Renata Barcellos (BarcellArtes)
Todos sonham com uma vida bucólica. Lembram-se das aulas de Literaturas? O que os árcades idealizavam e ou com “Passárgada” como Bandeira. Mas poucos (re)conhecem o quão árduo é o quotidiano no campo. Quase não há pessoas qualificadas para prestar os diversos serviços (desde o mais simples: trocar um cano até vacinar o gado).
Quem vive na zona rural e tem propriedade (criação de animal e ou plantação) tem trabalho e preocupação 24 horas. Se é cultivo, sol, chuva, erva daninha, invasão de animal, colheita, mão de obra...; já, com animais, alimentação, água, remédios, vacinação.... Só quem lida no campo sabe o que passa dia após dia. Cada um é desafio sem fim. A pergunta que não cala: “será que vai chover?
Apreciar a propriedade, a paisagem, ar puro, cantar dos pássaros, animais livres... é, de fato, encantador, inspirador... Um sonho viver longe da poluição, da violência gratuita. A PAZ é impagável. A qualidade de vida mais ainda. Uma rede na varanda, aquele suco natural, produtos sem agrotóxico ... Saúde garantida! E, para o escritor e ou pesquisador, tempo e inspiração na certa.
O outro lado não são flores e sim espinhos mil. O lidar com trabalhador para as diversas atividades (vacinação, capina, cerca...), com os animais ou plantações é desafiador. O cuidado quotidiano da propriedade é um gasto sem fim. E o retorno... todos veem o quão os produtos são caros no comércio, mas não sabem o quanto repassam para o produtor e ou criador: irrisório. Para quem está na labuta troca dinheiro se for microempresário. Para pequeno criador ou produtor, o gasto é grande com medicação e o cuidar da terra. É um desgaste físico e emocional “impagável”. Essa é a causa das pessoas da zona rural aparentarem mais idade. A preocupação envelhece. São mais espinhos que flores.
Vivemos na Era digital, com uma geração conectada 24 horas. Quem se interessa em lidar com terras, plantações, criação...? No caso de grandes empresários, realizam inseminação ... têm trator e outros equipamentos com tecnologia de última geração, hoje, até Dronner ... Já a realidade do pequeno criador ou dono de plantação é outra (completamente) distinta. É ele próprio quem lida com tudo. Seus equipamentos são bem rudimentares. Ganha mal para sobreviver. Se fica doente, não tem quem faça por ele. Muitas vezes, não paga autonomia. Não há como pagar diária e ou manter um funcionário de carteira assinada. Os encargos são demasiados.
Para quem lida no campo, há a aposentadoria rural. Trata-se de um benefício previdenciário destinado aos trabalhadores que exerceram atividades laborais no campo: pescadores artesãos, garimpeiros e produtores rurais. Segundo a legislação vigente, há 3 tipos: por idade, por idade híbrida e por tempo de contribuição. Quem quiser se informar: https://www.gov.br/pt-br/servicos/solicitar-aposentadoria-por-idade-para-trabalhador-rural.
A partir desse breve relato, ao entrar em um supermercado, sacolão, lembre-se do quanto é custoso para o produtor. Valorize o trabalho de quem cultiva e cria. Se não houver quem realize estas funções rudes, braçais... a humanidade não sobrevirá. Dependemos de ar, água, sol, chuva de forma equilibrada. Hoje, estamos no meio de uma total desestrutura climática, ambiental. A natureza está reagindo. Exemplo, a tragédia no Sul do país.
O problema é a ganância do homem. Isso está desestruturando o ecossistema. Assim, ameaçando o futuro da humanidade. Segundo pesquisas, como o do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o número de dias com ondas de calor passou de 7 para 52 em 30 anos, no Brasil. A previsão é de que, entre 2030 e 2035, o mundo viverá os primeiros anos com temperaturas acima de 1,5 grau Celsius, em relação à Era Pré-Industrial. Já a OMS prevê que, em 2040, haverá um aumento de 130% de casos de câncer devido a fatores diversos: exposição ao sol, comida processada....
Entre outras consequências, a fome é e será um problema mundial. E a sede será também. De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do IBGE, no último trimestre de 2023, no Brasil, ao menos 21,6 milhões de domicílios (27,6%) estavam em situação de insegurança alimentar. Desses, 3,2 milhões em estado grave, ou seja, com fome. Quanto às crianças de 0 a 4 anos, 62,5% estavam em segurança alimentar. A merenda oferecida pelas escolas é fundamental para aqueles na Educação Básica em situação de fome. A gestão de cada instituição escolar e o secretário de Educação precisam ser conscientes. Recentemente, acompanhamos a situação de um município da Baixada do Rio de Janeiro. DESUMANO!!! Crianças famintas sem alimentação. Como assimilar conteúdos? Deveria retornar as aulas de Educação agrícola, para que crianças e jovens possam se conscientizar quanto à preservação do meio ambiente. O quão trabalhoso é o cultivo das frutas, legumes e verduras e a criação de animais.
Vale ressaltar que os indígenas viveram na Amazônia por 5 mil anos sem destruir o bioma, como apontam estudos. Há décadas eles veem alertando quando às consequências drásticas e sem retorno que as ações têm provocado negativamente na natureza. Concluiremos com uma reflexão de Porakê Munduruku:
“A dicotomia entre natureza e humanidade não faz sentido em uma perspectiva originária. Não há humanidade sem natureza e enquanto existirmos não haverá natureza sem interferência humana. Por séculos se retratou a Amazônia como uma região selvagem e hostil à presença humana. Selvagem para quem? Hostil para quem, cara pálida? Hoje se acumulam evidências científicas de que a região foi, desde tempos imemoriais, um imenso sistema agroflorestal cultivado por nossos ancestrais ao longo de milênios. Falar de preservação ambiental sem tratar da proteção dos povos da floresta não passa de hipocrisia. Antes que tombem a floresta é necessário fazer tombar seus defensores. Cada tragédia ambiental estampada na mídia foi, e ainda é, precedida por uma tragédia humanitária com a violação e o genocídio de povos que vivem ali. Não existe floresta em pé, sem manter de pé, de forma digna, seus defensores - indígenas, quilombolas, pescadores artesanais, extrativistas tradicionais, pequenos agricultores. Há quem diga que 'os seres humanos são um vírus adoecendo o planeta'. Vírus quem, cara-pálida? Nós cultivamos esse planeta! Somos natureza! Embora a natureza seja muito mais do que nós. Ela estava aqui muito antes e seguirá muito depois que tivermos desaparecido. Pois a parte não é o todo. E o todo é mais do que a soma das partes. Nossa luta é pela sobrevivência da espécie humana, a natureza não precisa de nós, mais do que nós precisamos dela”.
Pensemos em nossas ações e em suas consequências no meio ambiente!!! Reeducação ambiental é preciso!!!! Caso contrário, em um futuro próximo, haverá a extinção da humanidade.
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