Maria Firmina dos reis, com certeza merece destaque a parte.
“Brilhavam ainda ao acaso os últimos raios do sol. A parda tarde embelezava a natureza com essas melancólicas cores, que trazem ao coração do homem a saudade e a tristeza”.
"A essa hora mágica em que a flor singela e sedutora escuta enlevado suspiro segredo da brisa que a festeja [...] em que a virgem entregue a um vago, indefinível e mágico cismar recende mais casto, mais enlevador perfume como o aroma de uma flor celeste".
Viva Maria Firmina dos Reis!
Mín. 5° Máx. 15°