Quinta-feira, 25 de agosto de 2024, que fique registrado na memória de todos essa data sublime para a cultura maranhense. Ah, é o Dia do Escritor. Não é só por isso, mas e principalmente porque foi uma noite memorável para a Cidade dos Azulejos, Cidade dos Grandes Poetas da literatura maranhense e brasileira. Noite que fez buscar em nossa memória, os grandes festivais de poesia falada que ocorria nas ruas e becos do Centro Histórico, ou que ecoava nos muros acadêmicos onde ocorriam também os festivais. O certo é que, houve um tempo de outrora, que São Luís respirava e exalava poesia nos idos dos anos 90.

 

E na noite de quinta-feira, fomos tomados pelo verdadeiro sentido da poesia e da literatura, com I CONCURSO DE POESIA DA SOBRAMES/MA, entidade acadêmica formada por médicos e escritores. Com o intuito de estimular a criação poética, o concurso proporcionou aos inscritos a possibilidade de enviar seu texto (poema) para a referida instituição, no qual seriam premiados os três primeiros colocados com o Troféu Sabiá Ouro, Prata e Bronze. A Comissão Julgadora foi formada por dois poetas e um professor de Língua Portuguesa. 

 

A Comissão organizadora do evento, formada pelo presidente da SOBRAMES/MA, o Dr Raimundo Barbosa Ribeiro e pelo Escritor e Dr. Rafael de Oliveira,  juntamente com a comissão de  jurados, formada pela escritora e defensora pública Lindevânia Martins, pelo escritor e professor Dr. José Neres e pelo escritor e médico Dr. Jáder Cavalcante classificou 15 poemas, dos quais tivemos como vencedores:  em  O 3° lugar ficou com o poema UMA CARTA DE CIGANA NO ALFORGE DO MEU AVÔ do poeta Paulo Rodrigues, em  2º lugar ficou com o poema PALAVRAS AO TEMPO do poeta Natan Campos e o grande vencedor da noite foi o poema CÉU UTÓPICO PARA UMA FAMÍLIA AMARELA do poeta Antônio Aílton. Todos os 15 poemas classificados levaram para casa além da premiação máxima, todos foram agraciados com certificados de participação e estarão na composição da edição de um livro com seus poemas.

 

O Teatro da Cidade foi palco para o Recital com as 15 poesias classificadas no concurso. A comissão deu a liberdade para que os autores - se assim o quisessem - apresentassem seus poemas,  alguns, convidaram artistas (entre atores e atrizes) que subiram ao palco do teatro e performaram os textos, dando ainda mais um ar de grandes festivais.

 

Para encerrar a noite, a SOBRAMES prestou homenagem ao escritor Nauro Machado (In Memorian) e a escritora Arlete Nogueira da Cruz (esposa de Nauro), com um breve recital poesias, apresentado pelo ator Izaque Botelho e a médica Dra. Maria Valdineia. 

 

Será que voltamos aos grandes Festivais de Poesias? Não podemos ter uma resposta certeira, mas com certeza a noite do Dia do Escritor de 2024 ficará na nossa memória com uma das melhores noites para poesia e para a literatura maranhense, que tanta luta e para se firmar nesse mundo cibernético e contemporâneo. Segue abaixo o poema que foi o grande vencedor do I Concurso de Poesia da SOBRAMES/MA, do poeta Antônio Aílton:

 

 

CÉU UTÓPICO PARA FAMÍLIA AMARELA

 

 família, pano de parteiras 

e toalha de mesa 

rasgada, és a única que carrego 

na ausência da mãe 

 

estranho os sobrenomes em árvore 

que os formulários de carreira exigem 

para sondarem meu pedigree 

se sou joão-de-barro 

                   ou se sou joão-ninguém

 

 pedem-me isto e aquilo 

e vendem-me um apartamento micro:

 que eu não seja prolífico em filhos 

nem transgrida os quadrados 

que eu seja dado — a prazo 

como quem confere paraísos ao relento

 

 margens de um horizonte pré-determinado 

tudo quanto flui seja morno e destroçado

 que, segundo sua panóptica,

 não tenham portos os postes da noite

 

 no mais, insistem que eu banque 

o previamente imputado 

amanheça inseto transformado

 e esconda em algum lugar de mim

 meus sonhos, minhas 

libertinagens 

que meu chip de compras 

seja um título rastreado on-line

 a escorraçar meu abraço de ciborgue

 que eu faça ponto em sua zona 

de conforto — depois de esbanjar afeto 

num velho comercial de televisão 

 

dois cliques e nos colocam na moldura

 para estarmos lá, pendurados 

em um banco amarelo

 família, cifrão cortado 

trago por meu signo o teu riso congelado

 

 folder, 

utópica flâmula tremulando

 aos poucos minha casa se retira

 nas beiradas que prenunciam a distância.

--------------------------