Sábado, 15 de Março de 2025
17°C 22°C
Curitiba, PR
Publicidade

“MEDO DE ESCREVER”, de José Neres

Convidado da Plataforma do Facetubes/Membro da Academia Poética Brasileira.

Mhario Lincoln
Por: Mhario Lincoln Fonte: José Neres
12/02/2025 às 20h18 Atualizada em 12/02/2025 às 20h29
“MEDO DE ESCREVER”, de José Neres
José Neres (Arte/Divulgação).

José Neres é membro da Academia Poética Brasileira e da Academia Maranhense de Letras.

 

Vez ou outra escuto a seguinte pergunta: “Que eu faço para perder o medo de escrever?”

Honestamente, não tenho resposta satisfatória, mas há anos convivo com diversas desconfianças. Algumas delas aparecem comentadas nos parágrafos abaixo.

1) Não treinamos nossa escrita - De alguma forma, almejamos que nossos textos saiam perfeitos logo na primeira versão escrita. Mas não é bem assim. É preciso escrever, escrever e escrever, para que possamos escolher a versão mais completa e que satisfaça as necessidades de nossa imaginação. Não adianta se apegar a um texto como se ele fosse algo sagrado e que não pode ser alterado em sua forma ou em sua essência.
 
2) Não suportamos ouvir críticas - Quando alguém aponta uma falha em nosso texto, o mais lógico seria agradecer e ver se a crítica tem fundamento. Caso tenha, nada custa reescrever o trecho ou mesmo o texto inteiro em busca de frases e estruturas mais apropriadas e que traduzam melhor as nossas ideias. Porém, indo na contramão do senso lógico, muitas pessoas preferem ignorar os alertas e acreditam que são verdadeiros gênios da escrita, mesmo que quase ninguém consiga compreender as ideias que permeiam o texto.

3) Ignoramos os mestres da escrita - Um dos melhores remédios para aprimorar nossa escrita é estabelecer uma convivência duradoura e séria com os grandes escritores. São essas pessoas iluminadas que guiam nossos passos rumo a uma escrita mais eficiente. É um exercício interessante atentar para as soluções encontradas pelos bons autores em seus textos e fazer anotações (físicas e/ou mentais) dos recursos estilísticos que os fizeram notáveis.

4) Tratamos a gramática como inimiga - Ninguém precisa decorar toda a nomenclatura gramatical de um idioma para melhorar seu processo de escrita, contudo é bom observar os preceitos gramaticais que podem tornar um texto mais leve ou mais denso, mais palatável ou intragável. É importante transformar a gramática em uma aliada e lembrar sempre que uma ideia perdida talvez nunca mais retorne à nossa mente, porém a frase escrita pode ser revisada diversas vezes.

5) Não pesquisamos tanto quanto deveríamos - Antes de colocar palavras no papel ou na tela de algum dispositivo, é preciso empreender uma pesquisa sobre o tema sobre o qual se vai escrever. Nunca sabemos tudo. Somos eternos aprendizes e o mundo pode ser visto como um enorme laboratório. Antes de traçar as primeiras linhas de um texto, é importante ler sobre o assunto, ruminar as ideias e manter uma conversa franca com nosso outro eu em busca de respostas. Se elas forem satisfatórias, podem (e devem) ser buriladas e transformadas em texto. Caso contrário, pode valer a pena continuar no terreno da pesquisa.

6) Não escrevo apenas para mim - Mesmo que você acredite que ninguém jamais irá ler seus textos, escreva-os como se fossem dirigidos a alguém que talvez nem você mesmo conheça. Se possível, leia seus textos em voz alta e você perceberá as dissonâncias que poderiam atrapalhar a leitura de uma outra pessoa. E, honestamente, se nem você consegue compreender as próprias ideias fixadas em uma folha de papel, como poder querer que outra pessoa venha a entender o que você “quis dizer”? Ou disse ou não disse…

Talvez um dia eu volte a este assunto. O importante é não ter medo de escrever. É a prática que nos faz melhorar. Talento é importante, mas é preciso levá-lo a sério e praticar sempre que possível.

Possivelmente alguém irá discordar, mas é nas discordâncias que crescemos!

* O conteúdo de cada comentário é de responsabilidade de quem realizá-lo. Nos reservamos ao direito de reprovar ou eliminar comentários em desacordo com o propósito do site ou que contenham palavras ofensivas.
500 caracteres restantes.
Comentar
JaimeHá 4 semanas BSB/DfJosé Neres sempre com as suas magníficas crônicas. Assunto muito importante.
Jacinta AzevedoHá 4 semanas São Luís Ma "Não pesquisamos tanto quanto deveríamos - Antes de colocar palavras no papel ou na tela de algum dispositivo, é preciso empreender uma pesquisa sobre o tema sobre o qual se vai escrever". E é tão fácil pesquisar hoje com o Google e os sites de Ia. Só não faz quem não quer.
José de Ribamar Saraiva Há 4 semanas Matinhas MaMestre. Aprendi a escrever quando eu era zelador de um grupo escolar em Matinhas. Pegava todos de lápis que eram jogados nos lixos das salas de aula e levava pra casa. Comecei copiando jornais velhos. Depois fui escrevendo sozinho me lembrando das palavras que tinha delcalcado no jornal. E assim foi. 20 anos depois aqui estou. Sou funcionário público. Sei ler e escrever. Jesus tem poder.
Mostrar mais comentários