"O carnaval de rua, sobretudo, era muito apreciado. Não havia 'cordões' nem 'sambas', em compensação, havia as 'cabacinhas', pequenas bolas de borracha fina, cheias de água colorida; outras com o formato de frutas, cheias de perfume. Usava-se também uns terríveis com alvaiade, farinha de trigo e até fuligem das chaminés. (...) Este Carnaval primitivo, tão alegre, tão simples, foi mais tarde substituído pelos esplêndidos 'lança perfumes', ou rodó, como eram chamados, pelos 'confetti' de cor, prateados ou dourados, para terminar, hoje, cheio de sambas irritantes, de cordões, de préstitos, de álcool e noitadas nos Casinos". (*)
Além de demarcar duas gerações de entrados Maria Bastos delimita duas fases de carnavais das elites, entre o século XIX e o início do século XX. Para ela, cordões, sambas e clubes roubaram a cena do entrudo. Ainda sobre o entrudo, a mesma opinião tinha Sá Valle** no início do século: "O carnaval, quão diferente do de hoje! Verdade que era bastante porco e prejudicial à saúde, mas tinha mais graça e vibração".
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RIBEIRO, Maria José Bastos*. O Maranhão de outrora - Memórias de época (1819-1924). Rio de Janeiro Rodrigues, 1942 p 147-148.
SA VALLE **. O Maranhão Antigo e Moderno. São Luis Typ M. Silva, 1931.
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Semelhante discurso, que constata mudanças com o tempo, encontra-se na memória de nossos idosos de hoje ao se referirem aos carnavais do Baralho, dos Entrudos, do Urso, dos Assaltos, da Casinha da Roça, dos Bailes e outros divertimentos que desapareceram, ou se tornaram, com o tempo, de pouco uso.
Informou o pesquisador José de Ribamar Reis* em 1984 que: "O Baralho faz-se contar apenas para registro, por que o Baralho é um dos folguedos com o qual nossa geração dos anos quarenta não teve intimidade, a não ser conhecimento através de uns poucos informes deixados por estudiosos e/ ou artigos de jornais ludovicenses. Com muito pesar o Baralho na verdade não existe mais. É realmente reflexo da alteração de nossos costumes através dos tempos"
Há mais de três décadas que se debate o carnaval de rua de São Luís, que para algumas pessoas tendiam a desaparecer, incluindo aí as escolas de samba. Falava-se por certo tempo dos anos 80 que só os clubes tinham verdadeiro sucesso.
Era início de um prolongado e mais recente debate sobre a "morte da tradição".
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P 15. REIS*, José de Ribamar. Folclore maranhense - informes. São Luís: SIOGE,
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Vinte e cinco anos atrás, cronista do Diário da Manhã dava a sentença que resumiria a tendência do debate sobre originalidade:
"Esse negócio de escola de samba decididamente não é o nosso gênero, pela simples razão de não pertencer às raízes folclóricas do Maranhão”.
Por um lado, iniciava-se uma comparação em relação à desproporção entre as escolas de samba de São Luís e o carnaval de passarela carioca, mais majestoso e rico, padrão difícil de acompanhar pelos maranhenses, ao tempo que se dava conta de que o Maranhão "enxotava" - usando a expressão que Antônio Lopes usara quatro décadas atrás - do carnaval, as suas mais autênticas raízes.
Em alguns casos, podemos inclusive notar o apelo à restauração e ao resgate como forma de manter viva a tradição. Antônio Lopes, pesquisador e escritor de influente expressão da vida cultural da cidade de São Luís, na primeira metade do século XX, empunhava a defesa da tradição da capital, do patrimônio histórico e dos antigos folguedos, e propunha:
"Cumpre estimular o reaparecimento de algumas diversões populares. Por que razão o cordão carnavalesco enxotou das ruas de São Luís a Caninha Verde, a Chegança, o Fandango, muito mais interessantes pelos lados coreográfico, musical e decorativo, assim pelo quantum de dramatização".
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ERICEIRA, João Batista*. Crítica à imitação. O Estado do Maranhão 21 de fev. de 1975
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Para ler a parte III, siga o link: (https://www.facetubes.com.br/noticia/3509/ananias-martins-a-incrivel-historia-cronologica-dos-carnavais-de-s-luis-e-suas-modificacoes)