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A admiração pelo escritor José Sarney por sua forma de urdir, traçar e insculpir, em certos momentos literários

Como ele mesmo escreveu: “... sempre gostei de contar estórias”.

17/10/2024 às 10h12
Por: Mhario Lincoln Fonte: Mhario Lincoln/Wellington Reis
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Eu e meu amigo W.Reis.
Eu e meu amigo W.Reis.

*Mhario Lincoln

 

Semprer admirei o escritor #José Sarney pela sua grande capacidade de urdir, traçar e insculpir. Aliás, ele mesmo escreveu: "(...) sempre tive uma boa memória para a História e, por consequência, para casos que alimentam o gosto da conversa; em síntese, sempre gostei de contar estórias". Um dia, falando com meu amigo Wellington Reis sobre isso, ele decidiu me presentar com o livro "Galope à Beira Mar". Li e fiquei impressionado exatamente com as qualidades que me referi no começo destas linhas. Impressiona. Uma pequena amostra entre às páginas 268 a 271, do referido volume, editado pela "Leya", anotei o seguinte:


"(...) INCENTIVO AOS JOVENS ESCRITORES
Jorge Luis Borges, sempre indicado para o prêmio Nobel, mas nunca escolhido, quase a morrer, na última entrevista que concedeu, em Paris, ouviu um jornalista indagar-lhe se não estava amargurado com a ausência do Nobel em sua biografia. Com ironia, ele respondeu:
- Antigamente, esse prêmio era dado aos grandes escritores por uma extraordinária obra consolidada. Mas, agora, é um incentivo aos jovens.


Referia-se a García Márquez.


A DATA CERTA
Em 1991, fui convidado pelas Nações Unidas para ser membro do Conselho do Meio Ambiente para a América Latina e o Caribe. Dele também fazia parte o grande escritor García Márquez, e ali pudemos iniciar uma boa relação de amizade. Um dos documentos que produzimos naquela ocasião expunha a posição das Nações Unidas na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento - Eco-92.
De início, o nome sugerido foi Amazônia de pé; depois modificamos o título para Amazônia: mito e realidade.
Uma noite, alguns meses depois, eu estava em casa, no Maranhão, quando recebi um telefonema do García Márquez, que me consultava sobre a datação da cerâmica de Marajó, porque alguns diziam ser de seis mil anos; outros, de oito mil.


Eu disse-lhe o seguinte:


García Márquez, você tem tanta autoridade que pode datar do jeito que quiser que a sua será a datação verdadeira. Essas datações por radiocarbono são muito imprecisas, dão apenas uma ideia.
Ele riu muito e pediu:


- Mas eu não vou me arriscar a datar a cerâmica de Marajó, Sarney!


Faça-o você e mande-me essa datação!


Rimos um pouco e, por fim, eu disse:


- Não, não me atreverei a tanto: quem sabe a data exata da cerâmica de Marajó é García Márquez!


Tivemos vários outros encontros; inclusive passamos alguns dias em Caracas, quando era Presidente Carlos Andrés Perez, com um grupo de intelectuais das Américas. Foi quando conheci também muitos daqueles monstros sagrados da nossa literatura americana.
Agora, qual não foi minha surpresa quando saiu uma edição comemorativa dos 50 anos da publicação do Cem anos de solidão! Era uma edição muito bonita e, quando abri o livro, havia a dedicatória:


Ao meu querido amigo Sarney, do Gabo. [Como era conhecido e se assinava Gabriel García Márquez.] (...)".

 

"(...) PEREGRINO JÚNIOR E A POESIA
Peregrino Júnior, grande médico, jornalista e escritor, contava como o desprezo pelo homem de letras era grande em nosso povo: um dia, uma cliente lhe perguntou:
- Doutor Peregrino, o senhor sabe o que me disseram do senhor?
- Não, minha senhora.
-Disseram que o senhor era poeta. Eu não acreditei e repliquei com a maior violência: ele é um grande médico e salvou minha filha!
Peregrino Júnior, com aquele jeitão manso e bom, aquela alma sensível e humana, apenas replicou:
- Minha senhora, as infâmias andam soltas... (...)".


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Nota de MHL: (Impressiona. Aliás, uma pancada no fígado o que se segue: "como o desprezo pelo homem de letras era grande em nosso povo..."
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"(...)
Em conversa com Octavio Paz, ele discorreu sobre o mundo, analisou sua aventura intelectual, os perdedores e ganhadores dos tempos modernos, as frustrações, os rumos da cultura e do pensamento do século, a radicalização ideológica, o impacto dos campos de extermínio e seu afastamento das ideias comunistas.

Contou-me que, na viagem para a Espanha com Neruda, Malraux, Spender, Vallejo, Guillén e o poeta mexicano Pellicer, encontrava-se no trem Ehrenburg, que pediu notícias de Trótski, então exilado no México. Pellicer deu-as, para constrangimento de todos:
- Conheci Trótski em casa de Diego Rivera. Pareceu-me um bom crítico de arte...

 

O COMPOSITOR ROSA
Num programa de TV para jovens, indagaram quem era Guimarães Rosa.
A resposta veio rápida:
- Grande compositor de Chão de estrelas.

 

OS CHATOS
Austregésilo de Athayde tinha sua teoria na Academia Brasileira de Letras. Ele me disse:
- Aqui, Srney, pode entrar bom escritor, msu escritor, não escritor etc. e tal. Só não pode entrar chato. Conviver com eles é duro. (...)".

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Wellington Reis Há 3 semanas São Luís -MaPois é, meu amigo Mário Lincoln, rir e presentear um bom livro ainda é um bom remédio. Rsrsrs.
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