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O episódio (05) da saga: “Aguas e Folhas do Amazonas” – Reflexões e memórias"

João Ewerton é membro-efetivo da Academia Poética Brasileira.

21/08/2024 11h25 Atualizada há 2 semanas
Por: Mhario Lincoln Fonte: João Ewerton
Ewerton no Teatro Amazonas.
Ewerton no Teatro Amazonas.

 

João Ewerton
(Episódio 5)


Existe um exercício básico que fazemos quando estudamos interpretação de texto no teatro, que trata da mudança do sentido da frase conforme se usa ou não uma vírgula: “Matar o rei não, é pecado” e “Perdão, impossível que ele seja mandado para a Sibéria.” Em ambos os casos, basta retirar a vírgula e o pior acontece.


Deveria ser feito um teste desses também para que as pessoas pudessem comentar as publicações na internet, porque o que vivenciamos hoje é uma série de confusões nas redes por conta de leituras equivocadas e interpretações absurdas que levam a verdadeiras guerras, simplesmente porque as pessoas não sabem ler pontuação, ou simplesmente entram num surto de esquizofrenia que as cega para o verdadeiro sentido do que leem, passando a vislumbrar uma situação bem distante do que quem escreveu pretendia comunicar.


Iniciei com esse assunto porque, nessa jornada de publicações na internet, tenho me deparado com situações absurdas que tentam desvirtuar o que foi escrito, para conformá-lo a uma ótica pessoal com o firme propósito de “causar”, da mesma forma que pessoas sem conteúdo filmam qualquer acidente que cause prejuízos físicos ou morais a terceiros, intentando viralizar nas redes por absoluta pobreza de espírito, o que lhes impede de criar qualquer expressão pessoal que interesse à audiência invisível que esse “pobre diabo” imagina ter no limbo por onde vaga.


Não pretendo fugir do foco do assunto do Amazonas, mas antes, pelo citado acima, volto à questão da poluição sonora e da péssima qualidade musical da vida noturna do centro de Manaus, que é igual à de qualquer capital brasileira, inclusive patrocinada pelo dinheiro público nos eventos de massa, promovidos por prefeitos e secretários desprovidos de qualquer informação ou respeito à cultura local, a qual eles desmontam criminosamente, substituindo-a pelos “grandes sucessos” da boca do lixo que imperam hoje no cenário musical mundial.


Muitos dizem por aí que as melhores músicas foram produzidas nas décadas de 60 a 90, e isso é verdade. Não porque os bons compositores tenham deixado de existir, mas porque a indústria fonográfica, assim como a televisão, o rádio e os atuais meios de comunicação, são instrumentos que servem aos grandes interesses do capital e do poder, que regem as nações, determinando quem entra e quem sai no jogo das cadeiras do poder.

Dessa forma, a música, como a expressão artística que mais envolve o ser humano, sem recrutar as outras atividades que essa pessoa esteja executando, através dos equipamentos de áudio e radiodifusão, tem a capacidade de alcançar desde os grandes escritórios das gigantes até a doméstica que prepara seus afazeres diários, ou um estudante que está debruçado sobre seus estudos. A música alcança a todos e tem a vantagem de viajar pelas ondas dos rádios, alcançando rincões impossíveis para outras linguagens de arte. Por isso, foi a arte mais tratada para alcançar efeitos psicodinâmicos, tornando-se uma das ferramentas mais poderosas para a mudança do comportamento humano nas últimas décadas.

 

A corrupção. (Arte: MHL).

Ainda que não se tenha certeza de que essas ações diabólicas tenham sido imputadas à família Rockefeller, como ecoam as cogitações na teoria da conspiração, o certo é que o efeito psicodinâmico é real, e o marketing sabe disso. O pior é que o marketing brasileiro corre de rédeas frouxas, sem nenhuma regra ética que o coíba, porque os políticos têm interesse em que ele permaneça sem regras, para poder tê-lo do jeito que o “diabo gosta” nas campanhas políticas, onde o pior político é beatificado por meio de palavras, músicas e cores, sob densa dose de psicodinâmica, sem nenhum escrúpulo.


Diante do atual panorama do marketing no Brasil, correndo à revelia do desejo de quem quer manipular a opinião pública, podemos afirmar, sem medo de errar, que o marketing irresponsável como tem sido praticado, é a maior causa de mortes anônimas no Brasil, se considerarmos que eles vendem tudo de forma inescrupulosa, indo o seu leque de produtos desde; políticos corruptos, medicamentos com graves contraindicações, alimentos nocivos, carros perigosos, etc. Em Brasília existe agência de marketing especializada em trabalhar a imagem de políticos corruptos que foram expostos publicamente.

 

Enfim, é um assunto extenso, que daria teses e mais teses, mas tenho que voltar ao meu tema. Para finalizar, quero apenas lembrar que o funk e as músicas binárias do dancing são utilizadas para que suas frequências mexam com os quadris e a libido. Daí as letras explícitas do funk e as danças “rebolantes” da atualidade. Resumindo: o som que um país escuta não é tendência de moda ou de arte, mas um nível de comportamento humano que o sistema quer que a massa assuma para facilitar a sua dominação e ampliar o seu capital.


Voltando ao centro de Manaus, naquela tarde, conforme planejei, saí a pé e fui direto para o Teatro Amazonas, para matar a saudade dessa casa de espetáculos maravilhosa, considerada a mais bela do Brasil, obra que foi coordenada pelo arquiteto italiano Celestial Sacardim e contou com a participação de diversos arquitetos, construtores, pintores e escultores da Europa, tendo sua construção iniciada em 1884, e foi inaugurado no dia 31 de dezembro de 1896.


Depois da visita interna ao Teatro Amazonas, matando a saudade dos nossos dias de glória naquele palco, segui pela Rua Barroso e fui até o porto para verificar todos os locais e procedimentos que eu deveria cumprir na madrugada seguinte para embarcar na Madame Cris. Foi um passeio muito agradável, em que pude contar com o simpaticíssimo povo manauara, que faz questão de ser gentil e de sempre oferecer, além do trato carinhoso, um belo sorriso radiante, tal qual o sol que banha os nossos trópicos.


À medida que eu me aproximava do porto, a vibração de euforia e alegria ia crescendo, embalada pelas músicas inconfundíveis dos dois seres mitológicos de Parintins: os Bumbás, Garantido e Caprichoso.


Mais uma vez, a música merece destaque, porque, nesse caso, ela é resultante de um processo cultural que dependeu da iniciativa popular dos criadores do produto cultural de Parintins. Falarei mais adiante sobre esse que é, sem dúvida, o produto cultural mais famoso do Brasil, mais que o Carnaval do Rio, porque, quando se fala em Carnaval do Rio, a nossa imagem se desfoca em diversas atrações famosas, enquanto o Festival de Parintins nos remete imediatamente aos dois bois e nada mais.


O trabalho de marketing do festival é tão impressionante que, hoje, esse evento toma conta da alma do povo do Amazonas por inteiro, principalmente do povo de Manaus, que chega a ter pontos decorados com elementos do festival, e também tem, no final de semana seguinte ao festival, uma grande festa dedicada ao campeão do ano.


Toda a calçada do lado do porto de Manaus estava tomada por vendedores de lembranças, adereços e camisas customizadas para o grande festival. Ali, naquele local, quem vai embarcar fica mais eufórico, e quem não vai deve ficar até deprimido, porque o clima de festa por ali é alucinantemente contagiante.


Depois de me informar com diversos ambulantes, enfim cheguei ao píer da Madame Cris, um ambiente portuário com equipamentos novos, limpos e um pouco high-tech, onde simpáticos atendentes me deram todas as coordenadas para o embarque. Mais do que nunca, eu queria que chegasse logo a hora de embarcar, devido ao clima do porto e ao grande número de pessoas que chegavam nos píeres vizinhos, lotados de embarcações de maior porte. Mas tive que aguardar até a madrugada seguinte, pois as lanchas a jato só viajam no final da madrugada, entre quatro e cinco horas. Madame Cris, como se garante, viaja uma hora depois e chega em Parintins junto com outras que saíram primeiro.

25 comentários
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joao ewertonHá 6 dias São LuísLincoln Machado, realmente essa é a realidade em que vivemos. Disseste tudo.
joao ewertonHá 6 dias São LuísDr. José Gama, é triste, chocante, mas é a grande verdade. Está longe de ser economia criativa ou empreendedorismo.
joao ewertonHá 6 dias São LuísLuiz Xaomi, Professor Universitário. Pós-Graduado. amigo, concordo plenamente com o teu lúcido comentário. Uma das coisa que mais me chamou atençaõ nos espeáculos dos dois bois, foi o respeito pelas informações das matrizes origiárias indígenas e africanas. Tanto que este ano a música mais executada nas plataformas de música fo o Málúù Dúdú do caprichoso que significa boi preto ou vaca preta na língua iorubá., e teve o objetivo de aproximar mais o boi das matrizes africanas.
joao ewertonHá 6 dias São LuísJames Bartô, ator e manequim profissional, fico feliz com seu comentário e mais feliz ainda por saber que tenho lhe causado boas emoções a ponto de voltar para ler os outros episódios. Abraço
joao ewertonHá 6 dias São LuísMarcondes Lima, Amigo, tentei mas não desceu ouvido abaixo rsrs
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Sobre COLUNISTA JOÃO EWERTON
Um dos mais aplaudidos roteiristas de cinema da atualidade, o escritor, designer gráfico, diretor e pensador das artes de representar, dá ao Facetubes, a honra de compor seu quadro de colunistas, o que o faz, em altíssimo nível.
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