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“Águas e Folhas do Amazonas” – Reflexões e Memórias. (Episódio 14)

João Ewerton é da Academia Poética Brasileira.

03/11/2024 às 17h42 Atualizada em 03/11/2024 às 18h13
Por: Mhario Lincoln Fonte: João Ewerton
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João Ewerton em arte de JEW.
João Ewerton em arte de JEW.

João Ewerton

  

Ao entrar em Parintins no período do Festival, o trânsito faz a gente se sentir como se estivesse no centro de Nova Delhi, na Índia, devido ao trânsito caótico, repleto de tuk-tuks, o meio de transporte predominante na cidade, os quais se encontram sempre lotados por turistas que fazem neles os pequenos percursos da cidade, evitando a exposição ao sol causticante, que parece se multiplicar em dez para cada pessoa ali naquela iluminada ilha fluvial. Paradoxalmente, o que nos faz perceber que não estamos na Índia são os seus habitantes de matriz indígena, que povoam Parintins em maioria esmagadora, algo que me fez sentir muita alegria, como se estivesse chegando na minha verdadeira casa.

Ao ver a simplicidade e a simpatia intrínseca daquelas pessoas, sou remetido a meditar sobre o quanto esses povos originários, tão hospitaleiros, foram e continuam sendo massacrados pelos senhores poderosos deste Brasil, desde que os infames portugueses profanaram nossas fronteiras para saquear de forma inescrupulosa as nossas riquezas, em detrimento de matar a sangue frio, com requintes de crueldade, muitas vezes pelo simples prazer de matar, todos os indígenas que encontravam pela frente, amparados por uma igreja da época, que gania com os dentes cerrados, farejando riquezas para um Vaticano criminoso, onde, se alguém torcesse o evangelho, veria o sangue dos inocentes inundar todos os seus cômodos opulentos. Era uma Igreja tão mundana e cega pelo poder humano que os padres jesuítas chegaram a dizimar tribos inteiras, escravizando os seus homens, mulheres e crianças, como fizeram com os Amanajós no Maranhão.

É importante deixar claro que toda essa barbaridade foi fundamentada no “racismo científico”, aquela teoria mefistofélica respaldada por uma teoria pseudocientífica que ganhou força na Europa entre o século XIX e a primeira metade do século XX, que justificava a superioridade das "raças europeias" com base em ideias distorcidas de biologia e antropologia, inspirada por teorias de evolução e eugenia.

Com essa fundamentação escabrosa, o racismo científico buscava classificar grupos humanos de acordo com características físicas e culturais, atribuindo valores de superioridade e inferioridade a cada "raça", onde teóricos como Arthur de Gobineau e Herbert Spencer argumentavam que a "raça branca", especialmente a europeia, era superior em inteligência e moralidade, legitimando o requinte de crueldade aplicado na colonização e na escravização de outros povos, justificando políticas de segregação racial, desigualdade econômica e o genocídio de minorias, o que veio culminar na ideologia criada pela Alemanha nazista, que as utilizou para embasar políticas de eugenia, como a esterilização forçada e o extermínio em massa de grupos considerados "inferiores", tendo a sua culminância no Holocausto dos judeus.

Esse racismo se acirrou no período das navegações e foi a base para o massacre registrado na história das colônias americanas e das demais da África e Ásia, por espanhóis (um dos mais cruéis invasores), ingleses e portugueses, levando escritores brasileiros, como Gonçalves Dias e Castro Alves a se debruçarem sobre esse tema em defesa dos povos brasileiros de matrizes indígenas e dos povos de matrizes africanas que foram sequestrados para cá. Por isso, os seus poemas exaltam tanto as qualidades físicas e morais dessas etnias.

Esse racismo científico só foi abolido na Europa depois do final da Segunda Guerra, porque os países foram obrigados pela opinião pública mundial a condenar as ações de Hitler contra os judeus. Todavia, ainda hoje, Hollywood, uma indústria de judeus, insiste em manter de forma subliminar esse conceito em suas produções, sempre destacando os cidadãos norte-americanos e os judeus como seres superiores aos demais povos, mesmo tendo o povo judeu passado pelos horrores de Auschwitz.

O fim do tal racismo científico só aconteceu por força dos judeus, donos de todas as grandes empresas de comunicação do mundo, o que nunca aconteceu quando a Bélgica torturou, mutilou, e chacinou o povo congolês, sob a batuta do homem mais cruel da história, o infame Leopoldo II, que tratou o Congo como sua propriedade particular e dizimou quase 15 milhões de homens, mulheres e crianças, além daqueles que deixou com mãos, braços e pés decepados por não conseguirem cumprir as metas que estabelecia para o garimpo de diamantes. O número de vítimas do Congo é mais que o dobro dos judeus mortos pelo nazismo; contudo, nunca houve uma manifestação dos governos europeus contra tal barbaridade praticada pela Bélgica, que até a presente data faz de conta que nada aconteceu com aquele povo congolês, afinal era um genocídio de negros, por que o velho continente branco iria se importar?

As críticas contra as atrocidades belgas foram limitadas a círculos ativistas e intelectuais, enquanto muitos governos europeus mantiveram silêncio sobre o assunto, principalmente devido aos interesses coloniais próprios, pois todos eles eram ladrões dos tesouros dos mais desarmados. A França, por exemplo, possui mais de 9 toneladas de ouro em sua reserva sem ter uma mina de ouro sequer, assim como outros ladrões: Espanha, Inglaterra, Portugal, Holanda, etc.

Sobre o racismo científico. (Original do Texto).

O que me incomoda muito, como descendente de matriz africana, é que a maior mina de diamantes do Brasil é explorada por uma mineradora belga, a Lipari Mineração, que explora diamantes em Nordestina, na Bahia. Para mascarar a presença belga no estado com maior número de descendentes congoleses, eles criaram essa empresa de fachada para esconder o verdadeiro dono da exploração, e dessa forma, talvez conseguir a isenção do imposto de exportação eles exportam o diamante bruto, pois produto brasileiro não manufaturado não paga imposto para exportar. Enquanto o verdadeiro dono dessa exploração é o grupo belga ODC - Ocean Diamond Company. Eles exploram a Mina Braúna, que é a única mina de diamantes em rocha kimberlítica em operação no Brasil e a maior mina de diamantes da América do Sul.

Essa mineradora Lipari, possui uma planta de beneficiamento com capacidade de 2.500 toneladas ao dia e funcionamento 24 horas por dia, 7 dias por semana, alimentando um circuito de britagem e peneiramento que mantém um circuito de concentração por meio denso com capacidade de 150 toneladas por hora, abastecendo 6 máquinas de raio-X para a recuperação de diamantes, estas localizadas no Prédio de Recuperação Final, sob um sistema de segurança máxima. Essa planta também possui um circuito integrado para recuperação de diamantes grandes, com uma tecnologia conhecida como XRT.

As receitas brutas de vendas dessa mineradora totalizam mais US$ 209,8 milhões de dólares, significando, pela média do preço do dólar, um montante superior a 12 bilhões de reais, resultado da venda de 1.132.970 (um milhão cento e trinta e dois mil novecentos e setenta) quilates de diamantes brutos.

Como toda empresa extrativista, a Lipari Mineração diz ter um compromisso com o desenvolvimento sustentável e com a comunidade local, mas durante esse período todo, segundo registros na internet, a empresa diz ter realizado ações focadas em saúde, educação, capacitação profissional e apoio agrícola sustentável. A ação mais significativa dela para com a comunidade de Nordestina, foi a doação de uma ambulância UTI móvel em 2017, além de uma reestruturação do Hospital Municipal Dr. Otto Alencar, para o qual a Lipari doou alguns equipamentos médicos essenciais, como desfibriladores, ventiladores, equipamentos de intubação e outros materiais hospitalares de apoio.

Além do foco em saúde, a Lipari diz ter apoiado o desenvolvimento de projetos educacionais e profissionalizantes, buscando gerar oportunidades de trabalho e promover a autonomia econômica com projetos de agricultura sustentável em pequena escala, projetados para oferecer alternativas de renda à comunidade. Ou seja, sempre focada em manter a comunidade na pobreza, como todos os grandes exploradores das nossas riquezas: levam a riqueza local que pertence ao povo brasileiro e em troca delas, eles dão “espelhos”. Normalmente simulando ações cujos custos não alcançam nem 0,001% do valor retirado das terras daquele município, as quais, só Deus sabe, como ficarão depois que eles esgotarem as suas minas e forem embora. Por esse motivo, sou contra os discursos idiotas daqueles que defendem o extrativismo como renda para a população, porque nossas riquezas estão sendo exploradas desde 1500, mas o povo não tem acesso ao valor do que é retirado da nossa pátria, e, assim como no Congo, ainda no século XXI, os guardiões da Amazônia continuam sendo assassinados por gigantes do petróleo, por garimpos ilegais financiados por grandes interesses e por madeireiros, além de todos aqueles que insistem em destruir a Amazônia em busca de dinheiro fácil, driblando a morosidade do governo, que falha em detê-los, obrigando as comunidades indígenas a enfrentar fisicamente os motosserras, expor vazamentos de petróleo e lutar contra o garimpo ilegal.

Isso coloca um alvo em suas costas, tornando-os sujeitos a ameaças de morte, sequestros, torturas e coisas ainda piores, porque, se esses bravos defensores forem silenciados, a Amazônia perderá sua última linha de defesa. Segundo levantamentos de organizações de defesa dos direitos humanos, mais de um em cada cinco assassinatos de defensores da terra e do meio ambiente no mundo, registrados em 2022, ocorreram na Amazônia, segundo um levantamento da organização não governamental Global Witness, que classificou o Brasil como o segundo país mais letal para ativistas ambientais no mundo, seguido pela Colômbia e México, respondendo por mais de 70% dos casos em todo o mundo, o que é equivalente a 125 mortes, entre os quais mais de 36% em 2022 eram de origem indígena, seguidos por pequenos agricultores (22%) e por afrodescendentes que somam aproximadamente 7%.

Os povos indígenas representam cerca de 6% da população mundial. Para o secretário-geral da ONU, eles são “os guardiões do conhecimento e das tradições” que ajudam a proteger algumas das zonas com maior biodiversidade do planeta. Contudo, nessa luta desigual, temos notícias positivas da etnia Puyanawa, uma das 15 que habitam o estado do Acre, onde cerca de 93% do território desse povo indígena ainda é coberto por florestas.

Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), por meio dessa estratégia, os Puyanawa estão provando que a sustentabilidade e o crescimento econômico podem andar de mãos dadas, contrariando os arautos da destruição da extrema direita que insistem em explorar de forma irresponsável, deixando em seus rastros a destruição e os povos donos das terras sem direito a nada, como tem sido desde Cabral até agora.

É bom frisar que o Brasil não é o maior exportador de soja, nem o segundo de milho, nem o primeiro em carne bovina. Na verdade, o Brasil está sendo explorado, destruído e seu povo condenado à miséria pelos exploradores das terras brasileiras que cultivam soja, milho e criam gado, porque o Brasil nem se beneficia com nada disso. Ao contrário, assim como a coroa portuguesa fazia, os plantadores de soja, além de não criarem empregos, destroem o ecossistema local com os famosos “correntões” amarrados em tratores que desmatam tudo, ou com incêndios florestais, não deixando a reserva florestal que a lei obriga para cada propriedade, pois esse corredor para os animais impediria suas máquinas de trabalhar em regime direto. ´

Além disso, os produtores de soja destroem as estradas com seus bitrens, contaminam os rios com inseticidas e exportam os grãos para não pagar impostos, pois, se industrializassem a soja, teriam que pagar, pois não seriam amparados pela Lei Kandir, ou Lei Complementar nº 87/1996, que isenta o pagamento do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre as exportações de produtos primários, semielaborados ou serviços. A lei foi criada pelo então ministro do Planejamento, Antônio Kandir, no governo de Fernando Henrique Cardoso. Enfim, quando a terra não produz mais nada, os donos da soja a deixam devastada e, junto com ela, deixam a seca e a destruição, conforme já está acontecendo com o Rio Grande do Sul e o Pantanal.

De repente, acordo dos meus devaneios sobre as inquietantes mazelas brasileiras, quando o táxi para no cruzamento da Rua Cordovil com a Avenida Amazonas e me deparo outra vez com os grupos eufóricos de “jovens bacantes” aqueles que desceram da Madame Crys, ensandecidos de pela ansiedade, e que agora se mostram aflitos ao atravessar a avenida, aproveitando a intervenção da Guarda Municipal com seus apitos estridentes, como o canto do pássaro ferreiro, que tenta organizar a bagunça generalizada que se formou com o engarrafamento dos inúmeros tuk-tuks conduzidos pelos descendentes dos Parintintins.

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joao ewertonHá 4 semanas São LuísCara Maricéia de Jesus, não sei do que existe no subsolo do Axixá, por isso, não posso avaliar o tipo de perigo que ele possa estar correndo. Tenho certeza apenas de uma coisa: com os tipos de administradores que tem tomado o poder no Maranhão, qualquer tipo de bens dos municípios estão em perigo. Salvo raríssima exceção, a qual eu não saberia nominar, por desconhecer seu trabalho. Vamos rezar por Axixá, que é o criador do boi de orquestra e ainda mantém o boi mais original do sotaque do Munin.
joao ewertonHá 4 semanas São LuísRaimundo Santos. Negro e Umbandista. Obrigado pela força meu irmão de África. lutar por nossos antepassados é uma forma de agradecimento pela bravura deles em sobreviver a todas as atrocidades que passaram. Não temo as ameaças de morte, já vivi muito, não seria hoje que ia me intimidar aos 67 anos. Nossa história é muito cara e sofrida, mas nossa raça é muito rica em conhecimentos que a Europa tentou apagar e os extremistas voltaram a atacar no Brasil. Venceremos! AXÉ!
joao ewertonHá 4 semanas São LuísLilian Freitas, obrigado pelas boas palavras. É nossa obrigação neste momento de tanta confusão de informação, sempre trazer assuntos como esses com embasamento científico e histórico, para que se entenda melhor o presente. Sempre estarei na luta, isso é o que faço a 50 anos de trabalho com arte e educação engajados.
joao ewertonHá 4 semanas São LuísWladimir Moreira Lopes (jornalista Wlad Moreira), como poderia eu considerar uma amigo, uma pessoa que quer me impor a censura gratuitamente? Senhor, se aos 67 anos de idade, ainda tiver que omitir minha opinião para satisfação de terceiros, me desculpe, mas eu estaria negando a minha história e a minha obrigação, como um nome nacional, de dar voz aos que não conseguiram eco. Essa é a função do artista. Um jornalista que quer que, uma série de "Reflexões e Memórias" não opine sobre o tema?Ótimo!
joao ewertonHá 4 semanas São LuísCaro Jacintho José Militão, obrigado pelas suas palavras, pois elas servem como um grande incentivo para se continuar debruçado sobre a verdadeira e difícil história do nosso amado país. Obrigado de coração.
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