Por Mhario Lincoln – Editor-sênior da Plataforma Nacional do Facetubes

Vocês não têm ideia de como fiquei feliz ao ouvir de Andréa Frazão o “sim” para interpretar minha música em homenagem a dona Teté (a rainha imortal do Cacuriá/MA). E por que isso? Tenho milhares de razões para me emocionar!

Mas, o vídeo dessa gravação em parceria com Chiquinho França (mostrado abaixo), só reforça a minha ideia de que Andréa Frazão é, sem dúvida, uma grande voz negra nesse contexto macrobiótico da existência humana. O mais importante: é uma voz que não apenas ecoa nos palcos. Ela corta o tempo, rasga os silêncios históricos e se assenta no centro da alma coletiva como um hino de resistência e beleza.

Imediatamente quando li em sua conta no “Facebook”, com a firmeza de quem conhece as batalhas travadas no corpo e na arte - "Eu por eu!!! Menina, mulher e negona. Na luta!!!!", senti uma profunda necessidade de escrever sobre isso, porque essa frase não trata apenas de uma afirmação pessoal. É, sobretudo, um manifesto ancestral, sentido por essa mulher que exala a força de todas as que vieram antes dela — e das que ainda virão.

Andréa, cantora e artista maranhense, é símbolo vivo da potência cultural do Maranhão, é dessas artistas que não se curvam à conveniência. Sua voz não é apenas melódica: é política, social, espiritual. Uma voz que canta, mas também denuncia. Que encanta, mas também convoca. Assim como Elza Soares um dia bradou que era “a mulher do fim do mundo”, Andrea nos mostra que ainda estamos no centro do furacão — e que mesmo assim, a música permanecerá, antes, durante e depois. E nos está salvando.

Essa declaração pública, "Eu por eu", vai além do espelho. É Simone de Beauvoir sendo revisitada em clave afro-brasileira: “Ninguém nasce mulher: torna-se mulher.” E, no caso de Andréa, esse ‘tornar-se mulher’ não é uma curva suave, mas uma estrada esburacada pela exclusão, que ela percorre com os pés firmes de quem transforma tropeços em dança; e dor em canção. Como Angela Davis escreveu: “Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela.”

Não é coincidência que mulheres como Leci Brandão, Alcione, Iza, Margareth Menezes e Sandra de Sá tenham transformado seus nomes em bandeiras. Elas não pediram licença ao mundo: ocuparam os espaços com dignidade, ancestralidade e talento. Andréa Frazão, inclui-se nessa seleta lista e torna-se parte dessa linhagem. Sua cor, sua voz, sua origem e sua luta são, ao mesmo tempo, raízes e voo.

Como diz sociólogo francês Pierre Bourdieu: "a arte é um campo de lutas". E é nesse campo que Andréa se inscreve como artista, como mulher negra, como presença. Uma presença que eu mesmo aprendi a admirar, desde o momento em que a vi, pela primeira vez, cantando em um barzinho no centro de São Luís e nela, observei personalidade ímpar.

Sim Andréa: “Eu por eu!!! Menina, mulher e negona. Na luta!!!!". Permita-me, porém, incluir-me nesse grito; portanto, Nós – por nós, juntos nessa luta.

Porque é isso. E é muito mais. É Andréa Frazão, no timbre mais afinado da dignidade. Não sua, mas de um pertencimento lindo de todos nós.

Mhario Lincoln, presidente da Academia Poética Brasileira.

VÍDEO-BÔNUS

(Andréa Frazão canta Mhario Lincoln & Chiquinho França)