Por: Editoria de Cultura da Plataforma Nacional do Facetubes
Um dos debates mais recorrentes entre fãs de romances policiais e críticos literários diz respeito ao status do(a) assassino(a) do icônico livro O Assassinato de Roger Ackroyd (1926), de Agatha Christie, como “o maior vilão da literatura universal”. O caráter revolucionário da obra – que subverte a forma tradicional do romance de mistério – faz com que muitos o considerem um marco no gênero. Mas será que isso basta para coroá-lo como o mais terrível e inesquecível antagonista de todos os tempos?
Especialistas que defendem o título
Dois renomados estudiosos da literatura policial corroboram a visão de que o assassino de Roger Ackroyd está, sim, no topo dos grandes vilões:
John Curran , autor de Agatha Christie's Secret Notebooks: Fifty Years of Mysteries in the Making (HarperCollins, 2009), ressalta que o impacto do desenvolvimento do romance, ainda hoje, é surpreendente. Para ele, “o responsável pelo crime em O Assassinato de Roger Ackroyd não apenas enganou os leitores na época, mas redefiniu toda a estrutura do romance de detetive”.
Robert Barnard , em seu estudo A Talent to Deceive: An Appreciation of Agatha Christie (Fontana, 1980), argumenta que a manipulação da confiança do leitor e a “ousadia moral” do assassino elevam o personagem ao panteão dos maiores antagonistas literários. Ele destaca que “a sutileza da narrativa faz com que o leitor reavalie tudo o que já sabe sobre o gênero, criando um dos vilões mais memoráveis”.
Uma voz discordante e outra grande vilão
Entretanto, nem todos concordam com essa coroação. Martin Edwards, autor de The Golden Age of Murder (HarperCollins, 2015), acredita que, embora o criminoso de Roger Ackroyd seja de fato ousado, há vilões com maior profundidade psicológica em outras obras da própria Agatha Christie e de diferentes autores. Para Edwards, personagens em Otelo, de William Shakespeare, carregam um peso “muito mais devastador na forma como manipulam o ambiente e destroem vidas”, especificamente como um contraponto robusto quando se fala em “maiores vilões de todos os tempos”.
Diante disso, a editoria caiu em campo para descobrir quais seriam, realmente, os 10 maiores vilões da Literatura Universal. Independentemente de quem ocupa a primeira colocação no ranking dos “piores dos piores”, o mundo literário é pródigo em antagonistas de tirar o fôlego. Abaixo, uma seleção amplamente discutida em círculos acadêmicos e entre leitores aficionados:
1 - Iago (Otelo, William Shakespeare). Mestre da manipulação, personifica a inveja e a traição num dos dramas mais intensos da literatura.
2 - O Assassino de Roger Ackroyd (O Assassinato de Roger Ackroyd, Agatha Christie). Famoso(a) por mudar paradigmas no romance policial, enganando leitores e críticos ao mesmo tempo.
3 - Famoso por mudar paradigmas no romance policial, enganando leitores e críticos ao mesmo tempo.
Professor Moriarty (histórias de Sherlock Holmes, Sir Arthur Conan Doyle). Chamado de “Napoleão do crime”, é o arqui-inimigo de Sherlock Holmes e a personificação da genialidade voltada ao mal.
4 - Sauron (O Senhor dos Anéis , JRR Tolkien). Símbolo absoluto das trevas e da ambição desmedida pela dominação de toda a Terra-média.
5 - Hannibal Lecter (O Silêncio dos Inocentes e outros, Thomas Harris). Intelecto brilhante aliado a uma frieza chocante, transformando-o em um dos vilões mais perturbadores e elegantes.
6 - Voldemort (Harry Potter , J. K. Rowling). A personificação do medo e do preconceito, obcecada em alcançar a imortalidade e eliminar aqueles que lhe fazem frente.
7 - Grande Irmão (1984 , George Orwell). Não apenas um personagem, mas a representação de um regime totalitário, com poder absoluto sobre mentes e vidas.
8 - Lady Macbeth (Macbeth , William Shakespeare). Figura trágica, ambiciosa e manipuladora, disposta a cometer atos extremos para alcançar o poder.
9 - Capitão Ahab (Moby Dick , Herman Melville). Obcecado pela baleia branca, ultrapassa os limites do bom senso e conduz sua tripulação a um destino trágico.
10 - Enfermeira Ratched ( Um Estranho no Ninho , Ken Kesey). Lidera um sistema de controle institucionalizado, sufocando a individualidade e minando a sanidade de seus pacientes.
Conclusão
Apesar de ser frequentemente lembrado como um divisor de águas no gênero policial, o assassino de O Assassinato de Roger Ackroyd encontra forte concorrência quando se fala em “maior vilão de todos os tempos”. O debate, no fim das contas, permanece aberto, pois cada leitor e estudioso carrega critérios diferentes ao definir o que torna um antagonista “incomparável” – seja pela profundidade psicológica, pela ameaça representada ao herói ou mesmo pela forma engenhosa com que desafia a imaginação do público. O consenso, porém, é que a criação de Agatha Christie merece destaque porque simboliza o poder transformador que um bom vilão exerce sobre o enredo e o leitor. Afinal, não existe herói marcante sem um antagonista à altura para testar seus limites.
Editoria de Cultura da Plataforma Nacional do Facetubes
Matéria publicada em 22 de fevereiro de 2025
Supervisor: Mhario Lincoln.
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Fontes consultadas:
CURRAN, John. Cadernos Secretos de Agatha Christie: Cinquenta Anos de Mistérios em Construção . HarperCollins, 2009.
BARNARD, Robert. Um Talento para Enganar: Uma Apreciação de Agatha Christie . Fontana, 1980.
EDWARDS, Martin. A Era de Ouro do Assassinato . HarperCollins, 2015.
THOMPSON, Laura. Agatha Christie: Uma Vida Misteriosa . Headline Review, 2007.
BAYARD, Pierre. Quem matou Roger Ackroyd? Companhia das Letras, 2011.