Perder a Fé não é o fim, mas um convite à reconstrução

Jornalista Orquídea Santos, editora da Platforma Nacional do Facetubes.

VÍDEO BÔNUS

"Meu Fado Para Jesus", de Mhario Lincoln

Acompanhei toda a emoção do jornalista e poeta Mhario Lincoln, após ouvir a história de uma amiga, cuja filha se suicidou, dizendo que estava “decepcionada com Jesus" e questionava repetidas vezes o porquê de Jesus "ter feito isso comigo”; e que deixaria de frequentar a Igreja, por não acreditar mais em nada.

Mhario Lincoln, preocupado com tais afirmações, então, começou a compor essa letra, a fim de que, ao enviar para a pessoa ferida, quem sabe, a pudesse fazer mudar de opinião. Assim surgiu “Meu Fado para Jesus” (ela é descendente de portugueses, avô e avó). Na verdade, um lamento-prece tentando mostrar que a Fé não vem com trocas, nem com adesões (ou não adesões) automáticas.

No fundo, o que Mhario Lincoln quis passar na mensagem é algo que se autosupera com a Fé. Transcende, sobrevive, mesmo diante de infortúnios. A resposta, nessa bela música que emociona, é um Jesus próximo, terapêutico, consolador, diante de tantas intempéries da vida do Cristão.

Mas esse vídeo também chama a atenção para outro grande assunto: será que pessoas estão se afastando de Deus, a cada abalo sentimental? É uma pergunta profunda e inquietante. Porém, em estudos recentes, a amostra de que está havendo, sim, uma transformação religiosa, não necessariamente um afastamento absoluto de Deus, mas uma reconfiguração da espiritualidade.

Os números mostram que 9,3% de brasileiros se declaram sem religião, cresceu muito o percentual, desde 2022. Mudanças de filiação religiosa, como da católica para a evangélica, ou da espírita para a Umbanda, revelam buscas por experiências mais intensas, comunitárias ou identitárias.

E como o Brasil é um estado Laico (aquele que não adota uma religião oficial, mantendo neutralidade e imparcialidade em relação a todas as crenças e agnósticos), dados recentes mostram que a pluralidade religiosa está em expansão, com crescimento de religiões afro-brasileiras e evangélicas, especialmente entre os jovens. Por isso, várias estratégias estão surgindo, a fim de trazerem para religiões específicas, mais fiéis.

Contudo, será que há um motivo para isso? Os bispos, os padres, os líderes religiosos enfraqueceram a mensagem, puramente acolhedora, religiosamente caridosa, trocando-a por outros objetivos? O sociólogo Paul Freston, especialista em religião no Brasil, afirma que a fragilidade das religiões não está apenas na perda de fiéis, "(...) mas na incapacidade de se adaptar sem perder sua essência".

Ele argumenta, ainda, que “(...) a transição religiosa brasileira tem pisos e tetos. Os católicos dificilmente cairão abaixo de 35%, e os evangélicos não ultrapassarão 35%. O que cresce é a pluralidade, não a hegemonia”. Essa pluralidade, embora rica, também revela uma fragmentação espiritual, onde o indivíduo busca sentido em múltiplas fontes, muitas vezes sem encontrar estabilidade.

Portanto, a mensagem do vídeo de Mhario Lincoln, dono dessa letra autoral magnífica, é um chamado à resistência espiritual. Ele também enseja que a Fé não é uma armadura cega, mas uma consciência ativa, que exige discernimento e coragem. Que perder a Fé não é o fim, mas um convite à reconstrução.

Desta forma, Mhario Lincoln afirma que “o mundo não está necessariamente se afastando de Deus, mas redefinindo o que entende por espiritualidade”. Desta forma, o vídeo de Mhario Lincoln, com sua força poética, é um lembrete de que a fé nunca morre, mesmo que em algum momento, ela se fragilize.