*João Ewerton.
(Eu e o meu amigo Vovô fundador do Ylê Ayê. Grande personalidade da cultura nacional. A quem tive a felicidade de encontrar ontem a noite nos bastidores do boi Caprichoso aqui no bumbódromo de Parintins).
Ao começar a narrar minha viagem ao Amazonas, de Manaus até Belém, sinto-me compelido a citar o Salmo 24, versículos 1 e 2: “Do Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam. Porque ele a fundou sobre os mares, e a firmou sobre os rios.” Este salmo, como tantas outras passagens da Bíblia, revela verdades que a ciência e a tecnologia têm sido desvendadas ao longo dos séculos. Entendemos hoje que a presença de rios densos e de águas que sustentam a terra são cruciais, e que a retirada dessas águas pode provocar desastres.
Mas, ao trazer estes versículos à tona, quero enfatizar que a abundância de água em uma região indica a potencialidade de riquezas que podem ser geradas ou descobertas. A Amazônia, com suas vastas extensões de rios, é um testemunho vivo dessa generosidade natural e nos convida a meditar sobre a grandeza de Deus e a riqueza do nosso país.
Antes de mergulhar nas águas majestosas do Amazonas, preciso compartilhar a travessia pelo ar, onde enfrentamos desafios que precisam ser discutidos. Nos anos 70 a 90, o Brasil contou com um dos melhores serviços de bordo do mundo, fornecidos por companhias como VARIG, Cruzeiro, VASP e Transbrasil. No final da década de 90, a GOL revolucionou o mercado ao retirar o serviço de bordo com a promessa de passagens mais baratas, promessa essa que não se cumpriu. O preço subiu e a qualidade despencou. Hoje, a GOL, com as tarifas mais altas do mercado, vende fast food de péssima qualidade a preços exorbitantes.
Além da piora no serviço, os passageiros eram privados do direito de levar bagagens sem custo adicional, e agora enfrentam rotas absurdas e torturantes. Em uma estratégia clara de aumento de lucros, as operações aéreas são realizadas por meio de rotas desnecessárias, que consomem tempo e paciência dos passageiros. Não é raro ter que voar de São Luís para Campinas, em São Paulo, para finalmente chegar a Brasília, numa rota ilógica e extenuante.
Outro absurdo é o aumento das tarifas conforme a demanda. Quando os assentos se tornam escassos, os preços se dobram, em vez de disponibilizarem mais aeronaves a preços justos, como ocorre com os serviços de ônibus. Um exemplo gritante é o trecho Manaus-Parintins durante o Festival dos Bois, onde a Azul cobra mais de sete mil reais por passagem, quando normalmente o valor é de seiscentos reais. A Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) e o Ministério do Turismo precisam intervir para proteger os consumidores.
Chegar a Manaus a partir de São Luís, Maranhão, parte da Amazônia Legal, é um desafio. Tenho que voar pela Latam para Fortaleza antes de chegar ao meu destino, já que não há voos diretos ou via Belém. Por outro lado, é revoltante que a lei de meia passagem para idosos só se aplique a navios e ônibus, enquanto as companhias aéreas ignoram tal benefício.
Mas todo esse sacrifício valeu muito à pena, apesar de meu protesto veemente. É que, finalmente em Manaus, após esse périplo intermitente, passei dois dias ajustando detalhes de uma história que começou em Valença, Rio de Janeiro, onde fui secretário de Cultura e Turismo. Lá, descobri o legado do Comendador Luiz Gioseffi Januzzi, um dos arquitetos do Teatro Amazonas. Esta descoberta me levou de volta ao majestoso teatro, e essa história será contada em detalhes na próxima semana.
Volto ao assunto (viagem) apenas para dizer que essa experiência pela qual centenas de brasileiros passam diariamente ré, só vem a reforçar a urgência de uma revisão nas práticas das companhias aéreas no Brasil. É inadmissível que o povo brasileiro continue passando por esse tipo de coisa em seu próprio país. Urge uma intervenção de autoridades que controlam o tráfego aéreo brasileiro, a fim de resgatar a dignidade dos voos por aeronaves comerciais e garantir que uma essa exploração tenha um fim imediato.
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