MAGELA PRECISAVA VOAR
*Mhario Lincoln
Eu não acredito na Morte, enquanto chama e plasma, enquanto Luz Eterna. Não acredito na Morte quando um anjo se deixa adormecer na imensidão de seus atos lógicos e quânticos, recebendo dos Céus a grande oportunidade de voltar à origem.
Para os Anjos, como Geraldo Magela, a Morte é mera passagem. Sócrates ensinava naquela época: "(...) a morte é precisamente uma mudança de existência e, para a alma, uma migração deste lugar para outro". Como digo: Magela voltou a sentar numa grande mesa da Plêiade dos Bons.
É duro acreditar. Mas a morte, renova a Vida. Transmuda a Vida. Faz crescer. Emudece o diálogo. Nunca a voz. Encontraremos Magela em cada tijolo que compõe a fachada da Feira do Poeta. Descobrir-se-á Magela nas cercanias da Arena da Baixada, homenagem do artista André de Souza ao eterno incentivador da poesia. Um presente a Curitiba. Está lá, em um muro, bem à vista de todos: “Pinheiro, Pinhão, Curitiba, Araucária, Semente do Coração”. (Leia essa reportagem completa em: https://www.facetubes.com.br/noticia/1322/curitiba-mais-uma-homenagem-merecida-ao-poeta-e-agitador-cultural-geraldo-magela)
Ver-se-á Magela em todos os momentos. Até mesmo no silêncio do Largo do Ordem, nas madrugadas chuvosas e frias. Ruben Alves em sua crônica “A Morte e o Silêncio”, ensina que esse silêncio reverencia de forma mais autêntica a saudade, do que palavras vazias ou intencionais, como se essas (as palavras) pudessem cobrir o vazio físico deixado pela pessoa amada.
Geraldo Magela sempre será aquele candeeiro acesso à porta da lírica. Da aventura. Do contraditório. Do solícito. Geraldo Magela será sempre aquela centelha que iluminará o verso na plenitude de sua controvérsia. Será o relâmpago que anuncia chuvas de prazer e afeto. Em cada esquina, onde tiver um ser humano abandonado, ali estará a mão de Geraldo, tentando levantá-lo, como o fez inúmeras vezes, em vida terráquea.
Não acredito na Morte dos Anjos. Nem Jesus acreditava. Em João 11:25-26 Ele disse: “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; e todo aquele que vive e crê em mim nunca morrerá...”.
Abaixo, a última entrevista de um grande amigo comum, Olinto Simões, com Geraldo Magela. Guardei por ser um tesouro incalculável. Vamos compartilhar essas memórias. Isso nos deixa mais perto da grandiosa passagem de ambos por nossas alegrias, nossas dores, nossos momentos tão especiais, quanto a nossa quietude insofismável diante da grandeza de Deus.
Obs: assistir a esse documentário de pouco mais de 18 minutos, me fez resumir toda a luta de Geraldo Magela (mesmo doente e com alguma dificuldade de locomoção) em prol da literatura e das artes curitibanas, feitas por pessoas “fora da grande mídia” e especialmente por ele descobertas na periferia da cidade, cujo talento (desses novos artistas) “flameja incessantemente”, como ele por várias vezes me disse. Ao final das gravações, em bastidores, arregalo-me quando ele me confessou que havia feito novos exames cardíacos e que não estava muito bem naquele dia. Eu falei para ele:" ... vc vive num trapézio. Ao menor erro vc vai ao chão. Como vc consegue esse equilíbrio?".
Bom assistir. Obrigado.
MAGELA: ÚLTIMA ENTREVISTA CONCEDIDA A OLINTO SIMÕES
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