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A primeira grande entrevista do ano. Cordeiro Filho conversa com João Pedro Borges

Músico exímio e produtor por excelência, participou de capítulos fundamentais da música no país, como a “Camerata Carioca.”

19/07/2025 às 08h00 Atualizada em 19/07/2025 às 18h06
Por: Mhario Lincoln Fonte: Cordeiro Filho/Editoria do Facetubes
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Cordeiro e João Pedro Borges
Cordeiro e João Pedro Borges

Nota da Editoria: a Plataforma Nacional do Facetubes está agradecida por publicar hoje (a publicação original é de 2023), um grande trabalho do artista Cordeiro Filho, nesta entrevista com o renomado e respeitado violonista mundialmente aplaudido, João Pedro Borges. A matéria é exclusiva e conta detalhes dantes nunca revelados na imprensa nacional. Convido, pois, nossos leitores a se deliciarem com esta conversa. Deveras agradecido, Cordeiro e João Pedro Borges.

 

A ENTREVISTA

PERGUNTA 01

Cordeiro Filho - Como e quando o violão chegou às suas mãos?

João Pedro Borges: No final dos anos 50, de 11 para 12 anos de idade. Nessa época, eu demonstrava muito interesse para acompanhar as rodas de choro e canções que o meu padrinho José Silva, violonista amador e pintor de profissão, organizava com seus amigos em nossa casa. Um dia ele me perguntou se eu queria aprender a tocar violão e ao ver meu entusiasmo começou a me ensinar as primeiras notas. Em seguida me comprou um pequeno violão e dedicou-se a compor pequenas valsas e choros que eu aprendia rapidamente, ao mesmo tempo em que começava a acompanhar algumas canções.

PERGUNTA 02

Cordeiro Filho - Nesta época o violão já era aceito nos salões, nas casas e onde mais se ouvia o som das cordas de um violão?

João Pedro Borges: Nos anos 50, o violão já vinha sendo aceito, e se tornando cada vez mais, um instrumento da Cultura Popular, graças aos programas de Rádio e especialmente aos Programas de Dilermado Reis na, Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Pela mesma época, já existia o Violão de Garoto, como precursor da "Bossa Nova", da Moderna Música que se tocaria no Brasil. Garoto teve uma influência muito grande na obra do Maestro Radamés Gnattali, que é o grande arranjador da Rádio Nacional, sendo primeiro a colocar Orquestra para acompanhar a voz, a pedido do cantor Orlando Silva e de outros cantores. E aqui no Maranhão, na década de 50, já pontilhavam figuras como Custódio Zaqueu Coelho - O Custodinho, com quem eu tive a oportunidade de ter aulas, por conta de um parentesco de afinidade com meu Padrinho José Silva, apesar das dificuldades que ele enfrentava com o alcoolismo, mas mesmo assim era uma figura respeitada. Nos anos 60, logo depois do 1° Concerto de Turíbio Santos no Teatro Arthur Azevedo, Custodinho também realizou um Concerto, inclusive eu tenho as fotos dos Programas dele, que foram impressas na Tipografia Borges do meu pai, que era amante da música do violão e gostava de Serestas, dos Choros fazia companhia ao meu Padrinho José Silva e ajudou na elaboração destes Programas, realizado pelo grande Custódio Zaqueu Coelho. Isso confirma também uma tradição na música, aqui no Maranhão, patrocinada pelas Associações, principalmente a Sociedade de Cultura Artística do Maranhão, que já tinha trazido grandes nomes da música mundial, a exemplo de Nicanor Zabaleta, que pouca gente sabe que ele era um dos melhores artistas do mundo e que aqui se apresentou.

Existem trabalhos também que mostram presenças de artistas importantes em São Luís do Maranhão, como o grande violonista Paraguaio Agustin Barrios - um dos maiores compositores para instrumento, que também  se apresentou aqui em São Luís, tendo tocado no Teatro Artur de Azevedo. Turíbio Santos conta que o pai dele teve que arrebanhar amigos pra levá-los a fazer público na apresentação do Agustin Barrios. O curioso é que quando comecei apreender violão com o meu padrinho e com Custodinho, eles também foram me informando, me atualizando, com isso eu tive bom contexto de informações a respeito da música brasileira, dos grandes compositores e dos grandes violonistas. Isaías Sávio esteve também em São Luís. Foi um dos responsáveis pela implantação do violão clássico no Brasil, chegou a ser professor de Antonio Rebello, que veio a ser professor do também maranhense Turíbio Santos. O meu professor Luís Almeida  (depois das aulas com meu padrinho), pela necessidade de lê partituras e me familiarizar com o repertório clássico do violão, contava um fato em que Custadinho, já um pouco tocado de cerveja, jogara um copo de bebida em Isaías Sávio. Lendas à parte, ele contava isso como um fato ocorrido. Porém, ficou como algo de menor importância na história do violão. Apenas salienta a presença do grande violonista urugaio em São Luís.

 

PERGUNTA 03

Cordeiro: A partir destas aulas, desses estudos e experiências todas, como se deu a sua ida para o Rio de Janeiro?

João Pedro Borges - A minha ida ao Rio de Janeiro se deu mais ou menos em circunstâncias inesperadas, a bem da verdade o Regente do Coral do Maranhão, Henrique Gregori Neto, que substituiu Bruno Visui, já tinha me incentivado a participar de um Festival na Bahia, mas está viagem acabou não acontecendo porque as passagens terminaram não saindo a tempo por falta de dinheiro pra financiar a viagem. Entretanto fiquei aqui mantendo as minhas atividades, cantando no Coral. Além disso, tinha programas na televisão Difusora Canal 4, isso já na década de 60, mas em 1970, eu terminei participando do Primeiro Festival Estudantil da Música Popular Maranhense, onde obtive primeiro lugar com a canção "Prelúdio da Paz que Vai Voltar", com letra de Souza Neto (irmão do violonista Ubiratan Souza) e música de minha autoria. Além da notoriedade que o Festival me trouxe, no júri estavam Nonato Buzar, João do Vale, Chico Maranhão, entre outras personalidades com isso o evento chamou a atenção do então Prefeito de São Luís Dr. Haroldo Tavares, que reuniu todos estes compositores na sua casa, na qual promoveu uma noite de música e uns comes e bebes.

Nesta ocasião, Ubiratan Souza, fez contato com uma figura que também estava lá, que era o então Governador José Sarney, e  sabendo que Sarney tinha organizado concertos de Turíbio no Palácio dos Leões, ele chamou atenção do governador para o fato de que eu também tocava Violão Clássico, e isto despertou uma grande curiosidade, fazendo com que eu tocasse "LA CATEDRAL", de Agustin Barrios, uma peça muito exuberante que impressionou o governador. Logo que eu terminei a de tocar, ele me perguntou se eu não queria estudar fora daqui? No que eu respondi que sim, mas não tinha condições! Então ele chamou imediatamente o Joaquim Itapary, que era o Superintendente da SUDEMA – Superintendência de Desenvolvimento do Maranhão, e falou pra ele me conceder uma Bolsa de Estudos, igual a que ele tinha concedido para uma das irmãs Nascimento.

Joaquim Itapary anatou os meus dados e marcou para a segunda-feira seguinte ir na SUDEMA. A ideia teve apoio do Governador José Sarney que ressaltou para ser feito o processo da bolsa o mais rápido possível, pois ele iria se desincompatibilizar na semana seguinte para concorrer ao Senado Federal. E foi nessas circunstâncias que eu consegui esta Bolsa de Estudos.

 

PERGUNTA 04

Cordeiro Filho: Como foi sua chegada no rio de Janeiro?

João Pedro Borges: Em lá chegando, o primeiro contato que eu tive, foi com o Turíbio Santos que estava dando um curso de extensão no Conservatório Brasileiro, de passagem, pois ainda morava em Paris, e foi lá que eu conheci o meu professor Jodacil Damasceno, a quem Turíbio imediatamente me recomendou, dizendo que eu devia estudar violão.

 

PERGUNTA 05

Cordeiro Filho: E sua carreira fora do Brasil, quando começou?

João Pedro Borges – Já sobre minha carreira no exterior, começou em 1973, contratado pelo Itamaraty como professor no Senegal, com quem o Brasil mantinha laços culturais, para trabalhar no Conservatório de Música e Arte Dramática que era vinculado a Universidade de Dakar. Entretanto, após meu final contrato no Senegal, não estendi minha ida para a Europa por que tinha me comprometido com o Dr. José de Ribamar Martins que se ele criasse a Escola de Música do Estado do Maranhão, eu voltaria pra dar aulas. E foi isso que fiz e acho que num certo sentido, foi muito bom porque me deu oportunidade de fortalecer minha carreira em nível nacional.  No projeto com Turíbio do disco "Choros do Brasil", lançado na França, fizemos concertos pela América do Sul e o projeto de fazer concertos na Europa acabou sendo adiado por diversas vezes, não acontecendo.

Até que em 1993, eu recebi um telefonema de um amigo que era professor no Maranhão, Clemens Hilbert me perguntando se eu não tinha interesse de me apresentar em Berlin, porque ele estava retornando para Alemanha e achou que eu devia me apresentar de alguma forma por lá. Daí, renasceu o projeto de ir para a Europa. Nesse meio tempo com o adoecimento do meu pai, a minha irmã Gisele veio ao Brasil e na oportunidade conversando com ela, ela disse não, você vai direto pra França e de lá eu te levo pra Berlim. Foi isso que aconteceu, mas ao chegar na França, ela me apresentou Olivier Jouy, que fazia gravações para grandes nomes franceses, como o filho de Michel Legrand e outros, e quando ele soube que eu havia trabalhado em produção e edição, se aproximou de mim e ao ver minha capacidade, então me ofereceu a possibilidade de fazer um disco, porque através deste disco, seria divulgado o meu trabalho aqui na França. Dito e feito. Desta forma, eu comecei a desenvolver meu trabalho. O disco, ele mandou para músicos amigos dele, que faziam parte de uma Associação de Violões. Aí está o segredo, na França: as organizações é que promovem os Concertos. Daí foram abertas todas as possibilidades.

 

PERGUNTA 05

Cordeiro Filho: E na sua volta para o Brasil, após a Europa, o que se sucedeu?

João Pedro Borges: Quando eu voltei para o Brasil definitivamente em 1996, ainda passei uns três meses em São Paulo, mas logo vim de vez para o Maranhão, para implantar um Projeto de Música no Centro Universitário do Maranhão – CEUMA em 2000, depois fui trabalhar na Prefeitura de São Luís, onde mais tarde ocupei a Diretoria de Eventos da Fundação Municipal de Cultura. Mas foi na Prefeitura que eu ajudei a realizar o Primeiro Festival Internacional de Música – um evento de repercussão Internacional, cujo diretor era o pianista Artur Moreira Lima, com quem havia trabalhado na TV Manchete, como Diretor Musical do Programa “Um Toque de Classe”. Já em 2002, a convite do então Prefeito Tadeu Palácio, fui indicado para dirigir a primeira  Escola Municipal de Música. Neste mesmo ano eu fiz o concurso para professor da Escola Estadual de Música, me tornando efetivo.

 

PERGUNTA 06

Cordeiro Filho: Vamos agora falar sobre a retrospectiva de sua carreira vitoriosa. Pode?

João Pedro Borges - Antes de eu ir pra França em 1994, antes, na década 80, eu tive um volume muito grande de concertos desde o final dos anos 70. Foi nessa época que eu gravei o meu primeiro disco de forma independente. A década de 80, foi profícua em termos de trabalho, culminando com a minha ida pra Nova Iorque em 1982 para o lançamento oficial do Choro em NY, com a participação João Carlos Martins, Artur Moreira Lima, Joel Nascimento, Jonas Pereira da Silva, César Faria, Rafael Rabello e o flautista Norton Morozovick. Em 1986 fui pra Martinica, onde participei de um grande festival, dedicado a música brasileira. Depois dei muitos concertos pelo Brasil todo, participando de festivais, mas nunca perdi o contato com São Luís do Maranhão, porque todos os anos e até mais de uma vez por ano, nós organizávamos concertos em São Luís, pois aqui sempre tive um time de apoio, inclusive um Agente de Produção, o Pierre Barroso, além de você, meu amigo, na época vereador Cordeiro Filho.

Esta foi uma época muito produtiva em que eu não perdi contato com o público maranhense e ocasionalmente eu estreava concertos aqui, para depois tocar em outras partes do Brasil, tanto que eu tenho até vídeo com gravação de concertos no Sul do País, e alguns estão na minha página do Youtube. Isso tudo serviu de preparação para minha ida para França.

Quando eu voltei da França em 1996, eu continuei com meus contatos lá, e mesmo sem morar lá, viajei várias vezes para realizar concertos em 2000/2001/2002, tanto que quando estávamos montando a Escola de Música do CEUMA, tivemos que adiar a inauguração por um mês, porque eu tinha um concerto na França. E foi assim que mantive a carreira na Europa e no Brasil com Turíbio ou mesmo sozinho, isso tudo culminou numa grande Tournê pelo Brasil, através de um projeto do SESC – Sonora Brasil onde fizemos 83 concertos do Oiapoque ao Chuí em 82 cidades brasileiras em 3 meses e meio, nos deslocando de avião ou de Van.

A partir dos anos 2000, quando houve a oportunidade da realização do Festival Internacional de Música em São Luís e como eu já tinha experiência em produção, apostamos todas as nossas fichas nesse festival com artistas de várias partes do mundo, inclusive com a presença da Orquestra Filarmônica da Romênia, se transformando num sucesso espetacular. Em seguida, o Prefeito Tadeu Palácio me convidou para fazer parte da direção da Fundação Municipal de Cultura – FunC, que tinha nos seus quadros, você Cordeiro Filho, meu amigo, dessa feita, como ex-vereador. Terminada a nossa participação na FunC, o Prefeito Tadeu me convidou pra ajudar na criação da Escola Municipal de Música, da qual fui o primeiro Diretor. Inicialmente as matrículas foram dirigidas ao público das escolas municipais do Ensino Fundamental, chegando a ter mais de 600 alunos matriculados.

Todavia, os governos seguintes não deram a devida atenção ao Projeto da Escola de Música, sendo que esteve parada por um período e quando ia recomeçar o Secretário Municipal de Educação Moacir Feitosa me demitiu. Neste intervalo, ocupei a direção da Escola de Estadual de Música "Lilah Lisboa" por três meses, a mesma escola que eu ajudei a fundar em 1974. A carreira de todos os músicos instrumentais, a partir deste momento, sofreu grande baque na produção de Concertos em todo mundo, e ai surgiram as carreiras virtuais. É de se observar que depois deste período, as carreias sofreram com a diminuição de concertos e festivais.

No entanto, com início da era digital, das "Lives", muitos músicos formados em escolas perderam os concertos presenciais, mas se tornaram músicos digitais, aproveitando as novas tecnologias. De todo modo, a minha carreira aqui no Maranhão, sempre foi vinculada com a música, enfim, chegamos aos dias atuais, não pensamos em “guardar a viola no saco” porque depois de por os pés no caminho, só resta Vencer ou Morrer, mas ainda estou querendo vencer (rsrsrs).

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Caption

LIVRO "João Pedro Borges: violonista por excelência". 

Autor: Wilson Marques/Clara Editora.

Sobre o livro: "João Pedro Borges a homenagem é mais do que justa. Artista talentoso, João Pedro deixou São Luís ainda muito jovem para estudar no Rio de Janeiro. Ali, construiu uma sólida amizade com outra fera da música maranhense e nacional, o também violonista Turíbio Santos, e rapidamente envolveu-se com a nata do movimento da música instrumental carioca. João Pedro foi produtor musical. Participou de capítulos fundamentais da música no país, a exemplo do fenômeno conhecido como Camerata Carioca. Artista do Brasil e do mundo, João Pedro não esqueceu, no entanto, sua terra natal. Pelo contrário, sempre que foi possível, se fez presente em São Luís para oferecer sua contribuição, mais marcadamente como o professor que sempre foi. Em 1974, regressando do continente africano, o músico instalou-se na capital para ensinar violão na então recém-criada Escola de Música da Fundação Cultural do Maranhão, mais tarde Escola de Música Lilah Lisboa. Desempenhando um papel vital no desenvolvimento musical das novas gerações da época, ele foi decisivo na formação de artistas como Josias Sobrinho, Giordano Mochel, César Teixeira, Sérgio Habibe, entre outros, que iriam ser os protagonistas de uma verdadeira revolução musical da qual emergiria a moderna música maranhense".

(Recuperado da página da AMEI/São Luís).

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JaimeHá 4 meses BSB/DFParabéns, aos nobres Presidente ML e Cordeiro Filho, por trazererem a baila, esse magnífico violonista.
Marcelle JoivàHá 3 anos Paris FR La vision de la lune dans sa perfection se confond avec le pianotage de Borges à la guitare. Je l'ai regardé plusieurs fois. J'ai adoré.
Professor de Música, Abrahão ValinsHá 3 anos São Paulo.Infinitamente seguro dizer: o mais autêntico e preparado violinista brasileiro.
Luiz Caldas (Jumentinho)Há 3 anos da Belira para Juazeiro.Extraordinária vocação maestral. Parabéns Cpordeiro Filho e João Pedro Borges. Vcs vão além da Praia Grande.
Edomir de OliveiraHá 3 anos São Luís MA Bela entrevista. Bom conhecer a vida extraordinária que levaram para conquistar seus sonhos.Grande exemplo de tenacidade e luta para obter o desejado.Obrigado.
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