*Mhario Lincoln
Quem trilhou, como Rita Delamari, o mesmo caminho entre a poesia e o serviço militar foi o Sargento Archibald MacLeish. A trajetória desse autor destaca a capacidade dos poetas, inclusive dos poetas militares, de transcender os limites de seu papel na sociedade, canalizando suas experiências em formas de expressão artística que ressoam na consciência coletiva. MHL
RITA E A HISTÓRIA
Rita Delamari é uma poeta que emociona. Tem uma escrita além da lírica quando aborda temas como amor e vida. Em seus versos, ela cria uma atmosfera intimista e, ao mesmo tempo, busca transmitir mensagens de esperança e otimismo aos seus leitores. Através de suas obras, como "Das pedras as flores" (Ed. Íthala, 2011), "Da janela do quarto" (Ed. Blanche, 2015) e "Contornos e contrastes" (Marianas Edições, 2018), Rita Delamari demonstra sua habilidade singular como poeta. Além de seus livros, a autora participou de diversas antologias, incluindo "Cronistas do Centro de Letras do Paraná", instituição que participa desde 2017, da Coleção Literária de Autores Paranaenses, 2018, "Histórias que vi, vivi e ouvi II" (Associação Literária Lapeana, 2019) e "Conexões Atlânticas IV" (Ed. In-Finita Lisboa-Portugal, 2019).
O reconhecimento do talento de Rita Delamari também veio por meio de prêmios e homenagens. Seu poema "Engrenagem" foi publicado em um livro que reúne os vencedores do Concurso Literário Fazenda Rio Grande-PR/2018, onde ela conquistou o primeiro lugar na categoria de poesia na comunidade. Em 2012, a autora recebeu uma homenagem na Câmara Municipal de Curitiba pela publicação de seu primeiro livro, "Das pedras as flores". Ela também foi homenageada durante a Missa de Ação de Graças pelos 162 anos da Polícia Militar do Paraná em 2016, com seu poema "Senhor dos meus dias" sendo musicado e executado pela Banda de Música da PMPR.
Os textos de Rita Delamari foram publicados em várias plataformas, como o "Recanto da Letras" no Facebook, nas revistas "Esfera Policial" (Soc. Subten e Sgt/PMPR) e "Eis Fluências" e agora na plataforma do Facetubes, que é referência nacional em Literatura, Arte e Música. Além disso, ela atua nos Coletivos "Marianas", "Oceânicas" e "Mulherio das Letras", ocupa a Cadeira de nº 41 da Academia Virtual Internacional de Poesias, Arte e Filosofia-AVIPAF, a convite da poeta e promotora cultural Isabel Furini, participa de recitais poéticos em Curitiba, mostrando seu engajamento ativo na cena artística da cidade.
Vale destacar, ainda, a interação entre a gloriosa Polícia Militar do Paraná e Rita Delamari, uma 1º Sargento poeta, que é uma testemunha fascinante da convergência entre as forças militares e a expressão artística. A experiência vivida por Rita como policial, onde atuou por 31 anos, aliada ao seu compromisso com as questões sociais que permeiam o cotidiano, resultou na criação de poesias poderosas e engajadas.
Um exemplo notável que me vem neste momento à cabeça e que trilhou o caminho entre a poesia e o serviço militar é o Sargento Archibald MacLeish. A trajetória desse autor destaca a capacidade dos poetas, inclusive dos poetas militares, de transcender os limites de seu papel na sociedade, canalizando suas experiências em formas de expressão artística que ressoam na consciência coletiva.
POEMAS
Entre seus mais novos poemas, destaco, por exemplo, o poema "Inspiração" (publicado abaixo), onde ela retrata a natureza ambígua e assustadora da inspiração e a descreve como algo que dá vida à poesia, mas também possui um aspecto sinistro e confuso. Nas dificuldades da vida, a inspiração pode trazer um alívio anestésico.
INSPIRAÇÃO
A inspiração
que vem dar vida à poesia,
é algo dúbio e medonho
Nas desventuras,
causa anestesia.
Chega em momento
mais improvável!
Até a realidade
para o sonho,
ela transporta!
E dá o suporte
para o imutável.
Ao brotar
deixe entrar,
abrindo sua porta!
No caso do poema "Contrastes", ela aborda a temática dos contrastes existentes na vida e nos relacionamentos humanos. A autora reflete sobre a coexistência do amor e do ódio, afirmando que eles se entrelaçam e caminham juntos, apesar de nem sempre serem percebidos dessa forma. O 'eu lírico' expressa a sensação de ter ignorado ou não ter percebido a presença do amor ao seu redor, destacando que, apesar disso, o amor é o elemento que verdadeiramente constrói e fortalece.
No entanto, o oposto, representado pelo ódio, impede que o 'eu lírico' enxergue essa realidade. O orgulho e a solidão, mencionados no poema, parecem ser fatores que contribuem para a falta de clareza emocional. O passado também é citado como algo que causa danos, corroendo as relações, enquanto o presente é manchado pela ganância e arrogância. Esses contrastes retratados no poema sugerem uma reflexão sobre a complexidade dos relacionamentos humanos, em que sentimentos antagônicos e atitudes negativas podem coexistir e prejudicar as experiências amorosas.
CONTRASTES
São tantos contrastes,
o amor e ódio se entrelaçam.
Acho sempre que andaram
lado a lado,
eu é que não enxergava...
Poderia deixar o amor
que mais alto me falava,
pois só ele constrói.
Mas o oposto não deixa enxergar,
pelo orgulho que deixou
no breu de nossa solidão.
O passado nos corrói,
e o nosso presente está
manchado pela ganância
de nossa arrogância!
Já no poema "Fortaleza", a primeira linha, "Em meio à selva, abdicou do medo, escolheu a presa!", evoca a imagem de alguém que está enfrentando um ambiente hostil, representado pela selva. A pessoa abdica do medo, mostrando coragem diante dos desafios que se apresentam. A expressão "escolheu a presa" pode ser interpretada como uma metáfora para a determinação em alcançar seus objetivos, agindo com astúcia e estratégia.
A segunda linha: "Carrega o escudo, o lobo é companheiro...", sugere a ideia de proteção e lealdade. O escudo simboliza a defesa contra os perigos e dificuldades encontrados na selva. O lobo, conhecido por sua natureza selvagem, é retratado como um companheiro, sugerindo que, apesar da ferocidade associada a ele, há uma parceria ou aliança estabelecida.
A terceira linha: "Deusa que vive a proteger os indefesos, fortaleza!", introduz a imagem de uma figura divina, uma deusa que protege os indefesos. Essa deusa é descrita como uma fortaleza, representando força e solidez. A ênfase na proteção dos indefesos reforça a ideia de que essa figura divina é uma guardiã e defensora dos mais vulneráveis. (Abaixo):
FORTALEZA
Em meio à selva,
abdicou do medo,
escolheu a presa!
Carrega o escudo,
o lobo é companheiro...
Deusa que vive
a proteger
os indefesos,
fortaleza!
Deusa lunar...
Não teme
o escuro!
Pelo caçador,
não mais
será abatida...
Guerreira da paz.
Agora, ela é
sua própria lança!
Assim, ao considerar o impacto da poesia de Rita Delamari no cotidiano artístico do Paraná, afirmo que ela segue a passos largos para um reconhecimento nacional ao trazer uma nova perspectiva poética para a comunidade literária brasileira, porque parece explorar em seus versos a dualidade da inspiração e sua capacidade de oferecer uma perspectiva positiva, mesmo diante das adversidades. Ela busca transmitir mensagens de esperança e otimismo aos seus leitores através de uma poesia intimista, versando sobre temas como o amor e a vida.
Parabéns, Rita Delamari
Curitiba-PR, 17.06.2023
Mhario Lincoln, presidente da Academia Poética Brasileira.