Linda Barros, escritora e atriz. Secretária executiva Nacional da Academia Poética Brasileira.
Quem nunca se divertiu, sorriu, contou causos em uma roda de amigos? Momentos como esses, nos levam à infância, à épocas que podíamos ficar horas nas portas das casas, em uma boa roda de conversa, contando histórias, rindo alto e chamando a atenção da vizinhança, que em vez de se irritar com as gargalhadas, “aprochegava” e aumentava ainda mais a conversa. São momentos como aqueles que faziam a vida valer a pena, quando todos sentavam no chão mesmo ou nas calçadas, sem nenhuma preocupação de a qualquer momento ser sobressaltado por um delinquente qualquer, pondo fim à reunião.
Recentemente fomos levados a uma divertida conversa, dessa vez não na soleira das portas de casa, mas em um recinto fechado e particular, para ouvir falar sobre “Pé de Conversa”, obra de Nascimento Morais Filho. O movimento principal do evento, foi levar ao público um pouco da vida e obra desse autor, que este ano completaria 100 anos. Nessa ocasião, a anfitriã da noite a escritora, a professora e neta de Nascimento Morais Filho, Natércia Garrido, alegrou a plateia com os causos contados pelo avô durante toda sua existência física.
Como podemos ler no prefácio, feito pelo próprio autor, “esta não é uma edição do “Pé de Conversa”, mas apenas um índice original – representadas pelas trovas populares que compus, quase todas aproveitando os temas que ela representa”. E as trovas ou quadras como ele costumava chamar, é teor da obra. Nelas, Nascimento Moraes Filho conta, de forma divertida, os costumes ou crendices do povo. No entanto, às vezes esse teor nem sempre agradava, já que o conteúdo por vezes talvez ferisse a moral e os costumes dos maranhenses, motivo esse, que poeta quase foi expulso de sua terra pelos “puritanos”, como ele mesmo chama. A exemplo disso temos:
Seja eu casado, que importa,
Se por ti estou febril?
- O amor, minha querida,
Não tem estado civil!
Não é moça, nem é velha
Mas não ata, nem desata:
Madura de casaca verde
- É mulher banana prata!
Bem sabemos que uma obra, independente da data de seu lançamento, ultrapassa os limites do tempo, carregando consigo, muitas histórias – reais ou não, o que leva o leitor a conhecer seu passado engajado em uma barreira temporal, deixando um legado e trazendo outro, ainda mais atento a tais acontecimentos. Nascimento Morais Filho é daqueles autores que tem presença constante nos “pés de conversas” trazendo acontecimentos de sua época. O autor de “Evocação” foi também um dos pioneiros, quer dizer, “um dos não’, ele foi “o primeiro” a estudar Maria Firmina dos Reis aqui pelas bandas do Maranhão.
Mas nosso “Pé de Conversa” aqui é outro, é falar de uma obra e de um autor secular, que divertiu muitos, mas (talvez) ganhou alguns desafetos pelo conteúdo da obra. Já no início, o autor se apresenta em trovas:
No meu nome tenho – Filho –
Bem antes ou muito atrás
Mas porém não muda a firma
- É Nascimento Morais!
Nascimento Morais Filho era jornalista, poeta e cronista e um dos expoentes do Modernismo no Maranhão, nascido em 15 de julho de 1922 e falecido em fevereiro de 2009, o autor de “Clamor da hora presente”, “Esfinge Azul”, “Azulejos”, “Esperando a missa do galo” e “Pé de Conversa”, nos deixa um verdadeiro legado e continuidade de sua história literária, pois Nascimento era filho do também e escritor José Nascimento Morais, autor de uma das mais célebres obras da literatura maranhense “Vencidos e Degenerados”.
E naquele encontro, ou pé de conversa, Natércia mostrou um pouco mais sobre a carreira literária do avô, deixando a plateia à vontade para também interagir com os causos ou trovas ora lidas por ela, ora pela plateia. E no fim, se transformou em uma divertida roda de conversa, onde cada um dos presentes recebeu um exemplar de “Pé de Conversa” oferecido pela filha do autor Loreley Moraes, sim “Moraes com e”, esse é mais um “causo” a ser contado, segundo a neta dele, Natércia, “ele registrou todos os filhos e netos com Moraes com “e”.
E o bom da vida é isso, poder ouvir “histórias” ou “estórias”? Contadas por pessoas que estiverem muito próximas desse enigmático contador e (en)cantador de trovas, por isso vamos encerrar por aqui este “Pé de Conversa”, mas não sem antes reproduzir mais uma trova:
A mulher é como a planta,
Quando começa a grelhar:
Nem bem se agarra num pobre,
- Começa logo a filhar!
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