A profundidade da amizade plena, com base em reflexões filosóficas e sociais
JORGE CRUZ, poeta, escritor e membro da Academia Poética Brasileira, seccional (Olinda) Pernambuco.
A frase de Mhario Lincoln, "A amizade plena não é definida pela doação completa de ambas as partes. Mas sim, quando não existe mais nada para dar...", mostra uma visão profunda sobre o verdadeiro significado da amizade. Essa perspectiva nos leva a considerar que a amizade não é uma troca constante de benefícios, mas uma presença incondicional que persiste mesmo quando todas as ofertas materiais e emocionais são esgotadas. A essência dessa frase ressoa com diversas abordagens filosóficas, sociológicas e psicológicas contemporâneas.
Um filósofo do século XXI que reflete sobre conceitos semelhantes é Alain de Botton, escritor e produtor residente em Londres, famoso por popularizar a filosofia e divulgar seu uso na vida quotidiana, em seu livro "As Consolações da Filosofia", explora a importância das relações humanas profundas e autênticas, argumentando que o verdadeiro valor de uma amizade está na aceitação incondicional e na presença constante.
Aliás, "As Consolações da Filosofia", de Alain de Botton, é uma obra que combina a acessibilidade do ensaio literário com a profundidade da filosofia clássica. 'De Botton' examina a vida e as ideias dos seis grandes filósofos — Sócrates, Epicuro, Sêneca, Montaigne, Schopenhauer e Nietzsche —, oferecendo suas sabedorias como consolos para os desafios modernos, a falta de amizade, a impopularidade, falta de dinheiro, frustrações, inadequação, corações partidos e dificuldades. De forma envolvente e bem-humorada, o autor mostra como os venenos filosóficos podem ser aplicados para lidar com problemas cotidianos, trabalhando a filosofia em uma ferramenta prática e relevante para a vida contemporânea.
Com base nessa mesma obra, Botton acaba sugindo que, em uma amizade solicitada, o valor não está na quantidade de apoio oferecido, mas "(...) na qualidade da conexão e na disposição de estar presente, mesmo quando não há mais nada tangível a oferecer". Isso se soma a ideia de Mhario Lincoln sobre a amizade plena, onde a verdadeira amizade se revela na "ausência de qualquer expectativa de retribuição".
Sociologicamente, essa visão pode ser conhecida através dos estudos de Anthony Giddens sobre a intimidade na modernidade. Giddens discute como as relações de amizade na era contemporânea, são cada vez mais baseadas em um compromisso mútuo, ao contrário de obrigações tradicionais e expectativas sociais. Numa sociedade onde as conexões superficiais são comuns, a amizade que "transcende a doação e se sustenta na presença constante", isto é, representa uma forma de resistência contra a fragmentação das relações humanas. Essa abordagem sociológica reforça a importância de relações que não são baseadas em transação, mas em uma conexão profunda e significativa, como disse Mhario Lincoln em sua frase.
Do ponto de vista psicológico, a amizade descrita pelo amigo e editor do Facetubes, (www.facetubes.com.br) é essencial para o bem-estar emocional. Estudos de psicólogos como John Bowlby mostram que a presença constante e a segurança emocional fornecida por relacionamentos estáveis são cruciais para o desenvolvimento saudável e para a resiliência emocional. A amizade plena, que permanece "mesmo quando não há mais nada a oferecer", proporciona um senso de segurança e pertencimento que é fundamental para a saúde mental. Esse tipo de amizade permite que os indivíduos se sintam aceitos e valorizados, independentemente de sua posição ou conhecimento.
Vejo na frase do confrade e amigo Mhario Lincoln uma reflexão profunda sobre o verdadeiro valor das relações humanas. Filósofos, sociólogos e psicólogos contemporâneos concordam que a amizade plena é uma fonte essencial de apoio emocional e coesão social. Em um mundo onde as relações muitas vezes são transacionais e superficiais, a mensagem de Mhario destaca a importância de uma conexão que vai além da troca de benefícios, celebrando a presença constante e a aceitação incondicional como os verdadeiros pilares da amizade.
Obrigado, Mhario, por sermos realmente amigos.
JORGE CRUZ, Membro da Academia Poética Brasileira (seccional PE), Cadeira número 70/APB.