(De Mhario Lincoln). Numas das muitas marugadas que falamos, em 2020, Olinto Simões decidiu me enviar um texto que acabara de formatar, a fim de que eu, se quisesse, publicar no Facetubes. O interessante é que o dia amanheceu e continuávamos a discutir sobre "O inexorável tempo" e outros termas "absurdos", ligados ao texto que acabou tornando-se um dos últimos, publicados nesta Plataforma. Mas prendemo-nos mais ainda quando o tema foi "inclusão", falando acerca da bela obra de Sharlene Serra. Vale o replay:
"Reclusão..., Exclusão..., Inclusão!"
Olinto Simões
Durante toda minha vida, ou seja, desde pequeno até agora, sempre notei que vivia numa humanidade em Reclusão. Pessoas que eu pensava livres, eram na realidade enclausuradas, viviam como recolhidas freiras a determinado Carmelo.
Levei anos para entender que a reclusão daquelas pessoas nada mais era que a fuga da realidade, de uma realidade que não queriam ver, porque afinal de contas vivam de acordo com os mandos da Santa Madre Igreja, que já na idade média nominava as pessoas que nasciam com problemas que iam de uma simples incapacidade física até sérias lesões cerebrais e/ou malformações congênitas, ratificando, nominava todas essas pessoas, como..., um castigo de Deus.
As religiões discriminavam, perseguiam e não raramente instigava aos comuns, a rejeição daqueles que de alguma maneira não tinham uma aparência normal. Quem sobrevivia, era à custa de poucas pessoas diferentes, que guardavam sentimentos de compaixão, por entender que aqueles diferentes, de alguma maneira, eram iguais.
Em toda a história da humanidade, gente que tivesse problema sensorial ou cognitivo não se enquadrava na estrutura social, organizacional ou humanitária.
Para não me ater apenas a um tempo passado, tempo em que a ignorância se fazia notar em cada atitude, desde o mais paupérrimo súdito ao mais rico dos reis, passando pelos cléricos que sempre junto à nobreza se mantinham, cito contemporaneamente os procedimentos das populações dos brasileiros natos, os verdadeiros filhos deste chão, os índigenas, que matam a criança recém-nascida se ela apresentar algum tipo de deficiência. É..., isso acontece no Brasil..., e não é crime. Pode até parecer incrível, mas, as pessoas são assassinadas..., porque "Não Nasceram Perfeitas", são de pronto momento, colocadas pela maioria que se pensa consciente..., em Exclusão...
Absurdos à parte, ignorância idem, o tempo passou, passa e continuará passando, porque só ele, o inexorável senhor da razão, tem condições de transformar o absurdo em algo factível, fazendo com que pessoas mais esclarecidas possam chegar ao mundo, integrar a sociedade, e mudar o sentimento de humanidade para uma conduta que tenha ao menos um pouco de luz, porque parece que as pessoas vivem em completa escuridão de entendimentos.
Certa tarde, recebo o convite para assistir uma palestra que aconteceria numa Casa De Leitura, o que só pelo nome do lugar, me caiu aos ouvidos quase que como uma sonora poesia em ritmo e suavidade de coisa boa.
Chego ao endereço e encontro de imediato, em primeiro plano, no meio de um pequeno gramado frente ao alpendre da propriedade, uma obra de arte, representada por livros, harmonicamente empilhados e convidativamente expostos como que a representar que ali, naquele ambiente, havia cultura, mas, livro fechado é igual a remédio dentro da caixa, não faz efeito.
Me aproximo em deleite ao que via, e num repente, como se fosse total sincronia de duas cenas, vejo chegar uma luz, uma Aura que mesmo à luz do sol vespertino, chamava a atenção de quem sensibilidade para isso, tivesse.
A tal aura, envolvia uma pessoa, uma mulher de estatura convencional, cerca de 1,65 m., simples na maneira de vestir, mas, com um sorriso tão iluminado quanto a aura que detinha.
Trâmites dentro da normalidade, abertura dos trabalhos e as verdades começaram a brotar nas palavras daquela moça, como flores semeadas em terra fértil.
Autora de uma importante coleção de livros, seis, para ser exato, resolveu dar por título uma palavra que define bem, a intenção do que naquelas páginas está escrito. “Incluir”..., é o título, e o nome da autora..., Sharlene Serra.
Optei por fazer um introito tão extenso, para tentar mostrar o quanto de luta e conquista Sharlene resolveu um dia, assumir que faria. Ouvi-la, foi o mesmo que reviver tantas experiências que tive em trabalhos levados a efeito em muitas entidades que cuidam de quem nasceu igual a todos nós, porém, com algum "Quê", de diferente.
Falar sobre o trabalho dela, não me arrisco a fazê-lo, pois, com a Luz que ela tem, não me atreveria a nublar o brilho da exponencial ação tão bem delineada em pouco tempo de conversa.
Cumpre-me aqui, limpando a baba que me escorre pelo canto da boca, convidar quem me lê nesta crônica, a pesquisar, procurar, entrar em contato com a Douta Sharlene, para sair da clausura, sentir-se não recluso, e em liberdade plena, pensar que a exclusão não leva nada a coisa alguma. Se assim o fizer, sinta-se devidamente INCLUSO..., nessa batalha que é de todos nós.
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Olinto Simões, às 4,49 h. da "madruga". (O resto, Mhario, você põe o que quiser) Risos.
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