"Obra de Lispector é um grito que ecoa no âmago do seu ser". (Ahtange Ferreira)
Conversa Literária.
Mhario Lincoln/Ahtenge Ferreira. Tema: Clarice Lispector.
"Recuso-me a ficar triste. Quem não tiver medo de ficar alegre e experimentar uma só vez sequer a alegria doida e profunda terá o melhor de nossa verdade. Eu estou – apesar de tudo oh apesar de tudo – estou sendo alegre neste instante-já que passa se eu não fixá-lo com palavras. Estou sendo alegre neste mesmo instante porque me recuso a ser vencida: então eu amo. Como resposta". (Clarice Lispector).
Clarice Lispector, nessa frase, aborda a resistência à tristeza e a escolha consciente da alegria como um ato de rebeldia e afirmação da vida. Sugere que a verdadeira essência da nossa existência está na capacidade de experimentar a alegria profunda, mesmo diante das adversidades. Essa perspectiva pode ser relacionada ao conceito de 'amor fati', de Friedrich Nietzsche, que prega a aceitação e o amor pelo destino, incluindo suas dificuldades e sofrimentos.
Quando a escritora Ahtange Ferreira leu essa frase, em algum momento, também foi colhida por um flash, que virou foto e que exprimou toda a clarividência de Lispector, como se ela tivesse sido tomada por um insight da própria Clarice, ou seja, "alegria como uma forma de resistência e expressão de sua verdade interior".
Acredito que houve uma forte influência do pensamento de Clarice, naquele exato momento em que a escritora, poeta e pesquisadora Ahtange Ferreira passava por esse flash cósmico interior. Aliás, vários pensadores discutiram a influência da literatura na vida de todos nós que amamos ler e escrever.
Marcel Proust, por exemplo, em “À la recherche du temps perdu”, explora como a leitura pode evocar memórias e emoções profundas, transformando a percepção do leitor sobre si mesmo e o mundo. já Roland Barthes, em “O Prazer do Texto”, argumenta que a leitura é uma experiência íntima e subjetiva, onde o leitor encontra prazer e significado pessoal.
Por isso chego à conclusão lógica que essa frase que abre este texto, de Clarice Lispector, lembra exatamente isso: a importância de escolher a alegria e de usar a arte como um meio de resistência e expressão pessoal.
E para complementar esse momento de reflexão, recebi um belo texto da escritora e poeta Ahtange Ferreira, coincidentemente junto à foto publicada neste espaço, com a seguinte e extraordinária mensagem que brotou do fundo do seu coração. Senti-me enobrecido por essa partilha de Ahtange:
"(...) Essa frase, acima, de Clarice Lispector, caro Mhario Lincoln, diz exatamente o que eu sentia no momento em que tirei essa foto. Por isso, decidi escrever este texto, mesmo que não conheça com amplitude a obra dela. Li "A Hora da Estrela". Gostei imensamente. E confesso que me encontrei em muitos momentos de Macabéa por exemplo:
"Agarrava-se a um fiapo de consciência e repetia mentalmente sem cessar: eu sou, eu sou, eu sou. Quem era, é que não sabia. Fora buscar no próprio profundo e negro âmago de si mesma o sopro de vida que Deus nos dá."
Quantos instantes de mim sentia exatamente isto. Leio pensamentos e frases soltas e na minha humilde opinião a obra dessa mulher é um grito que ecoava do âmago daquele ser, uma mulher à frente de seu tempo um espírito "livre", mas preso e, que ansiava por algo que esta existência não pode lhe dar. E acho que ela era triste e solitária sim, aquele olhar gélido especialmente no momento da entreviste me pareceu mais que cansaço. Desilusão? Desamor? Ânsia de viver? Tristeza de viver ou não em sua plenitude? São muitas perguntas para as quais não teremos resposta. Eu, por exemplo tenho um vazio que jamais foi preenchido e que nem mesmo consigo nomear o que anseio... Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome.
Reconheço-me nessa frase como eu a entendo. E meus textos mais verdadeiros e melhores ( Instantes de mim) escrevi quando padecia de profunda tristeza e solidão. Sim, minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem das grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite.
Clarice Lispector, para mim, caro Mhario, ela sempre será um grito. Porque às vezes eu preciso ser outra para ser eu mesma! Ahtange Ferreira. (...)".
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Não falei? Um texto genial, autêntico e imergido da mais funda acepção lírica da escritora maranhense, autora de uma vasta obra, como, por exemplo, "Clandestino Amor" , um dos campeões de vendas na página da Amazon.
Vídeo Bônus
(A partir deste vídeo compartilhado, criou-se uma saudável engrenagem produtora deste texto).
Mhario LIncoln
Presidente da academia Poética Brasileira.