Conheci a obra de Clevane Pessoa, sem conhecê-la (ainda) pessoalmente, em 2010. Um poeta amigo de Belo Horizonte me enviou um livro, cujo título é "Erotíssima". a partir daquele momento, já como editor-chefe do Portal aqui Brasil, senti a necessidade de escrever sobre a obra porque a palavra poética de Clevane Pessoa estava, ali, naquelas folhas, visceralmente bordada, lapidada e cultivada, como uma grande celebração resplandecente, tal qual a avidez da paixão entre amantes.
Incrível é que essa paixão - transformada em versos - tem uma sincronicidade intrínseca e fértil de uma relação singular, onde cada verso e cada estrofe se tornam uma dança harmônica de emoções e sensações. Ora, isso me fez imediatamente trazer para a mesma mesa, o poeta John Keats: "(...) a beleza é verdade, a verdade é beleza", ressaltando a conexão profunda entre o belo e o autêntico nas expressões poéticas.
Homem & Mulher
Clevane Pessoa
Homem e mulher deitados
após a subida mais que louca
ao cimo do prazer.
Ele descansa, ela se agita.
Mulheres são mesmo assim,
incansáveis, pois a ternura
exige delas a multiplicação
dos gestos.
O homem teme que ela precise
de mais completude
Ela quer apenas achego...
Mulher deita-se de pernas fletidas
de pele vestidas,
sobre as costas do companheiro.
Rã, agana-se sem pe(n)sar.
E sopra versos na nuca à sua frente.
E faz cafuné com dedos bailarinos.
E borda arabescos com ósculos.
O homem se volta, não mais sonado.
Siderado, olhar de fera, e despertado
provoca um voo esplêndido.
Sob ele, a mulher palpita.
E grita
enquanto ele arfa,
o verbo no mais que perfeito.
Cada um mais suado que o outro,
por fim, penetra no túnel do sono.
Ao ler a obra, na época, senti-me atraído pela grandeza daquela poética, pois ali, estava, sim, um mergulho profundo no universo das palavras, onde cada termo é escolhido com precisão cirúrgica, revelando uma intimidade visceral com a linguagem. Por outro lado, a capa do livro, com suas linhas sinuosas e a sugestiva pétala vermelha, simboliza a delicadeza e a intensidade do erotismo poético que permeia suas páginas. Sem nenhuma sombra de dúvidas, é uma obra que se alinha com a visão de Anaïs Nin, que disse: "O erotismo é uma das bases do autoconhecimento, tão indispensável quanto a poesia."
Desta forma, Clevane Pessoa, longos anos depois, Vice-Presidente Executiva Nacional da Academia Poética Brasileira (e, comigo, professor Edomir Martins de Oliveira, poeta Osmarosman Aedo e Humberto Napoleon, membros-fundadores dessa instituição literária nacional), explora a fusão entre a poesia e a sensualidade, desmistificando o erotismo e apresentando-o como uma manifestação gloriosa do sentimento humano.
A palavra é a protagonista, ora suave e terna, ora intensa e avassaladora, criando uma sinfonia de sentidos que evocam o carnaval da alma e os aplausos da emoção. Em "Erotíssima", há uma reverberação do que Rainer Maria Rilke poderia descrever como "a beleza aterradora", onde o poder das palavras toca as profundezas da alma.
O que seria da poeta sem a palavra, e da palavra sem a poeta? Essencialmente, esta simbiose é inimaginável. Em "Erotíssima", Clevane Pessoa e suas palavras se fundem em uma comunhão terna e eterna, transcendendo os limites do gozo e do gosto.
Esta afinidade latente é insaciável, revelando-se em momentos múltiplos e diversos, onde a afabilidade magnética das palavras se aflora de forma esplendorosa. Parabéns, confreira querida por essa celebração da vida e do amor, onde cada poema é um testemunho da beleza e da complexidade do ser humano. Sua poesia erótica não é meramente sensual; é uma exploração profunda da conexão entre corpo, mente e espírito, evocando a essência do ser em sua forma mais pura e sublime.
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Mhario Lincoln é presidente da Academia Poética Brasileira.
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