Redação do Facetubes
Três décadas após a morte de Andy Warhol, o excêntrico gênio por trás da Pop Art, novas investigações lançam luz sobre os últimos momentos de sua vida, revelando que sua morte pode ter sido mais complexa do que se imaginava. Avesso a hospitais e procedimentos médicos, Warhol lidou com problemas crônicos na vesícula biliar por quase quinze anos, mantendo uma rotina exaustiva e escondendo sua fragilidade por trás de uma fachada de normalidade, até que a situação se tornou insustentável.
Warhol, além de seu talento artístico, era conhecido por seu comportamento singular. Em seus últimos meses de vida, tentou evitar a cirurgia a todo custo, chegando a implorar ao cirurgião Bjorn Thorbjarnarson por uma alternativa, oferecendo-lhe uma grande soma de dinheiro para escapar da intervenção. “Eu faria de você um homem rico”, teria dito o artista, desesperado.
Quando finalmente chegou à sala de cirurgia, a situação era crítica: sua vesícula estava em estado avançado de decomposição e gangrena, como revelou o cirurgião aposentado e historiador médico Dr. John Ryan, após anos de pesquisa. Segundo Ryan, Warhol estava desidratado, mal nutrido e ainda sofria com as sequelas do atentado de 1968, quando foi baleado por Valerie Solanas. O atentado havia danificado nove órgãos e deixado uma hérnia abdominal que o atormentou pelo resto de sua vida.
Em reflexões sobre o episódio traumático, Warhol chegou a afirmar: "Antes de me atirarem, sempre pensei que eu fosse mais vazio do que realmente era". Essa frase oferece uma janela para a complexidade emocional do artista, cuja imagem pública frequentemente se resumia à superfície, tanto em suas obras quanto em sua vida pessoal. No entanto, o relato do Dr. Ryan sobre os últimos dias de Warhol mostra um homem que, apesar da saúde debilitada, resistiu à mortalidade com a mesma determinação com que desafiava as normas artísticas.
O ataque de 1968, realizado por Valerie Solanas, também deixou cicatrizes profundas na vida do artista. Solanas, uma feminista radical autora do manifesto "SCUM", baleou Warhol dentro de seu estúdio, The Factory, um espaço conhecido por ser um centro vibrante de criatividade. O impacto da tentativa de assassinato não apenas abalou fisicamente o artista, mas também transformou o ambiente de sua oficina, levando ao aumento das medidas de segurança e à criação de uma atmosfera mais reservada.
Solanas entregou-se à polícia após o atentado, alegando que Warhol controlava sua vida e tentava roubar suas ideias. Condenada a três anos em um hospital psiquiátrico, sua figura tornou-se um símbolo controverso do feminismo radical. Seu "SCUM Manifesto" criticava ferozmente a sociedade patriarcal, e, ao longo dos anos, sua obra passou a ser vista sob uma ótica mais crítica, com estudiosos como Avital Ronell a comparando a personagens trágicas como Medeia e Antígona.
O atentado, ofuscado pela morte de Robert Kennedy poucos dias depois, marcou um divisor de águas na vida de Warhol, forçando-o a viver com o medo constante de novos ataques. Embora amigos e associados guardassem rancor de Solanas, Warhol preferiu não reviver o trauma, mantendo silêncio sobre o episódio.
O legado de Warhol, no entanto, permanece intacto, e sua figura continua a ser lembrada como uma das mais brilhantes da arte moderna. A revelação das circunstâncias de sua morte, trinta anos depois, não só o humaniza, como também reforça o impacto de sua batalha pessoal contra as limitações físicas e o medo da mortalidade. Um gênio que, até o fim, desafiou convenções, tanto na arte quanto na vida.
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