Nos arquivos inéditos do Facetubes, foi encontrada uma entrevista da imortal APB/PR Carmen Regina Dias com SELMO VASCONCELLOS que se tornou, na época, (2010) muito lida pelas redes sociais. Hoje, o (www.facetubes.com.br) reproduz essa entrevista mostrando um pouco da personalidade forte de Carmen, de sua visão literária, especialmente poética, e contanto um pouquinho de sua trajetória profissional. Na foto, Mhario Lincoln e Carmen Dias, uma representação poética desse encontro.
Meu nome é Carmen Regina Dias. Nasci em Bandeirantes, norte do Paraná, em 1952. Sou publicitária por profissão, e cultivo o melhor da vida, a família, os amigos, flores, ervas, oráculos, contemplação e poesia. Amante do amor e de todas as expressões de arte, só o que posso dizer de mim é que sou poeta. Na alma. Meu desejo é continuar escrevendo, até que, um dia, a poesia me entregue sua obra prima.
SELMO VASCONCELLOS - Quais as suas outras atividades, além de escrever?
CARMEN REGINA DIAS - Sou publicitária, profissão desde o final da década de 1970. Minhas áreas são várias: Planejamento Estratégico, Criação, Redação, Produção RTV, Atendimento. No mais, cuido de flores e jardim, leio, escrevo, cultivo a família, os amigos, Oráculos, meditação, contemplação, celebração e poesia.
SELMO VASCONCELLOS - Como surgiu seu interesse literário?
CARMEN REGINA DIAS - Comecei a escrever com sofreguidão assim que me inscrevi em comunidades da Internet, como o Orkut, já no século XXI. Desde a escola, redação é minha atividade favorita. Comecei escrevendo em cadernos, e eles foram se perdendo na noite dos tempos. Lá por 2001, incentivada por minha irmã Cléia, que sempre precisava de um poema para colocar em suas formatações incríveis na Internet, e me pedia, e eu a atendia, e a poesia nascia na hora, e ficava tudo tão lindo, tão tocante... e, simultaneamente, vieram ao meu encontro os amigos que fiz no meio virtual, e que se tornaram os meus joalheiros do céu, gente que via a rocha e visualizava a gema, e incentivavam o lapidar, fui caminhando por esta estrada e retirando de algum lugar em mim os milhares de poemas que já escrevi.
SELMO VASCONCELLOS - Qual (is) o(s) impacto(s) que propicia(m) atmosfera(s) capaz(es) de produzir poesia?
CARMEN REGINA DIAS - Sou sensível à ternura, venha como vier. Se em palavras, a poesia em mim salta pra fora na hora, e eu escrevo. Sentimentos interiores me movem. Às vezes preciso escrever um roteiro de comercial para televisão e rádio, mas a poesia fica ali, no pé, pedindo um poema. Então escrevo, ou não consigo trabalhar. Às vezes isto me acomete na madrugada, às vezes ao acordar e, normalmente, o dia inteiro. O sentimento amoroso é o que mais me motiva. Sou responsiva, receptiva, sou o "yin" da poesia. Sinto que quem cria é ela, eu apenas partejo seus poemas e escritos. Não raro transformo um recado em poema. Outra coisa é o estado meditativo, a simples observação de algo, de repente, desperta o impulso para escrever o que estou percebendo. Isto acontece também quando estou em contato com terra e plantas, ou conversando, ou lendo um livro, olhando o céu, pensando, ... Alguma coisa se move dentro de mim. E a poesia irrompe, sem lógica, nem método. Ela vem, mexe comigo, e eu escrevo. É assim. Escrever é uma companhia, um diálogo com algo que me vem do além. (Risos).
SELMO VASCONCELLOS - Quais os escritores que você admira?
CARMEN REGINA DIAS - Meu primeiro amor foi Graciliano Ramos, Vidas Secas. Depois vieram Vitor Hugo, Neruda, Fernando Pessoa e uma lista sem fim de poetas portugueses que eu amo, Maiakovski, que eu adoro, André Carneiro, Saramago, Kafka, Huxley, Milan Kundera, Al Berto, Jorge Luís Borges, Gabriel G.Marquez, Edgar Alan Poe, Machado de Assis, Oscar Wilde, Baudelaire, Herman Hesse, Otavio Paz, Brecht...Cecilia Meirelles, e, com ela, entra meu lado místico, Rabindranth Tagore, Rumi, Omar Khayyam, Gibran, Mirabai. E por aí vai...
SELMO VASCONCELLOS - Qual mensagem de incentivo você daria para os novos poetas?
CARMEN REGINA DIAS - Eu diria que lessem "Cartas a um jovem poeta", de Rainer M RIlke. Lessem com o coração, de alma presente. O poeta é o ser. No mais, façam preces ao Universo para que encontrem em seu caminho os amigos da alma, e a lufada de vento amazônico, que eu encontrei quando conheci Selmo Vasconcellos.
Da lavra de C.Dias.
VAGALUMES NA NOITE
A poesia voa, em bandos,
iluminando a noite.
Versos pirilampos riscando o breu.
Caçadora de versos corro
atrás das lamparinas.
Elas dançam, se oferecem,
depois se esquivam,
sobem, descem...
Vou devagar, suavemente,
no compasso do coração, miro bem e,
... póf!
Docemente,
brilham na palma da mão...
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A PALAVRA MÁGICA
Procuro a palavra mágica,
aquela que beira as margens do eterno,
que gosta de água,
que respira entre seixos e ninfeias,
junto aos papiros, algas e musgos.
Ela é pura ternura.
Brinca com as tilápias,
salta fora d`água,
se esfrega na areia,
espanta insetinhos,
beija as flores,
brinca com o vento...
Ah, essa palavra ri muito,
mas, às vezes, chora.
Nessa hora, fecha os olhos e reza.
Até que ela venha,
até que ela chegue,
silenciosa, amorosa, alma.
E a transubstanciação se inicia:
primeiro, ela torna as penas em poema,
e depois de um longo abraço,
torna o poema em poesia.
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VÍDEO-BÔNUS
Carmen Dias interpreta um poema de Mhario LIncoln que homenageia a arte fascinante da confreira APB, Susana Pinheiro que, em 2022, expôs telas com o tema: "Tecendo Varandas".
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