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PALESTRA EM FORTALEZA DEBATE LIVRO E DESENVOLVIMENTO (Parte I)

Mhario Lincoln
Por: Mhario Lincoln
06/12/2024 às 09h52

---- Evento da Associação Brasileira de Bibliófilos marcou a posse do palestrante, o maranhense Edmilson Sanches, que foi homenageado com a “Medalha do Mérito Cultural José Mindlin”. Na próxima semana, Sanches fará três palestras em Vitória (ES), na Assembleia Legislativa, na Academia Espírito-santense de Letras e no Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo.

FOTO: Edmilson Sanches, o presidente da ABBi, José Augusto Bezerra. 

 

Às vésperas de completar 40 anos de fundação e ações, a Associação Brasileira de Bibliófilos (ABBi) encerrou o ano de trabalhos de 2024 com evento em Fortaleza, realizado dia 3 de dezembro, no Ideal Clube. A noite, iniciada às 19h e prolongada até próximo das 24h, contou com a presença de professores, escritores, historiadores, jornalistas, políticos, empresários, médicos, advogados e outros profissionais liberais, todos bibliófilos, o nome dado às pessoas que cultivam, colecionam, zelam e também escrevem e divulgam livros. Um dos presentes foi o Lúcio Alcântara, médico e escritor, que foi prefeito de Fortaleza, governador do Ceará e senador da República. Alcântara é o editor da prestigiada revista-livro “Scriptorium”, a publicação periódica da ABBi.

 

Considerada a mais antiga e atuante entidade do gênero no Brasil, a ABBi tem na presidência o administrador, empresário, escritor, professor e doutor Honoris Causa pela Universidade Federal do Ceará José Augusto Bezerra, tido como, provavelmente, o dono da maior biblioteca de livros raros e antigos do País, com mais de 30 mil volumes. Esse “título” pertencia ao advogado, jornalista, empresário e bibliófilo paulista José Ephim Mindlin, falecido em 2010, cuja biblioteca foi doada à Universidade de São Paulo, onde recebeu o nome dele e de sua mulher: “Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin”.

 

O administrador, jornalista, escritor e consultor maranhense Edmilson Sanches foi comunicado em novembro de que seria homenageado em Fortaleza com a “Medalha do Mérito Cultural José Mindlin”, além de convite da presidência da ABBi para membro efetivo da Entidade, o que foi aprovado pela diretoria. Na oportunidade, o presidente José Augusto Bezerra convidou o jornalista maranhense para ser o palestrante do evento e sugeriu o tema “O Livro como Fonte de Desenvolvimento, Pessoal e Coletivo”.

 

NOVOS MEMBROS – Quatro novos membros tomaram posse em 3 de dezembro, na ABBi: Francisco Antônio Almeida Bezerra (Bezerrinha), jornalista, escritor e editor, graduado em Letras e Jornalismo; Francisco Sousa Nunes Filho, da Academia Cearense de Língua Portuguesa, professor, autor de livros didáticos, chefe do Departamento de Linguagens do Sistema Farias Brito de Ensino (Básico e Superior), graduado em Letras (Português, Inglês, Grego e Latim); José Nelson Bessa Maia, administrador, genealogista e ex-Secretário de Relações Internacionais do Estado do Ceará; e Edmilson Sanches.

 

A PALESTRA – Para Edmilson Sanches, “sim, mil vezes sim, o livro é produto e processo, é parte do progresso. E com a extensão semântica, com a ampliação do sentido ou significado da palavra ‘livro’  --  que é tanto a plaquinha de argila milenar quanto o rolo de desenrolar, o volume de folhear e, entre outros, o item digital a acessar  --, com esse ror de acepções, o livro ainda é o principal, senão um dos principais, objetos de Cultura que à Humanidade, sábia e evolutivamente, com engenho e arte, coube inventar.”

 

O palestrante, subvertendo o conceito poético, disse que “a rima rica de ‘livro’ é ‘conhecimento’. Tome-se um porre de livros, um pileque de informações, infinitos goles de conhecimento e a ressaca será sempre um ser humano quem sabe mais sábio e um mundo quem sabe melhor. E isto é desenvolvimento.”

 

Sanches colocou em confronto o livro, aparentemente frágil, e as conquistas territoriais e grandes construções de povos, a maioria não sobrevivendo ao tempo, enquanto, com conteúdo inscrito em argila, madeira, metais ou em peles animais e películas vegetais, o livro tem sobrevivido às eras. O novo membro da ABBi citou as frustradas tentativas de conquistas do mundo por portugueses e alemães, do Brasil por franceses e holandeses, enquanto, por intermédio de livros, esses povos conquistas pessoas no planeta, no Brasil e no Maranhão com a literatura de seus escritores e a arte de seus pintores e músicos, entre outras formas de expressão cultural.

 

Dentro do assunto, Edmilson Sanches fez uma reflexão sobre o Estado do Maranhão e Caxias, sua terra natal: “Na minha terra, o Maranhão, se o desenvolvimento não chegou a ele em todas as suas possibilidades econômicas para todas as suas potencialidades territoriais; se o desenvolvimento não reduziu maximamente ou majoritariamente as carências muitas de muito do seu povo, meus Conterrâneos, é desse Maranhão potencialmente riquíssimo que brotou a força de maranhenses que foram indispensáveis para formação da identidade e para a construção do desenvolvimento de nosso País. Foram maranhenses  --- e, da mesma forma, cearenses --- que saíram de sua terra natal e vararam o Brasil de Norte a Sul, deixando um legado que, sem sua efetivação, resultaria em termos um País no mínimo menos melhor ao longo dos dois últimos séculos. Como ocorreu e ainda ocorre com muitos de nossos irmãos nordestinos, nossa região sofre com esse ‘brain drain’ (fuga de cérebros) para que nosso País se alegre com o vindouro ‘brain gain’ (ganho de inteligência).” Foram citados nomes e realizações de diversos maranhenses e caxienses que deram elevada contribuição ao Brasil, sobretudo nos séculos 19 e 20, na Literatura, na Ciência, na Cidadania, no Direito e Justiça, na Política e Administração Pública, entre outros campos: “A lista de nomes e feitos seria longa, mas o tempo é  curto  ---  e a paciência de quem ouve, se não é pouca, merece o respeito muito de quem fala”  -- ressalvou Sanches.

 

Adotando um tom crítico e técnico, Sanches trouxe uma provocação que resultou em aplausos e citações posteriores. Disse o palestrante: “Se é verdade que os números não mentem, ilustremos: o Japão é um conjunto de quase 7.000 ilhas, área de 377 mil k2, 80% de seu território não servem para plantar nem para construir; é abalado com frequência por terremotos, maremotos e vulcões ativos... e ainda teve duas bombas atômicas destruindo importantes cidades e inocentes pessoas. A pergunta é: Como um país com todas essas pré-condições para dar errado é o terceiro mais rico do mundo, com qualidade de vida e longevidade... enquanto, do outro lado, um país 22 vezes maior em território, sem terremoto, maremoto nem vulcões ativos, um lugar com continuidade territorial e onde em se plantando tudo dá, como é que este país ainda permanece no Terceiro Mundo porque a classificação não vai até o Quarto? A economia japonesa totalizou em 2023 US$ 4,213 trilhões; o Brasil, a metade: US$ 2,174 trilhões. E, repita-se, nosso País é mais de 22 vezes maior que o Japão... Realmente, tamanho não é mesmo documento  -- e, no caso do Brasil, ainda maior do que as dimensões territoriais, é o descaramento ético, a incompetência administrativa e a insensibilidade humana de grande parte, a maior parte, de uma estirpe de gente a que denominamos políticos ou autoridades, que se comportam como patrões do povo quando deveriam ser servidores dele. Por tudo isso e algo mais, pode-se afirmar: O problema do Brasil não é o Governo sem dinheiro  ---  é o dinheiro sem governo... Se alguém disser que leitura e livro não tem nada a ver com isso, com Ética e Economia, por que as crianças japoneses leem em média 36 livros por ano e, no Brasil, a média por habitante, excluindo livros escolares, obrigatórios, não chega a três livros anuais? Verdadeiramente, o Brasil tem estudantes demais e estudiosos de menos.”

 

MANCHETES – Edmilson Sanches comentou três manchetes extraídas, em datas distintas, da Confederação Nacional dos Municípios, do “site” Brasil de Fato e do jornal “Folha de S. Paulo”. As manchetes:

----- “ESTUDANTES BRASILEIROS DEVEM DEMORAR MAIS DE 260 ANOS PARA ATINGIR QUALIDADE DE LEITURA DE PAÍSES DESENVOLVIDOS”;

----- “NO BRASIL, 44% DA POPULAÇÃO NÃO LÊ E 30% NUNCA COMPROU UM LIVRO”;

----- “LEITURA NO BRASIL É UMA ‘VERGONHA’”.

Para Sanches, “não importa a data ou origem da informação, no Brasil a realidade do acesso ao livro e sua leitura não é a desejável nem é defensável.” O escritor maranhense lembrou a necessidade de documentar-se a existência das pessoas em livro ou outro suporte, pois em três ou quatro gerações já ninguém mais sabe quem foram os antepassados sem os quais os mais novos não existiriam. Sanches é categórico: “Uma coisa é você ter história. A outra, é a História ter você. O livro será quando você não mais for. O livro estará quando você não mais estiver.” Ao final, desejou um algo a mais além do conceito de liberdade: “Sejam livres. Sejam livros.”

Ir para a parte II (https://www.facetubes.com.br/galeria/522/repercussao-da-palestra-de-edmilson-sanches-parte-ii)

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JaimeHá 1 mês BSB/DFAplausos pela sua valiosa contribuição cultural.
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