José Neres – Graduado em Letras, História , Pedagogia e Design Editorial. Especialista em Literatura Brasileira, em Pedagogia Empresarial e Educação Corporativa, em Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa e Espanhola, em Educação Ambiental e Sustentabilidade, pela Uninter. Mestre em Educação pela Universidade Católica de Brasília e Doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional na Uniderp. Professor de Língua Portuguesa e Literatura. Escritor. Membro da AML, ALL, APB e da Sobrames-MA. Possui diversas obras publicadas, nos mais distintos gêneros literários, além de acadêmicas. É coorganizador do livro MURAL DAS MINAS: Antologia Literária Feminina Maranhense.
O Maranhão é uma terra privilegiada em termos culturais. É muito difícil alguém caminhar pelas ruas de qualquer uma de nossas cidades e não se deparar com algum artista. Pintores, escultores, músicos, cantores, escritores, dançarinos, compositores, mímicos, atores e muitas outras pessoas envolvidas com as artes parece que aparecem de repente diante de nós, como se surgissem do nada.
Mas…
Sempre tem um “mas”. Mas parece que esses artistas de múltiplos talentos são invisibilizados por alguma força estranha à nossa própria vontade, passando a nítida impressão de que, para tentar alcançar o merecido sucesso, a pessoa precisa sair de sua terra natal e tentar a sorte em outros recantos. Isso vem ocorrendo há décadas. Talvez há séculos e permanece como um indevassável mistério sem a devida solução.
Que dizer então das mulheres que produzem arte em nossa terra? Que dizer dessas mulheres que dividem o pouco tempo disponível que lhes resta e ainda encontram disposição para criar e disseminar arte? Que dizer dessas mulheres que peregrinam em busca de um apoio que nem sempre vem? Que dizer dessas mulheres que tantas vezes nem mesmo um simples e sincero aplauso recebem?
É preciso fazer algo para tentar corrigir essa distorção.
Em nossa terra, que muitas vezes só aparece nos noticiários nacionais em função do baixíssimo IDH, da pobreza quase absoluta de grande parte da população ou por causa de algum escândalo, há uma infinidade de talentos que precisam ser vistos, lidos e comentados, contudo falta um trabalho de divulgação. No caso específico da produção literária de autoria feminina, poucos são os estudos que se concentram nesse gigantesco e fértil terreno para estudos. Claro que há artigos, monografias, dissertações e teses sobre obras, autoras ou temáticas específicas da produção intelectual de nossas escritoras. Mas, quase sempre, tais estudos ficam restritos a uma pequena parcela da população.
Claro que há estudos importantes sobre a produção literária das mulheres maranhenses, como é o caso do livro As aves que aqui gorjeiam – vozes femininas na poesia maranhense, do acadêmico e pesquisador Clóvis Ramos; e No Pantheon, livro de Maria Thereza de Azevêdo Neves, no qual a autora estuda vinte e seis personalidades femininas de diversas áreas da cultura maranhense “de ontem e de hoje”, como fez questão de frisar a autora no sumário do livro. Contudo, o livro de Clóvis Ramos foi publicado em 1993 e há muito tempo está esgotado. O de Maria Thereza de Azevedo Neves é mais recente, de 2019, mas por conta do período pandêmico que assolou nosso planeta no ano seguinte, não teve a merecida divulgação.
Foi então que o jornalista, professor e escritor Marcos Fábio Belo Matos teve a feliz ideia de divulgar a produção literária de escritoras maranhenses contemporâneas nas páginas do jornal O Progresso – um dos mais importantes veículos de comunicação e também no site Região Tocantina. As escritoras encamparam o projeto e passaram a contribuir com seus textos, e o que parecia ser algo esporádico ganhou corpo e se transformou em um projeto capaz de reunir pessoas que talvez nem mesmo se conheçam pessoalmente, mas que comungam dos mesmos objetivos.
Após as primeiras publicações, a caixa de mensagem de Marcos Fábio começou a ficar repleta de textos, nomes e sugestões de novas escritoras. Aquilo de que já suspeitávamos por hipótese acabou se confirmando de modo empírico: temos um verdadeiro tesouro literário oculto em nosso Estado.
Há muito tempo as mulheres deixaram de exercer o papel apenas de musas, personagens ou de consumidoras de obras literárias e assumiram outros papéis decisivos: o de produtoras, de divulgadoras e incentivadoras de novas publicações. Desse modo, o Maranhão, que já contava com nomes de suma importância, como Maria Firmina dos Reis, Mariana Luz, Laura Rosa, Dagmar Destêrro, Conceição Aboud e Lucy Teixeira, agora tem divulgadas outras cinco dezenas de nomes que também merecem destaque em nossa plêiade de escritoras.
Possivelmente, muitas das escritoras que aparecem nas páginas deste livro são desconhecidas até mesmo para quem estuda com afinco as letras maranhenses. Isso é uma demonstração inequívoca de três situações que são complementares entre si. 1) há muitas mulheres produzindo e que precisam de algum tipo de espaço para mostrarem seus trabalhos; 2) a produção literária maranhense contemporânea de autoria feminina abarca uma profusão de estilos e de temáticas que merece maior atenção por parte dos estudiosos; 3) não é por escassez de artistas da palavra que a literatura maranhense irá perecer nas próximas décadas.
Uma das provas do que foi dito acima é que, assim que cada pessoa começar a folhear o livro irá imediatamente sentir falta de determinadas escritoras que poderiam (e mereceriam) estar aqui. Isso ocorre pelo fato inconteste de que existe um número muito grande de mulheres que produzem literatura em cada município do Estado, o que faz com que cada tentativa de mapeamento esteja sempre fadada à incompletude. E isso é bom. Ruim seria se, nas páginas deste trabalho, toda a produção das escritoras maranhenses pudesse ser abarcada.
Mas…
Como foi dito antes, sempre existe um “mas”. O projeto “Mural das Minas” não termina com a publicação deste volume. Na verdade, este livro é apenas o início de um longo percurso que apenas se inicia. Há muito mais a ser estudado. Há muitas escritoras que aparecerão nos próximos volumes.
Agora é aguardar para ver, ler e crer. Temos certeza de que vale a pena esperar.
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