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De Joema Carvalho, “ A LENDA DA AURORA BOREAL”

Joema Carvalho é da Academia Poética Brasileira.

Mhario Lincoln
Por: Mhario Lincoln Fonte: Joema Carvalho
08/04/2025 às 14h44
De Joema Carvalho, “ A LENDA DA AURORA BOREAL”
A autora e sua obra. (ARt: MHL).

Joema Carvalho

 

(Este texto foi escrito a partir de lendas nórdicas: “Lendas sobre a aurora boreal” e “A pele de foca”)

 

Seguiu a raposa de fogo. Voltou ao mar com a sua pele de foca, que ficara guardada por anos. Ninguém muda a natureza. Sentiu saudades. 

Sua filha humana era capaz de nadar como peixe, tão rápida como o som. 

Seguiu as luzes. O caminho era de cor. 

No horizonte, o céu dançava no ritmo de todos os tons.

Voltou para ser cor. Ela era o movimento do verde que se encontrava com o lilás e com o outro extremo, vermelho. Era todas as cores.

No mundo dos espíritos, onde as luzes tocam o chão, ela era ela. Uma guerreira carregada pelas Valkírias para concluir o trabalho que lhe fora conferido. 

De uma união única, sua filha, corpo humano e comportamento de foca, sabia ler e escrever. Soltava grunhidos. Falava em silêncio com os animais. As plantas respondiam as suas emoções. Parecia muito com a sua mãe.

Ela, ainda criança, sentia falta dela.  Da presença, do abraço carinhoso e da proteção. Os cantos de sua mãe a fazia dormir. Jamais ia esquecer. Tinha uma inteligência maior. Sabia onde a mãe estava. Todas as noites saía para buscar as luzes do céu que brincavam com ela. Olhava para as suas mãozinhas, que a todo momento ficavam de uma cor. Através da brisa da noite, sentia o toque de sua mãe acariciando o seu rosto e fazendo cosquinha na sua nuca.

Ficava ali até o tempo deixar de existir. Terminava dando um mergulho na água. Não tinha problema com o clima e a água gelados do lugar.

A sua mãe lhe ensinou muito. A opção de partir na hora certa. Fechar o ciclo de sua natureza. 

Sua mãe fora intensa e presente. Ensinou que os desafios eram como os contrastes do croma. Existiam para serem superados. Vinham para testar a sua força. 

Ninguém controlava a dinâmica da natureza. Por isso, deveria observar. Entender como acontecia e seguir na mesma direção. 

Era pequena ainda. Andava na trilha, do mesmo jeito que andava na vila. Não se sentia só.

Sua mãe fora líder, uma das poucas mulheres dali. Veio do mar. Deixou de ser foca por amor. Ficara presa nas redes de onde não quis se libertar.

Entregou a sua pele a quem lhe soltou da rede e ele a guardou conforme lhe fora solicitado. Anos depois, quando ela a desejou de volta, ele a entregou. Permitiu que ela fosse, conforme a vontade dela. Quem ama liberta.

Ela optou por ensinar para a filha seguir o rumo de sua realização. Cumprir seu objetivo. 

Manteve a conexão com a mãe até quando foi a sua vez de brilhar colorido no céu. Também deixou uma menininha com um pouco de mais idade que ela, quando sua mãe partiu. 

A pele de foca passou por várias gerações.

Quando uma mulher tem brilho nos olhos é dito que ela tem uma raposa de fogo que a guia dentro do seu corpo. Ninguém a segura na busca da realização dos seus sonhos. 

Esse brilho nos olhos não se apaga com a idade e nem se faz com maquiagem. Vem de dentro, da raposa de fogo, e mantém as cores em movimento.

 

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(Texto publicado no segundo livro da autora Crônicas de Uma Jornada Florestal, editado pela Caravana Grupo Editorial em 2024)

Minibiografia

Escritora e engenheira florestal, membro da Academia Poética Brasileira e colunista do Facetubes. Autora: Luas & Hormônios (2010/2020) e Crônicas de Uma Jornada Florestal (2024). Coautora: Entre Botânicas Decoloniais: As frutas silvestres de H.D. Throreau e frutas brasileiras (022). Organizadora/autora: coletânea Tuíra (2020/2022).

 

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Joema CarvalhoHá 1 semana CuritibaObrigada Jaime! Abraço!
JaimeHá 2 semanas BSB/DFA ACADÉMICA ACIMA, SEMPRE PRIMA, PELA PRODUÇÃO DE SEUS MAGNIFICOS TEXTOS. PARABÉNS!!!
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